segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A viagem de Germano

 
 
  
  
  
  
 



“Cara, você já pensou em fazer um intercâmbio?” – me perguntou um amigo, enquanto caminhávamos pela Avenida Cândido de Abreu, no Centro Cívico de Curitiba. “Não, nunca pensei. Por quê?”. “Sabe que eu tenho uma ‘puta’ curiosidade em fazer um intercâmbio, conhecer uma cultura diferente e, quem sabe, até fazer uns trabalhos fora do Brasil”. “Sério, que tipo de trabalho?”. “Não sei, algo ligado a minha área, alguma coisa voltada ao jornalismo. Esse tipo de coisa”.

Não respondi ao meu amigo, continuamos a caminhar. Estávamos no Centro Cívico, a Avenida Cândido de Abreu é larga, com várias vias, estabelecimentos comerciais e residenciais. Tudo isso é tão grande, várias pessoas indo e vindo nas calçadas, inúmeros carros, uns a se sobressair sobre os outros. Paramos no semáforo – cruzamento com a Rua Aristides Teixeira.

Enquanto esperávamos o sinal abrir, como uma luz que brilhou em cima da minha cabeça, lembrei de um jornalista profissional que fez um intercâmbio cultural; exatamente como meu amigo comentava.

“Olha só” – comecei a falar. “Imagine você, já que falou sobre intercâmbio, sair do Brasil pensando em aprimorar a língua estrangeira” – “Que língua?” – interrompeu ele. “Árabe”. “Árabe? Eu não quero aprender essa língua!”. “Não importa, quero contar uma história pra você. E ela é verdadeira. Apenas escute. Ok?” – “Ok”. “Então...  Aí você vai pra um país diferente. A Síria. Veja, completamente diferente culturalmente” – “Certo”.

O sinal abriu. Caminhamos em direção a “A viagem de Germano”.

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Quem é Germano Assad

Nascido em Curitiba, Germano (26) é um jornalista formado na Universidade Positivo. Ele realmente fez intercâmbio cultural na Síria. Soube disso quando nos encontramos na sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná. No período em que esteve no país, Germano percebeu que estava no ‘olho do furacão’ de uma revolução popular desencadeada após anos de exploração ditatorial.

O jornalista ficou sete meses no país. Chegou quando a situação ainda não estava ‘tão’ caótica e durante alguns meses escreveu, como ‘frila’, para a Folha de São Paulo. Enviava material com outra identificação, logicamente para não correr risco de morte durante as revoltas. Porém, por mais que tomasse todas as precauções, o regime agia e age com rigor contra os jornalistas estrangeiros.

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No dia 25 de maio de 2012 o Itamaraty confirmou a prisão de mais um jornalista brasileiro: Klester Cavalcanti, da revista IstoÉ Gente, detido e libertado na Síria.

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Quando esteve lá, num primeiro momento, Germano percorreu o país e conheceu algumas cidades, mas após o desencadear da Primavera Árabe (no fim de 2010 várias revoltas percorrem alguns países da Liga Árabe, depois de algum tempo isso chegou até a Síria), as coisas começaram a mudar.

O perigo da região foi mostrado em todo o mundo. Em fevereiro deste ano (2012), quando o fotógrafo francês Rémi Ochlik, de 28 anos, e a correspondente americana Marie Colvin, 56, foram mortos em Homs, cidade em que há maior resistência ao regime do presidente Bashar al-Assad, o ocidente passou a dar mais atenção ao que acontecia e acontece com os jornalistas que tentam trabalhar na região.

Atualmente muitos líderes ‘do outro lado do mapa’ exigem um basta à violência na Síria, o francês Nicolas Sarkozy (que não é exemplo de democracia, mas, como todo político, usou a situação para se pronunciar), declarou ou mundo o seguinte: “Este regime tem que acabar e não há razão para que os sírios não tenham o direito de viver suas vidas e escolher livremente seu destino. Se os jornalistas não estivessem lá, os massacres seriam muito piores”.

Mas a verdade é que os políticos não estão na linha de frente dos conflitos. Quem está lá é o povo sírio e quem pode trazer este sinal de emergência ao ocidente são os jornalistas.
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Tive a oportunidade de conversar com Germano, a demora em relatar isto se tratou da pouca comunicação entre nós e a correria do dia a dia de ambos.

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Tudo começou do inesperado

“Eu fui com visto para estudante. Meu objetivo era de fato estudar o árabe. E como jornalista eu pensava que se tivesse uma oportunidade de escrever eu escreveria. Chegando lá, o que me encorajou é que tinha muita gente trabalhando e eu era o único brasileiro”, explica Germano.  

Presenciar outro momento histórico. Um conflito político/cultural de tamanha proporção e viver momentos de terror nas mãos de um regime totalitário. Um país tomado pela insurgência de um povo revoltado com o sistema unilateral e cruel. Testemunhar fatos marcantes da história contemporânea.   

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“Onde você está querendo chegar com esse papo?” – questionou meu amigo enquanto passávamos em frente ao Shopping Muller, em Curitiba. “Olha isso! Está vendo este monte de tijolo, com essas marcas famosas, esse monte de gente sorrindo... Sabe o que acontece ali dentro? Ali as pessoas podem comprar, se tiverem grana, podem só olhar, se quiserem, podem assistir um filme, podem comer comida japonesa, mineira, italiana; ou tomar sorvete light. Podem se vestir como se estivessem pra ir numa ‘balada’, com aquelas roupas pra ‘ocasiões especiais’. Mas elas só estão dentro de um monte de tijolos! Você entende o que estou falando?” – meu amigo fez afirmativo com a cabeça.

“Então” – continuei – “esse monte de tijolo aí, essa coisa toda, com esse monte de marca, guichê pra você comprar ingresso de shows, franquias, café quentinho e cheiroso. Sabe como é? Essas coisas aí dentro” – fiz uma pausa e disse objetivo e seco – “Será que você está entendendo mesmo o que eu quero dizer?” – “Sim... Eu estou entendendo o que você quer dizer” – retrucou um pouco irritado meu amigo.

Neste momento já havíamos atravessado o cruzamento da Avenida Cândido de Abreu com a Rua Inácio Lustosa. Foi aí que pedi pra ele parar. “Olha... Está vendo do outro lado da Barão do Cerro Azul” (é que este cruzamento é exatamente o ponto em que a Avenida ganha outro nome e se torna uma rua) – “Sim... Estou. O que é que tem?” – “O que você está vendo?” – “Estou vendo a ‘praça dos pelado’ (Praça Dezenove de Dezembro – Centro de Curitiba). Esses ‘monumentos do corpo humano’!” – brincou ele. “Nossa, como você é observador!” – “Está tirando da minha cara?” – continuei: “Olha só... agora preste um pouco mais de atenção. Veja bem: ao fundo da praça você consegue ver o Passeio Público (com academia ao ar livre, bichinhos e mesas pra jogar xadrez, um lugar em que as pessoas sentam e descansam). E se olhar aqui pra este lado (e apontei a direção), lá está novamente o ‘monte de tijolos’. Já na outra esquina você também consegue ver um grande prédio sendo construído. Além disso, logo adiante, na mesma quadra desse prédio, tem um Colégio particular. Você percebeu o que é isso?” – “O que?” – “Isso chama-se ocidente. Este é o mundo em que vivemos. Lugar onde florestas dividem lugar com prédios, animais com humanos, educação com consumismo”. “Já entendi. Você quer dizer que temos uma ‘certa’ liberdade de escolha aqui no ocidente. É isso?” – “É por aí... Mas vai além” – “Como assim?” – “É que só estou querendo fazer um pequeno paralelo entre uma sociedade basicamente ocidental e capitalista e uma outra situação. Como a que ocorre na Síria, em que a guerra acaba com a vida desse povo. Não questiono se eles admiram nosso estilo de vida. A questão é: até quando algumas sociedades continuarão na mão de ditadores?”.

E continuei: “A situação atual da Síria é de devastação – Germano me enviou algumas fotos. Você vê o olhar de desespero dessas pessoas, principalmente das crianças. As cidades estão devastadas pela guerra, pessoas moram em campos de refugiados, lugares improvisados. A guerra deixa marcas nas casas, projéteis de armas espalhados pelo chão” – “Complicado” – e meu amigo abaixou a cabeça em respeito ao que eu dizia.

“Mas onde está a ligação da Síria com o ocidente?”. Então respondi ao meu amigo: “Aí é que está... Há relação, mas elas não estão muito bem explicadas. O ocidente está preocupado com a sua própria ditadura. Só ouvimos falar de alguns países quando estão em guerra. Ou você vai me dizer que conhece algo sobre a Síria?” – “Não... Não conheço nada sobre eles” – “É a cara do ocidente só mostrar esses países em períodos de guerra. Afinal, guerra dá ibope pra mídia, além de mostrar que o sistema ocidental ‘é melhor’. Então as pessoas continuam suas vidas de boutique, preocupadas com seus umbigos” – “É... Mas não é todo mundo né cara!” – “Claro, eu sei... São só exemplos” – “Exemplos baseados em fatos reais!”. “Tão real como conhecer uma solitária”  – disse sarcástico ao meu amigo. “Como assim?”.

Na Síria, Germano ficou quatro dias numa pequena solitária.  

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A prisão

“Eu estava no país fazia sete meses e minha vida já tinha virado de ponta cabeça, nem estudava mais. Nesse momento já escrevia e tinha entrevistado mais de 40 pessoas que haviam sido presas pelo regime” – Germano explica que entrevistou advogados famosos que trabalhavam na oposição a ditadura de Bashar al-Assad.

Quando questionei sobre como as autoridades chegaram até ele, o jornalista disse que foi uma série de acontecimentos. “Teve um jornalista canadense que foi detido e acabou falando sobre mim. Descobri isso só depois, quando já estava no Brasil. Não sei se do Brasil partiu alguma coisa. Ativistas que eu havia entrevistado provavelmente, sob tortura, também acabaram falando alguma coisa. As autoridades tinham informações sobre o meu dia a dia!”.

Lembro-me do momento desta conversa: ao descrever o momento da prisão, Germano fica um pouco inquieto, fala e gesticula com postura tensa, demonstra orgulho e também terror de uma situação que, para sua sorte, não acabou de forma trágica.

“Eu estava saindo do país. Recebi um email de um amigo sírio que estava na Turquia, ele disse que tinha dois amigos que haviam acabado de sair da prisão e falaram que no interrogatório as autoridades perguntaram sobre um repórter brasileiro. E como eu era o único, lógico que era eu” (a partir desse email, o jornalista não teve dúvidas que deveria sair imediatamente da Síria).

“A situação já estava bem caótica, havia poucos jornalistas neste momento. No dia seguinte eu coloquei minhas coisas num táxi e quanto estava indo embora os agentes me abordaram dentro do carro. Não sei se eles (polícia Síria) estavam esperando eu sair para me pegar. Provavelmente eles já estavam atrás, tanto é que na prisão as autoridades tinham uma lista com todas as minhas ligações. Meu telefone estava grampeado há muito tempo!”.

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Quando mencionei ao meu amigo sobre a prisão de Germano, ele disse: “Cara, imagina você ficar numa solitária quatro dias? O que será que se passa na cabeça de uma pessoa nesses dias! Isso me dá arrepio!”.

“Olha isso (e apontei pra uma loja de música gospel que tem na esquina da Rua Paula Gomes com a Barão do Cerro Azul). É uma loja de música gospel” – “É verdade... liberdade religiosa!”. “E também temos nossas peculiaridades, não é?” – e apontei pra um senhor que sempre fica sentado no meio da quadra em que estávamos. Um velho, com uma barba branca e bigode amarelado – de tanto cigarro; esse senhor está sempre ali, pega moedas dos carros que param. Já vi ele acender um cigarro no outro. Sua fisionomia lembra a do velho Bukowski).

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Dentro de uma revolução

A Primavera Árabe desencadeou revoluções simultâneas que mudaram a rotina mundial. Os noticiários passaram a pautar os países árabes em tempo real e se revelou ao mundo uma nova forma de mobilização popular, porém dessa vez a insurgência se deve muito a modernidade, já que foi através das redes sociais que as revoltas cresceram gradativamente.

“Especificamente (o principal responsável) o Facebook. É impressionante, pois o twitter lá é pouco utilizado. Ele (o ‘face) é um fenômeno, é o meio que a juventude encontrou para se engajar, se organizar e combinar as coisas. O problema é que a partir de um momento, a polícia secreta Síria passou a usar da mesma arma para prender pessoas. Então o Facebook passou a ser uma coisa extremamente perigosa. Tanto é que na prisão eles fizeram com que eu abrisse minha página pessoal”.

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“É impressionante. Depois que você começou a contar essa história eu percebo umas coisas diferentes!” – “Tipo o que?” – “Você viu que passamos pelo cruzamento da Barão do Cerro Azul, que sobe em direção a Dr. Muricy, não é?” – “Sim, o que é que tem?” – “Não sei se percebeu, mas perto daquela estátua (monumento Memorial Nossa Senhora da Luz dos Pinhais), que desce a Rua São Francisco, naquele calçadão, tem uma escultura em forma de saca-rolha!” – “Sim, é uma ‘propaganda’ do Festival Internacional de Teatro de Objetivos, que aconteceu em Curitiba mês passado” – “Passamos por um saca-rolha gigante numa calçada histórica, do outro lado da rua tinha um Subway e do outro lado da rua têm uns botecos chinêses” – “Sim! Inclusive a cerveja nesses botecos é mais barata!” – e rimos.

No trajeto da minha casa (Centro Cívico), até meu trabalho (Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná), vimos diversas cenas inusitadas. Aliás, as vejo todos os dias. Quase todo dia quando desço a Rua Monsenhor Celso, que cruza o calçadão da Rua XV, ouço tristes modas de viola cantadas por cegos, também um homem prateado com movimentos de robô. Vejo um cadeirante com seu violão. Já vi até um senhor paraplégico, que se arrasta pelo chão e vende DVD pirata.

Olhei pra meu amigo e disse: “Hoje acontece muita coisa em pouco espaço de tempo. Isso é um fato”. “Já percebi”. “A história já não é contada da mesma forma. E sempre me surpreendo quando paro aqui na Praça Carlos Gomes”, local onde estávamos. “Por quê?”. “Chega aqui!” – e fomos até a banca em que compro meu cigarro solto.

“Você não ia parar de fumar?” – questiona-me. Pego meu cigarro, acendo e meu amigo some pelos ares junto com a fumaça. Então fico ali e observo o pipoqueiro a fritar o bacon e velhos mendigos ‘desmaiados’ no gramado.

Lembro que um dia ouvi a seguinte frase de um maluco: “agora vou fumar uma pedra e já é!”. Esse também é o retrato do mundo ocidental.

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Liberdade

Germano foi libertado após o embaixador do Brasil em Damasco, Edgard Casciano, interceder a seu favor com o Ministério das Relações Exteriores. Segundo o próprio jornalista, as autoridades sírias alegaram que ele estava desenvolvendo atividades jornalísticas sem autorização, o que motivou seus quatro dias de detenção numa pequena solitária, além de ser submetido a longos interrogatórios. “Não sofri violência física”, disse o jornalista.  

A ditadura síria limitou a números mínimos a entrada da imprensa estrangeira no país. Seu regime está cada dia mais violento, com inúmeros atentados. O ocidente continua a clamar por justiça.  

Mesmo com acordos com a Liga Árabe, a ditadura de Bashar al-Assad, segundo informações da Organização das Nações Unidas (ONU), vitimou aproximadamente 3.500 pessoas nos últimos oito meses, através da repressão das forças de segurança aos protestos (dados de 2011). “Os jornalistas na Síria têm visto de turista ou estudante, pois eles não dão visto para profissionais, a não ser que sejam amigos do regime”, relata Germano.

Ele descreve como emocionante essa experiência. “Já me disseram que sou louco (principalmente porque voltou ao país recentemente, mas agora na Turquia), mas aí eu penso: esse material que eu tenho guardado quem mais possui? Isso não pode se perder no tempo. Por isso eu quero voltar, por satisfação. É o projeto da minha vida, quero terminar o que comecei. Nunca fiz algo tão excitante e emocionante”.

Quando questionei se achava que sua coragem pode servir de exemplo para a nova geração de jornalistas, ele disse: “Não acho que sou exemplo, porque o que eu fiz não é o mais indicado. Foi uma grande dose de inconsequência. Não acho que é exemplo, não quero assumir essa responsabilidade. Uma coisa que eu posso garantir é que se você se planejar e encarar uma empreitada similar, com certeza você vai conseguir se virar, porque é exclusivo. Se não for no Brasil, vai ser em outro lugar. Eu segurei as pontas vendendo material em inglês, que escrevi para veículos de fora”.

Após esta conversa, pensei: “O que eu sei sobre o mundo árabe?” – “Nada”, respondi a mim mesmo. “O que sabemos sobre essa cultura? É isenta a informação que recebemos?”, me questionei.

Lembro ainda o que Germano explicou sobre a cobertura da imprensa. “Mesmo antes da Primavera Árabe a cobertura já era escassa. Sempre foi. São poucos correspondentes. São poucos profissionais. E normalmente ficam em Jerusalém. Quando acontece alguma coisa no mundo árabe, tem todo um problema de passaporte e liberação das embaixadas. Toda uma parte burocrática. Se acontecer algo de emergência, o jornalista não vai chegar a tempo. Hoje um dos brasileiros mais capacitados que cobre o mundo árabe fica baseado em Nova Iorque, faz análises, cobre ONU, conselho de segurança, tem contato com fontes na diplomacia, etc. Mas não vive o dia a dia do país ou da região, e por isso, como todos os outros que escrevem ‘a distância’, ele acaba usando ou reproduzindo parte do rescaldo das agências de notícia, informação senso-comum, muitas vezes. É isso que eu estou querendo mostrar, que é possível um trabalho de primeira mão, escrito ou falado em português, feito por um brasileiro, com informação exclusiva, vivência, sem filtros."

Frente a frente com Germano, perguntei: “Tem alguma coisa que gostaria de dizer sobre essa situação e que não conversamos?”.

“Eu quero falar que tem muito pouco profissional, muito pouco jornalista brasileiro escrevendo sobre o mundo árabe. A comunidade árabe no Brasil é gigantesca. Ela precisa ser municiada, precisa de voz. Eu acho que os veículos precisam dar mais espaço, tanto na relação comercial, quanto na cultural. Precisamos dar mais atenção para o que está acontecendo lá, pois é uma revolução. E é coletiva. Está acontecendo em vários lugares ao mesmo tempo e isso vai mudar o mundo. Por isso eu quero voltar lá e viver isso”.

Hoje Germano Lopes Assad está na Turquia e prepara sua volta para o Brasil, provavelmente São Paulo, e continua como correspondente de algumas empresas de comunicação. Esse é um trecho do último relato que ele me enviou:

“Muita coisa mudou aqui nesse meio tempo. Hoje duas explosões em Damasco que mataram mais de 60 pessoas e deixaram quase 400 feridos foram a pá de cal no plano de paz da ONU e formalizaram a guerra civil de baixa intensidade que já estava em curso. A influência crescente que países do golfo estão exercendo na oposição, principalmente a Arábia Saudita, muda todo o cenário, e faz com que mesmo os maiores críticos do regime sírio acabem temendo mais o que pode vir no caso de queda do que a manutenção de Assad no poder. Some-se as ameaças ao Irã com acusações insanas como o assassinato de um diplomata saudita em solo americano (que nos faz lembrar de Tony Blair e o malfadado relatório das armas de destruição em massa no Iraque, e o cenário que se desenha daí pra frente é o pior possível”.

Por Regis Luís Cardoso (*fotos: Germano Assad - Síria).