terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O mar racha coco

Uma praia em que a euforia predomina. Belo lugar, pessoas transitam em busca de diversão. Porém naquele período os escombros estavam por toda orla. E pelas ruínas de uma antiga arquitetura caminham dois casais de amigos.

Conversas e cigarros em meio aos restos que serão transformados num novo projeto turístico. Um caminho difícil, com obstáculos a percorrer. Num determinado momento os amigos encontram finalmente um bom lugar pra sentar e manter o papo. Em frente ao mar, sentindo o vento que esse sopra.

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A amizade é algo que torna um simples momento inesquecível. Então sentados ficam a soltar palavras ao vento, dar risadas e ouvir vozes! Estranhas e inesperadas são as palavras e músicas que soam aos arredores dos escombros.

Naquela noite tudo parecia calmo e sossegado. Porém avistam um grupo de turistas bêbados, com músicas de gosto duvidoso e fazendo algo condenado pra qualquer mente em sã consciência. Sim! Alguns turistas entram no mar, o desrespeito em meio aos escombros de uma escuridão que traz perigo desconhecido.

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- Vai dar merda esses babacas entrando no mar! – disse Deborah.
- Pois é... pode ser – respondi.

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Olhamos a cerca de uns cem metros a nossa direita um pessoal enfrentar a natureza.

- Esses turistas! – disse Darta.
- São loucos! – disse Deise.

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Tudo bem... eles vão em frente e não sabem o risco que correm. Quer dizer, sabem, mas são idiotas o suficiente pra continuar se divertindo dessa forma. Bom... não devemos parar com nossa conversa e dar atenção naquilo tudo. Festa é festa. Já estávamos acostumados com aquilo.

Passados alguns minutos percebemos a atitude normal de quem viu que o buraco é mais embaixo. Pareciam sair do mar. Ótimo.

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Conversávamos tranquilamente ao luar. Ver o mar e escutá-lo é um tesão. Ainda mais na presença de pessoas que consideramos. Num instante fiquei a observar as ondas, o balanço marítimo. Sim... avistei algo... inicialmente pensei comigo: “nosso... um coco... bando de porcos imundos”.

- Olha só... um coco! – disse.
- Aonde Didião? – disse Darta.
- Olha lá cara... no mar... logo ali na frente!

Ninguém viu... só eu avistava aquela forma redonda no balanço do mar.

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Depois de alguns minutos percebi que os mesmo turistas que haviam entrado no mar, agora gritavam o nome de uma pessoa. Não compreendia exatamente o que era.

Olhei pra baixo, percebi uma movimentação. As pessoas olhavam pro mar, procuravam algo. Eu não estava preocupado... aliás... queria avistar novamente aquele coco...

“Cadê!”... pensei com meus botões. Continuei procurando... passei a buscar mais perto da margem... lá estava ele! Percebi algo diferente naquela estrutura redonda... ela tinha espessos fios que aumentavam sua abrangência na água... reconheci isso já que o coco estava mais próximo da margem e a espuma branca das ondas davam um contraste em relação aos seus fios negros!

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“Fios negros?”.

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O pessoal se aproximava desesperadamente. Parecia que algo não se encaixava... deduzi subitamente que não era um coco... “nossa... é uma pessoa!”...

- Cara... é uma pessoa! – eu disse.
- Aonde? – perguntou Deborah.

Nisso havia um cara em cima de uma pedra apontando pra onde eu estava vendo. Meu amigo Darta viu, levantou e foi em direção a margem... eu fui atrás ainda atordoado. Antes chegaram os mesmo turistas que haviam enfrentado o mar.

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O rapaz pegou a menina. Parecia morta. Eu torcia pra que não, seria difícil acreditar na morte daquele coco! Seria difícil aceitar que não consegui diferenciar essa porra toda. A levaram pra margem. O jovem que a pegou pelos braços fez massagem cardíaca e depois respiração boca a boca.

Ela cuspiu toda água salgada e suja do mar noturno daquela praia lotada. “Caralho... ainda bem que essa retardada está viva!”, pensei. Meus amigos estavam ao meu lado, ninguém no momento comentou nada. Chegou o namorado da garota e deu um sacode nela.

- Eu disse que não era pra entra no mar? – gritava o turista com os olhos cheios de cólera.

Aquele não era o momento.

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Nos afastamos. Sentamos onde estávamos e o silêncio predominou.

- Então você viu um coco? – perguntou irônico Darta.
- Pois é... eu achava que era – respondi.
- Ré... imagina se a menina morre! – indagou Deborah.
- Nem me fale – respondi.
- Meu deus... como que pode... tá doido? – disse Deise.
- Não aconteceu nada – amenizei a situação.

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Após alguns minutos chega uma ambulância, acho que foi um de nós que a chamou. Dissemos pra onde haviam ido os turistas. O Darta explicou o que viu, logicamente sem citar a parte do coco. Eles foram atrás do pessoal.

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Saímos do lugar um pouco confusos.

Escuto muito ainda hoje sobre isso. Lembro do coco, depois da cabeça, dos cabelos... complicado...

E se a garota morresse? A consciência que há no meu coco me incomodaria pro resto da vida.