terça-feira, 4 de agosto de 2015

Se os homens podem, eu também posso!



Duas coisas:

1ª: quando fiquei sabendo que as meninas da L7 estavam de volta aos palcos, logo lembrei... “tenho que pelo menos falar de algumas bandas femininas da década de 90!”.   

2ª: quando lembrei de Joan Jett e das The Runaways para falar de música e mulheres no rock, recebi a informação através da grande mídia que Jackie Fox, ex-Runaways, disse que foi estuprada por empresário da banda. “Certeza, tenho que falar das mulheres no rock, mas sobre algo mais raivoso”.

Por isso, antes de qualquer coisa, digo que essa coluna tem em seus hiperlinks algumas dicas musicais para as mulheres conhecerem guerreiras que se armaram de guitarra, baixo e bateria; além dos mic´s no volume máximo; e mostraram para os “roqueirões malvadões” como é que se faz...

...

Eu ainda não fiquei de joelhos em frente a Mia. Não levantei e fui embora do “Cave Hill Cemetery”, em Louisville, EUA; depois de deixar uma lembrança em seu túmulo; eu, sinceramente, não fiz isso... mas gostaria.  

Mia Zapata caminhava na madrugada do dia 07 de julho de 1993 pela cidade de Seattle. Nesta data ela foi estuprada e morta. Dizem que Mia ouvia música em seu walkman, devido a isso não percebeu o assassino se aproximar.

Em 2003 o assassino finalmente foi preso e condenado: 36 anos de prisão.

Por que falo de Mia? Ela foi a voz da banda The Gits. Não consigo imaginar como seria se Mia Zapata ainda estivesse na ativa com sua banda, cantando na cena musical de Seattle ou pelo mundo.  

Não basta apenas reverenciar The Gits, assim como as meninas da 7 Year Bitch, banda que lançou seu segundo álbum (1994) chamado “Viva Zapata”, em homenagem, logicamente a Mia. As mulheres do punk rock nesse período eram além de unidas e engajadas; destemidas...  

As meninas do 7 Year Bitch, por exemplo, estavam diretamente envolvidas com uma organização pacifista chamada Home Alive. Fizeram shows beneficentes para a organização Rock Against Domestic Violence ao lado das meninas da Babes in Toyland.

A atitude continuou.

Quando as meninas do L7 chegaram metendo os dois pés na porta, a música não era o teto, elas tinham o que falar; e não foi a toa que suas integrantes criaram a organização Rock for Choice, que produzia eventos beneficentes a favor do aborto.

Mas foi no começo dos anos 90, quando a Allison Wolfe, do Bratmobile, criou um zine chamado Riot Grrrl, que muita coisa mudou. Ali, não havia apenas oposição ao machismo impregnado na sociedade. Havia duras e verdadeiras críticas aos “roqueirões” de plantão; os mesmos que diziam: “garotas não sabem tocar guitarra”, ou bobagens do gênero.

Então elas disseram: “se os homens podem, eu também posso!”.

As riot grrrls tiveram popularidade principalmente com a banda Bikini Kill e sua vocalista Kathleen Hanna. Nos shows da banda, elas chamavam as mulheres para frente do palco e entregavam as letras das suas músicas e exemplares dos zines. Priorizavam, da maneira mais transparente e sincera possível, as mulheres.

Também no Brasil há diversos nomes, o principal exemplo é a banda de hardcore feminista Dominatrix que está na ativa desde 1995, com shows e debates sobre feminismo, direito das minorias e grupos marginalizados.

Viva Mia Zapata! Viva o rock contra o machismo.


*Texto originalmente publicado no site Terra Sem Males