quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A vida e seus leilões



Larroy é um amigo gente fina e tudo mais, mas... tem dias que ele vem com cada uma. Esses dias estávamos num bar, eu falava que faria uma matéria sobre um leilão de artes, em que fotos de novos artistas estavam sendo valorizadas. Sabe como é né... levei a conversa porque ele também gosta de arte, fotografia e etc e tal...

Mas aí ele já foi além: “pô cara... tem uns leilões por aí que não dá pra acreditar” – “como assim cara?” – “sei lá... tem uns que leiloam esperma de boi sabe! E o preço é muito mais caro que essas fotos aí que você me disse!”. Pior que ele tem razão, mas quer que eu faça o que? Ele continuou: “valem mais que a nossa vida também! Que a minha, a sua, de todas aqui nesse bar!” – “é verdade cara” – “já parou pra pensar que um esperma de boi, vale mais que o seu?” – “porra!”.

...

Já estava mais deprê depois dessa conversa. O cara vem com umas verdades que eu fico surpreso. Sabe como é... nada como a realidade pra te dar uns toques quando você está desatento. Como havia puxado o assunto dos leilões, o que poderia fazer? Deixei rolar a conversa. Já havíamos saído do papo dos espermas e estávamos no cotidiano.

“Estou meio preocupado cara” – “com o que?” – “você falou desses leilões aí, comecei a pensar que nossa vida está virada num lance, sabe como é?”. Tudo bem que o tema é ‘interessante’, mas não precisávamos chegar ao extremo. “Esses dias saí de Cascavel em direção a Palotina, na estrada dupla, ali perto de Toledo, uma mulher foi fazer o retorno (estava sentido Toledo/Cascavel) e não viu uma moto que acabava de me ultrapassar. Meu amigo! A moto deu no meio do carro e o motoqueiro voou uns vinte metros!” – “Nossa cara! E você?” – “Eu consegui desviar do carro que ficou parado no meio da pista, passei entre o carro e a moto, mas assim mesmo estraguei meu eixo e meu carro foi pro guincho” – “Que coisa ein!”.

Onde ele estava querendo chegar com isso tudo? A vida é um leilão, os lances e coisa e tal! – “Você percebeu o que estou querendo dizer?” (mandou mais um gole de cerveja) – “quer dizer que está bêbado” – “também cara, mas não é só isso... a vida também pode ser um porre, mas estamos falando de leilões. Então eu concluí o que com esse fato? Que a sorte deu seu lance” – “Então é isso?”.

...

A pior coisa de um filósofo de boteco é a conclusão... eles sempre dão voltas e não chegam a lugar algum. Esperava mais dessa embromação toda. Algo do tipo: “A culpada do acidente não se machucou, porque seu lance foi mais alto no sorteio da vida!” – ou – “o motoqueiro ganhou a sorte num leilão!” – até poderia ser – “quem se envolve como terceiro, pagou por um aviso!” – sei lá!

Mas não posso deixar de valorizar Larroy... meu amigo levanta temas que ele vivencia, isso já é ponto pra ele. Uns dizem o que veem, outros dizem o que ouvem e tem uns que dizem o que sentem. Se você estivesse num leilão, daria o lance mais alto pra qual dessas alternativas?