terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A iluminada história do capitalista fusca nazi hippie


CAPÍTULO II



Meus filhos ainda moram comigo, não porque eu quero, mas por opção deles. Minha casa é gigantesca, há dias em que não os vejo. E nos últimos dias faço questão de quase não sair do quarto. Minha filha aparece com mais frequência e faz perguntas relacionadas a minha saúde. Já meu filho... esse sim... é um problema. Faz indagações relacionadas ao passado. Quer saber sobre sua mãe, sobre a morte da Luz! – “Esse pentelho não sabe como eu sofro só de pensar nela! Esse fedelho já é um homem e se comporta igual um príncipe folgado. Maldito dinheiro!”.

Eu já não sei mais as horas. Claro é dia... escuro, anoiteceu. A luz do quarto está sempre ligada. Alguns livros ao meu redor, mas é tudo disfarce. Só o passado importa. Deu tudo tão certo que não deveria estar aqui... trancado... mas depois de estar frente a frente com esse maldito objeto, não consigo descansar. O coloquei na mesa bem em frente a cama, pra observá-lo. Esse símbolo hippie, esse porta moedas... me leva a outro mundo!

É quando seu amarelo fica mais amarelo... quando ele se torna uma fonte de luz e me transporta ao passado.

...

Em São Francisco morava numa comunidade hippie. Era um lugar maravilhoso. Fumávamos maconha, tomávamos LSD e transávamos sem parar. Era tudo sem pudor, mas ao mesmo tempo ‘muito’ respeitoso.

Havia eu e mais um amigo. Tínhamos algumas ideias evoluídas, ideias revolucionárias... principalmente depois de estarmos ao lado de Charles Manson algumas vezes.

No acampamento havia um bosque, não sei quantos quilômetros quadrados existia naquela área verde, linda! Numa manhã alucinada, eu e meu amigo resolvemos entrar no mato. Após horas de caminhada, paramos embaixo duma árvore pra descansar. Percebi que o ambiente, o espaço entre uma árvore e outra, era perfeito pra fazer uma espécie de ‘sala de reunião’ particular.

Marcamos o caminho de volta, mantivemos segredo sobre nosso ‘esconderijo’. Ainda não sabíamos a finalidade daquele achado.

No acampamento sempre chegava mais gente. Mochileiros que tinham no ‘paz e amor’ uma filosofia de vida. Não que não fosse, mas eu e meu amigo não estávamos em sintonia com aquilo.

Acreditávamos sentir uma descoberta. Esperávamos a hora do instinto chamar.

Numa tarde qualquer um amigo hell angel apareceu. Perguntamos a ele se não tinha umas menininhas pra fazer uma festa diferente. Ele gostou da ideia e acelerou sua moto. Voltou com uma mulher na sua máquina e mais duas em cima de outra motocicleta. 

O encontro foi longe da comunidade. Outros membros podiam deduzir algo como traição, não confiança nos demais (fazer uma festa as escondidas era traição). Mesmo eles não tendo a mínima noção do tipo de brincadeira que preparávamos.

Escondemos as motos no mato. Explicamos que teríamos que caminhar um pouco. Todos com LSD na cabeça. Na minha mochila uma machadinha bem afiada, mais um facão, algumas cordas e sacos. Na mochila do meu amigo uma machadinha bem afiada, mais um facão, algumas cordas e sacos.

Chegamos ao lugar e o casal de hell angels já foi tirando a roupa. Nós fizemos o mesmo. Transamos comunitariamente durante horas.

Para alguns a luz ou a natureza e tudo que ela oferece, junto com belas mulheres, é o paraíso. Porém pra nós faltava o ritual de encerramento. Algo diferente do que sempre nos foi oferecido. A claridade enfraqueceu e quando morreu, num piscar de olhos, tornei-me outra pessoa.

Meu amigo levou duas das moças pra um canto mais distante. Uma das mulheres estava com o motoqueiro. Fingi dormir. Quando não deram por minha presença, discretamente peguei a machadinha e o facão.... aquela sensação primitiva apoderou-se... algo que nunca havia sentido antes... aquilo gradativamente aumentou e me tornei um caçador carnívoro e faminto. Não existia mais regra. Tudo que nos moldava deixou de existir naquele momento. Apenas sensações primitivas vieram à tona.

E como um cão ao receber o chamado da floresta, com um golpe de machadinha cortei a garganta do hell angel. Uma única passada, com aquela lâmina afiada – foi como cortar papel. E mais suave que isso foi quando a moça entendeu o que fiz! Ela percebeu que era tarde... deu tempo dos seus olhos se encherem de lágrimas e, ao tentar engolir pela última vez sua saliva, com leveza...  deixei o fio do facão agir suavemente em seu pescoço... ela se foi.   

Após isso fui atrás da outra festinha. Meu amigo já havia começado. Estrangulou uma das garotas e o vi se preparar para estrangular a outra. Parti pra cima deles e num ato cênico – com um salto de antecipação ao movimento alheio, aliado num emaranhado de sensações extremas, passei o facão nela.

Comemoramos com muita carne e ‘vinho’. Não parecia outro mundo, era outro mundo. Um mundo selvagem e de sensação egoísta.  

Agora o aflorar selvagem suspira, pois uma porta realmente se abriu. E esses foram os primeiros passos.