segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Sangue do seu sangue... CAP. III

Cold Feeling do Social Distortion... a trilha perfeita pra Barbosa.

Se estivesse tocando esse som no seu carro quando estava
voltando ao lugar em que tudo começou... talvez mudaria
de idéia. Procuraria a morte num outro momento.

CAPÍTULO III

Soldado Peixoto: “após matar o Bola de Neve fugi. Levei teu irmão comigo na tentativa de salvar alguém da nossa família. Desci a Serra do Mar, morei na beira do Rio Morretes esse tempo todo, trabalhei num camping e lá tentei educar teu irmão. Sua mãe é o diabo em pessoa, uma bruxa. Ela não saía dos meus sonhos – ou você acha que eu faria isso por gosto (mostrou marcas de autoflagelo, marcas horríveis) – droga moleque, ela não saía dos meus sonhos. Não era pra você ver Bola de Neve, não era pra você saber”.

- Saber o que? Por que você o matou?

“Bola de Neve fodia com sua mãe, era seu amante, não sei qual era a maldita ligação dos dois. Sua mãe domina qualquer um, ela é uma bruxa. Ela está atrás da gente! Na época, quando descobri a traição dela, fiquei puto... com muita raiva do desgraçado. Fui cobrar dele nossa amizade, mas não queria matá-lo.

Ele já era... mas entendi depois o que aconteceu. Não fui eu quem o matou, sua mãe me guiou até ele. Investiguei-a, ela havia planejado tudo... roubara uns pertences da casa dele e sabia das falcatruas do Bola de Neve. Ele iria matá-la.

Droga filho, eu era um bom policial, tinha o mesmo dom que você. Lógico, nunca me vangloriei disso, nunca quis aparecer... já você! Você é um idiota... quanto mais aparecia, mais dinheiro poderia ter ganho, porém seu lado Peixoto o deixava nas ruas e o seu lado “bruxa maldita” continuava procurando glamour.

Era pra você ser a galinha dos ovos de ouro da sua mãe. Enquanto isso não acontecia, quem sustentava os caprichos da desgraçada era seu irmão, traficantezinho de merda. Por que você acha que seu irmão foi até você? Era pra te matar. A bruxa da sua mãe o guiou. O que ela não contava era com o meu sangue novamente na jogada. Ele não agüentou a pressão, o crack foi sua fuga... seu irmão se matou pra não te matar!”.

- Mentira! Seu desgraçado mentiroso – foi pra cima do Peixoto, mas esse o segurou pelo pescoço.

“Eu poderia te matar agora mesmo Edinho, mas não posso. Você precisa fazer algo por mim”.

-Você está louco...

“Em breve sua mãe virá... no corpo de outro... provavelmente do seu irmão. Você não o conhece... não sabe quem é seu inimigo, mas não é difícil você perceber quem ele é... pois vocês são muito parecidos fisicamente”.

- Por que você matou aquele homem no boteco?

“Droga moleque... não fui eu... foi sua mãe! Era pra ser você. Não se lembra que estava sentado preocupado consigo mesmo, saquei a arma, mas você é um cara de sorte... apareceu um idiota no caminho, achou que apontava pra ele, pois esse saia do banheiro bem na hora e ficou na linha de fogo. O babaca veio pra cima, ela o matou pra se defender, mas era pra você o tiro. Depois de tudo, só recuperei o controle de mim aqui na cadeia... lembro do que aconteceu, mas não me responsabilizo quando é ela que está no comando.

Presta atenção! Seu irmão virá, vai te pegar, vai me pegar, ele é a sua cara, vocês têm apenas meses de diferença, se ele estiver com uma farda... ele passa por você. São muito parecidos. É bom estarmos preparados, a bruxa não vai falhar mais”.

- Quem matou minha mãe? – gritou Barbosa.

“Você não entendeu porra nenhuma não é? Ela perdeu a esperança contigo seu idiota. Vai partir pra outra. Você não serve mais. Não quer enriquecer. Ela não é algo físico seu estúpido. A faca no pescoço foi à libertação pra ela... logo ela estará em outra família... se ela não se matasse... eu a mataria com minhas próprias mãos.

Eu vim pra matá-la... seu irmão fugiu de mim. Quando ela me possuiu, eu tentei matá-lo. Ele é esperto... o preparei pra isso, porém agora não está no meu controle, achava que sua mãe não era tão poderosa. O negócio vai ficar entre vocês dois, você e sua mãe”.

- Como eu faço pra matar ela?
- A conversinha acabou – disse o carcereiro, encerrando o diálogo.
-Me diga? – questionou Soldado Barbosa.
- Não posso!
- Como não pode! – sendo empurrado pra fora da cela – como não pode! – gritou.
- Vamos porra... sai fora Barbosa – empurrou o carcereiro... bem mais forte fisicamente.
- Fale seu desgraçado filha da puta! – gritou Barbosa.

O agente empurrou o PM pra fora. O Delegado chegou, devolveu a Barbosa o direito de voltar às ruas. “Vai trabalhar!” – ordenou o Delegado... “não apareça aqui sem nada pra mim Soldado. Cuide-se nas ruas... bom retorno” – disse irônico o Delegado.

...

No carro Soldado Barbosa percorria Curitiba. Pensou em o que fazer? Se tudo aquilo fosse verdade! Foi pra CIC, seu território. Pelo menos saberia onde estava pisando. Pelas ruas percorreu becos, todos os buracos, mas nenhum movimento. A calmaria assustava o policial, parecia coisa de outro mundo aquela ausência de movimento. Parecia que as pessoas haviam decidido se esconder.

O rádio da polícia o chama pra voltar. “Não responda minhas ordens porra!” – gritou o Delegado. “Meu chefe chamando pelo rádio! Droga!” – pensou em seu pai, naquela altura já acreditara que Peixoto era realmente seu pai.

Peixoto havia sido queimado. “Foi ele, foi ele” – gritava o carcereiro. “Não posso te prender porque eu mesmo mandei você sair daqui, mas ele jura que viu você voltar pra conversar com Peixoto. Como você explica essa porra? O que está acontecendo?” – gritou o Delegado.

- Eu estava na CIC, não matei ninguém...
- Eu vi você... seu desgraçado – disse o funcionário.
- Foi meu irmão – afirmou Barbosa.
- Como é que é? Desde quando você tem irmão porra? Seu irmão era um pedreiro e está morto... – disse o Delegado se referindo ao irmão viciado em crack.
- Tenho outro que Peixoto seqüestrou e está de volta...

Ficou um silêncio. Os policiais se olharam. Ninguém estava entendendo. O corpo de Peixoto estava torrado. Barbosa chegou, encostou na mão toda queimada, viu aquela imagem horrível. Ora sua face toda cortada e cheia de sangue, ora o rosto da sua mãe gargalhando como uma velha bruxa. Ele se arrepiou, sentou. Aquele filme nunca havia vindo com tanta força... chegou a sugar suas energias.

- Preciso ir pra casa. Preciso ir pra casa – e saiu correndo, entrou na viatura e voltou pra CIC.

Estava anoitecendo, fechou a casa e sentou na cozinha. Abriu a cachaça que sua mãe bebia. Tomou um gole no gargalo, mais um... “venha sua bruxa maldita” – disse pra si. Mais um gole no gargalo... “venha sua bruxa”.

Levantou e foi até a sala. “Venha!” – gritou. Tomou mais um gole de cachaça. Sentou no sofá. Já havia bebido meia garrafa. O gole fazia efeito e ele mandava pra dentro. Acendeu um cigarro... “venha... venha” – e adormeceu com quase uma garrafa de cachaça na mente.

Acordou num susto... sua mãe voava sobre a casa, lançando bolas de fogo sobre o telhado. Percebeu que era um pesadelo, porém olhou ao seu redor e viu sua casa pegando fogo. “Droga... que porra é essa!” – correu contra o fogo em direção a janela principal da sala e pulou... a quebrou, caiu em frente a casa, num monte de areia que estava lá pra terminar a calçada. “Droga” – olhou sua casa em chamas, seus vizinhos viram à fumaça e foram ver... não havia o que fazer.

Entrou na viatura, não deu atenção a ninguém, saiu em direção ao nada. Muito rápido, na madrugada. Teve um flash da primeira vez que viu a morte. Foi pro lugar onde tudo começou, deixou o carro no campo de futebol aonde os adolescentes jogavam bola, foi caminhando até a viela perto dos trilhos... lugar em que Bola de Neve havia sido morto por Peixoto.

Não está preparado pro confronto final.