terça-feira, 18 de novembro de 2008

Luz da euforia e luz da zona



Levo tão a sério assalto a banco que eu e meu comparsa elaboramos um plano pra tirar férias durante um longo período. Nós temos tudo armado, somos astutos e jovens. Talvez bebemos um pouco demais, mas isso não muda nada. De certa forma até ajuda na hora de equilibrar o pulso.

...

Depois de tomar umas estou a caminho da casa do Marcílio e do Jeandré. Esses amigos não sabem desse meu lado profissional ilegal. Mas também são sem pudor e bêbados, assim com eu e meu comparsa Alexandre.

Entro na casa dos meus parceiros, os saúdo, pego uma cerveja. Volto à varanda onde eles estão.

- E aí, qual vai ser? – pergunto a ambos (Marcílio e Jeandré).
- A sei lá, eu pretendo fazer um sexo, como sempre – diz Marcílio.
- Nem sei ainda cara, o que tem pra fazer? – pergunta-me Jeandré.
- Nada.
- Então vamos comprar mais cerveja e beber, depois vemos, numa dessas vamos dar um rolê por aí – assim Jeandré vai até um boteco, depois de muita discussão e traz umas geladas.

Nisso Domingos chega e já enchemos seu copo. A conversa era sobre uma treta que eu havia me envolvido alguns dias atrás.

- O Inácio conta aí como foi a briga? – pergunta Marcílio.

Expliquei ao meu colega, já que ele não fora ao jogo de futebol naquele dia e estava arrependido de ter faltado quando me confrontei com outro parceiro de pelada.

...

- Seguinte Alexandre dessa vez vamos fazer a parada ou não?
- Claro cara, dessa vez não tem erro.
- Certeza, prepara as roupas, que eu cuido das armas e do carro.
- Deixa comigo, você quer um terno preto?
- Claro.
- Arrumei um xadrez pra mim, bem retrô, ficou massa cara!
- Meu... não viaja, já viu advogado do Procon com terno igual do John Lennon. Pega um preto também cara.
- Ah... mas eu queria...
- Porra... não vai foder com nosso plano!

...

“Então Marcílio, o negócio foi que o cara tentou quebrar minha perna. Nosso goleiro soltou a bola pra mim, nisso só vi o cara vindo pra me quebrar. Deu tempo de pular, mesmo assim caí de costa no chão. Se eu quisesse confusão, essa era a hora de ir pra cima, mas fiquei sossegado. Só que o cara não parava de me xingar, dizia que não era mais pra eu driblar ele, que isso nunca acabava bem quando ele jogava.

Ficou me mandando tomar no cu, disse isso um monte de vezes. Ficava encarando e eu só dizia – “qual que é?”. Esperei pra ver e ele veio. Ainda xingava quando ficou na distância exata pra eu mandar uma porrada na cara dele. Dei a porrada e fui pra trás, abri pra tentar mandar mais umas, mas o filha da puta agarrou meu colete do time, chegou a rasgar ele, olha a marca no pescoço (mostrei a marca que ficou em mim).

Quando separaram vi a cara dele e o sangue havia escorrido. Foi no supercílio, aí já era, abriu. E comigo não aconteceu nada. Depois fui tomar uma gelada com os parceiros pra me acalmar”.

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Peguei o telefone e liguei pro Alexandre:

- Então cara, tudo em cima?
- Tudo certo.
- Vamos tomar uma no bar do Mohamed e discutir isso tudo.
- Quando? Que horas?
- Daqui a pouco, sai do trampo e cola lá. Certo?
- Certo.

...

- Pô cara, bem no dia que eu não estava você dá uma dessa – disse Marcílio.

Nisso eu, ele, Jeandré e Domingos já havíamos bebido umas geladas e fomos dar umas voltas. Mas o tempo havia corrido e já era passado das duas da manhã, mas queríamos ver pessoas. Passamos pelas ruas, Jeandré andava rápido. “Por que a pressa?” – ironizava Marcílio. “Fica na sua que eu tô bêbado, mas conheço a estrada”. E pisava.

- Vamos fazer o seguinte então, deixar o Inácio em casa e ir na zona – disse Marcílio.
- Aé filha da puta, amigão você, me deixar em casa e ir na zona?
- Tá... vamos levar você junto então...

...

Eu e Alexandre estávamos no bar, as cervejas vinham e nós mandávamos ver. Estava sempre a relembrar nosso plano. Dessa vez não iria falhar.

“Seguinte, saímos daqui umas oito da manhã, até lá dá umas duas horas. Vamos com nossa roupa normal, colocamos o disfarce antes de entrar na cidade. Tá entendendo?”.

- Claro – e mandou mais um gole de cerveja e acendeu um cigarro. Eu também acendi um cigarro.

“Então você coloca a identificação, tudo certo né... não vai esquecer do crachá e tudo mais. Aí me deixa umas quatro quadras do banco e espera eu te ligar. Certo?”.

- Certo.

“Eu entro no banco, todo dia treze de cada mês tem cheque do leite, o banco vai estar lotado. Eu vou ficar na fila e marco o tempo. Sabe que pela lei ninguém pode ficar mais de quinze a vinte minutos esperando pra ser atendido. Nesse caso tenho certeza que ficarei mais de uma hora lá.

É uma vergonha o desrespeito com as pessoas por parte desses bancos, tem gente que fica duas horas, às vezes mais, parado lá igual um otário. Temos que fazer alguma coisa!”.

- Sim sim... mas volte ao que falava Inácio! – com toda paciência disse-me Alexandre.

“Só que assim, o esquema é o seguinte. Quando der uns quarenta e cinco minutos na fila, eu vou começar a berrar lá dentro indignado. ‘VOU CHAMAR O PROCON EIN! JÁ ESTOU NA FILA FAZ QUASE UMA HORA, EU VOU CHAMAR O PROCON!’.

Então eu fico apavorando todo mundo lá. Daí te ligo. Você chega com essa mala aí, se apresenta como advogado e mostra essa carteirinha da OAB – e entrego a carteira falsificada pra Alexandre".

- Ficou boa a impressão né? Nem da pra perceber que é falsa!
- Acho que sim cara... ficou sim.

“Tá então... aí você chega, tem que meter pressão, você vai me ver, chega e pergunta se eu te liguei, aí eu vou estar berrando e dizendo que tudo aquilo é uma vergonha e coisa e tal.

O próximo passo é tirar umas fotos e passar essa lista aí – abri a mala e tirei uma lista pra abaixo assinado. Aí nós provamos que eu fiquei mais tempo no banco do que a lei manda, daí processamos eles, pegamos assinaturas das pessoas com RG e tals".

- Até que é uma boa ideia. Mas e se a fila andar rápido, vai fazer o que no banco?

...

Eu, Marcílio, Jeandré e Domingos procuramos por vários prostíbulos, no final das contas, acabamos num dentro da cidade mesmo, acho que o pior de todos. Na entrada Jeandré foi recebido por uma conhecida, já era freguês pelo jeito. Entramos e sentamos numa mesa. O som... bom... sabíamos que não iria rolar um rock n roll, mas fazer o que né. Como diz uma nobre amiga que tenho: “se está no inferno, abrace o capeta”.

Jeandré dançava com uma puta, Marcílio estava bancando eu e o Domingos. Sentamos e começamos a beber. Bom... trocar ideia com puta é legal... bacana.

A zona era uma casa velha, tinha um salão, os quartos eram no segundo andar. O balcão lembrava um bar daqueles de associação, quando é feito almoço pra comunidade.

E vinha gelada pro Marcílio pagar...

Então uma morena safada que estava muito doida começou a se esfregar no colo do nobre colega  Marcílio, que estava desesperado por sexo. Não que todos nós não estivéssemos, mas ele havia revelado que estava numa seca fodida.

Do colo do Marcílio ela veio pro meu. Sentou no meu colo e ficou pulando, a sorte que eu tinha dado um mijão senão minha bexiga iria estourar. Depois ela sentou na minha perna e rebolou. Eu ficava mexendo com ela logicamente, dando uns tapas na bunda e pegando nos peitinhos.

Até que ela disse que iria dar uns beijinhos no meu pau... e o tirou pra fora, balançou e disse: “olha que bonitinho... olha! ... olha!” e mostrava pra sua amiga, que não estava gostando nada daquilo. Quando a outra puta pro lado... a que estava no meu colo se abaixava e dava uma chupadinha no meu pau.

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- Pô cara... não pensei nisso... então, se eu ficar na fila até chegar minha vez eu finjo estar no telefone e mando outro ir primeiro.
- Acho que não é uma boa ideia Inácio.
- Hum... então como vamos conseguir tirar grana desses caras? Acho que vale a pena o risco!
- Não sei cara. Será?

...

Após um tempo chega uma outra puta, um queijo gigante, redonda. Era pra ela sentar no colo do Domingos, mas Jeandré não deixou: “pelo amor de deus, não faz isso com o garoto, vai quebrar a criança!”.

O fato é que enquanto a morena safada ficava mostrando meu pau pra sua amiga e dando uns beijinhos, Marcílio e Domingos continuavam a beber e Jeandré prestava assessoria jurídica pra uma das nossas amigas.

- Eu tenho uma filha, mas não posso vê-la! Queria tanto ver minha filha!
- Acho que você precisa de um advogado!
- É, você conhece algum? O que eu tenho que fazer pra conseguir ver meu filho? – aqui eu achei que viria a proposta indecente, mas não valia a pena, ela era muito feia, bom... vai saber também né.
- Olha querida, primeiramente se você quer ver sua filha é bom deixar de ser puta, aqui não é um bom ambiente pra recebê-la. A justiça vai averiguar isso. Onde você mora? Com quem? Quais as condições que você pode oferecer pra sua filha? Esse tipo de coisa... entendeu?
- Bom – interrompeu Marcílio – vamos nessa pessoal! – ninguém fez objeção.

Na saída faltaram quatro reais... acho que foi da chupadinha... ficou pro Marcílio.

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- Então Alexandre... e agora cara?
- Pois é.. não sei...
- Puta merda.
- Inácio tenho que ir nessa, pensa em alguma coisa e depois liga, beleza?
- Certo.
- Vai fazer o que agora?
- Acho que vou à casa dos caras lá, o Jeandré e o Marcílio. Tomar umas geladas e ver se surge algo.

...

Me deixaram em casa, entrei, bêbado e sujo. Cadê meu cigarro? Foda-se... dormi. Acordei pra trabalhar no outro dia, olhei minha calça, tinha uma mancha na perna, onde aquela puta estava sentada a rebolar. Uma mancha que parecia de menstruação, sei lá... fazer o que... estava lá... a calça será lavada mesmo...

No final das contas as coisas são assim: às vezes o dia começa numa euforia que dá vontade de trapacear até os bancos e quando percebo lá estou eu num estado decadente.

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Essa ideia de entrar no Procon por causa da fila do banco rende uma indenização... mas preciso rever meu plano ou direcionar meu plano indenizatório pra novos horizontes.