- A parada é a seguinte Primo. Andei pensando aqui, vou
ligar pro Padrinho.
- O que?
- É isso mesmo. Esse seu parente aí pode colocar em riscos
os negócios. E quando isso acontecer... é pra falar com o Padrinho... ele
sempre falou pra avisar... SEMPRE...
- Cara... ele vem pra cá hoje... espera pra falar com ele
aqui.
- Não... eu to sabendo que talvez ele não venha, por isso eu
quero falar com ele agora... pra ele vir...
- Você tá querendo virá presunto né não?
- Me manifesto pela
maioria. Tá todo mundo comigo...
...
Após desligar o telefone, ligo pro Padrinho. Explico que
tentamos resolver uma situação delicada por aqui e que as coisas saíram do
controle.
O fato é que havia um ruído no nosso esquema: Otávio Olavo
se tornou uma pessoa problemática. Ele diz que vive de um jeito, mas é mentira.
Existe outro mundo nele, algo que ele esconde.
...
Após explicar a situação pro Padrinho, aviso o Primo que o
patrão vem.
- Você é um filha da puta... um traíra filha da puta.
- Calma cara... te explico aí.
...
Saio da Clínica que Otávio estava. Fui pegar alguns
pertences dele. Meu principal objetivo era encontrar seu celular. Pra minha
surpresa ele tem mais de um. Além de um tablet. “O que esse filha da puta
esconde?”.
Depois de analisar os aparelhos, vi que Otávio precisava
explicar muita coisa pra todo mundo.
...
Na porta do AP do Primo, seguro minha 9 mm na mão esquerda.
Eu sei que o Primo vai abrir a porta armado. Ele quer me matar, então preciso
acalmar as coisas.
Bato na porta com a mão direita e fico preparado. Quando a
porta se abre eu já aponto o revolver pra cara do Primo. Meto o berro bem na
testa dele.
- Ei ei ei... ficou doido psicólogo?
- Não... doido é esse Otávio... e você precisa me escutar.
- Você quer que eu converse com uma 9 mm na testa?
...
Então acalmamos a situação. O Primo entendeu que o negócio é
sério.
...
- Viu... cadê o Otávio?
- Dormindo.
- Como você sabe?
- Acabei de sair do quarto.
- E não tem como ele ouvir nossa conversa?
- Não.
- Você disse que eu viria três horas? Porra... agora pouco
você falou com ele! Por que deixou o cara dormir?
- Calma cara... é só acordar ele. Porra... o cara tá na
minha casa... quem manda aqui sou eu.
...
O Primo precisa entender que Otávio está metido em alguma
coisa. É impossível um funcionário de agência bancar o que ele gastava na boca.
Lá ele é sheik.
...
- Primo... é o seguinte.
- Fala...
- Otávio é um filha da puta mentiroso.
- É o que você diz...
- Olhe isso...
...
Passei o celular pro Primo. Nele estão várias mensagens de
amor. Mensagens de fantasia sexual e tudo mais. Parece tudo normal. Agora
mostro o tablet e muita coisa comprometedora.
...
- Mais o que isso? Que porra é essa? Eu vou matar esse filha
da puta...
- Calma cara! – puxo a 9 mm novamente pra fazer o Primo
sentar, pois ele já quer ir até Otávio.
- De novo com essa bosta na minha cara?
- Daqui a pouco perco a paciência... caralho você parece uma
criancinha. Olha só. Esse idiota do seu parente gastava uma grana filha da puta
na boca. Todo mundo sabe disso. Ele bancava o dono de agência de publicidade. O
comedor da mulherada. E agora vem com essa porra toda aí. Nenhum funcionário consegue
gastar o que ele gasta na boca. Você sabe disso.
- Aonde você quer chegar?
- Bota ele no quarto que tem as câmeras, vamos conversar com
ele antes do Padrinho chegar. Não podemos ser tão otários assim... vamos
queimar o filme porra... não dissemos que tínhamos um investimento? Essa porra
de Chip´s of Love não era pra ser nossa mina de ouro? Pois é... temos muito pra
explicar... fracassamos em algumas coisas... e alguém precisa falar a verdade
por aqui...
...
Combinamos uma estratégia. Agora o Primo vai até o quarto de
Otávio. Estou atento, com minha arma em alerta.
...
- Tá no quarto. Te levo até lá e depois vou ligar as
câmeras. Após isso me posiciono.
- Ok.
...
Olhar Otávio é como imaginar um ponto de interrogação bem
grande na sua face. Um rosto sem olhos, sem nariz, sem boca... apenas o
mistério.
...
- Doutor, que bom te ver!
- Tudo bem Otávio? Como está hoje?
- Estou bem...
- Fui chamado. Seu irmão...
- Primo... meu Primo.
- Ok... seu Primo entrou em contato com a clínica e disse
que você estava com problemas.
- Eu não estou com problemas.
- Está sim...
...
Otávio Olavo estava numa situação difícil. A casa tinha
caído e ele não sabia.
...
- Nossa... mas por que o Primo ligou pra você? Não
precisava... estou bem...
- Bom... quero dizer que temos muito o que conversar Otávio.
- Temos?
- Sim...
- Não tenho o que falar... não estou mais na clínica.
- Bom... eu sei... mas acabei me interessando pelo seu caso
Otávio. Eu sei que você precisa de ajuda, então fui conversar com algumas
pessoas...
- Você o que?
- Olha... fui conversar com algumas pessoas que viviam
contigo.
- Não acredito que você fez isso... – fez um gesto com a
cabeça de reprovação.
- Fiz... fiz isso e não me arrependo. E Sabe por quê? Porque
descobri que você não tem nada. É um mentiroso.
- Você pirou cara?
- Seu filha da puta... – e parti pra cima dele. Comecei a
dar porrada no maldito.
TUM TUM TUM – batidas na porta.
- Está tudo bem aí? – grita o Primo.
- SOCORROOO... SOCORROOO... – gritava Olavo.
...
Vejo o Primo entrar enquanto soco a cara de Otávio Olavo. Já
dei umas trinta porrada na cara do maldito. Minha mão está toda vermelha.
...
- O que tá acontecendo aqui?
- Esse cara tentou me matar – disse Otávio arrebentado,
cuspindo sangue e com o nariz quebrado.
- Ei... abaixa essa arma! – digo ao Primo, que aponta um revolver
pra mim. Este é o momento de começar a falar, “revelar”, na frente de Otávio,
informações pro Primo. A estratégia é fazer Otávio ter certeza que o Primo está
contra ele, que vai matá-lo; então contará a verdade.
Pego o celular e o tablet e mostro pro Primo. Com as fotos e
as mensagens de celular. Otávio está tonto das porradas que levou, mas percebe
que a casa caiu.
...
- O que vocês estão vendo aí? – disse Otávio curioso.
- Que porra é essa... que porra é essa – o Primo grita e
leva o tablet pra Otávio. E com frieza aponta a arma pro parente.
- Calma Primo! Abaixe essa arma, sou eu... o Otávio! Seu
Primo cara... lembra?
- Me explica o que é isso?
- Isso é tudo montagem desse psicólogo maluco aí...
...
Otávio me olha com raiva, mas este é o momento pra começar a
fazer perguntas.
...
- Bom Otávio, se eu sou louco, me explique uma coisa: quem é
a mulher que tanto você me falou? Quem é ela? Mostre-me uma foto, porque nesse
seu tablet só tem homem...
- Não tenho que explicar nada pra você.
- Ah tem sim... você contou que tinha uma mulher, que viviam
felizes... que transavam, faziam orgias... mas pelo que vejo aqui... as orgias
e as fantasias eram feitas com outras pessoas, não é?
- Seu maldito filha da puta... – Otávio tenta levantar pra
me bater...
- Ei ei... fica na sua aí Otávio, quero ouvir o que o
psicólogo tem pra dizer – diz o Primo.
- Esse cara está mentindo... é um mentiroso...
- Eu sou mentiroso? Claro Otávio, mundo inteiro mente, menos
você, não é? Inclusive o Stifen... sim... ele mesmo, já estamos sabendo que vocês
nunca foram sócios... nunca existiu sociedade entre vocês...
...
Otávio fica na defensiva e olha afrontado pro Primo.
...
- Otávio, que merda é essa de você não ser sócio do Stifen?
– perguntou o Primo.
- E tem mais... não é só isso... se o problema fosse apenas
esse! Mas não, Otávio conta história de orgias com uma mulher que ninguém nunca
viu. Aí descobri que ele era apenas um funcionário de uma agência de
publicidade e nunca teve sociedade com ninguém. E o pior de tudo, torrava uma
grana que ninguém de onde veio na boca, cheirando pó até não aguentar mais...
- Como você sabe disso? Seu filha da puta... psicólogo de
merda... tá achando que é polícia? Seu porco filha da puta – Otávio começou a
perder o controle.
- Pode me xingar Otávio, fale o que quiser, mas não esqueça
o seguinte... eu sei que você tem um
trauma! Esqueceu? Você sabia que seu primo tem um trauma secreto? Sabia disso?
– aponto pro Primo, pois tenho que deixar Otávio preocupado com a conversa.
- Do que você está falando? Que trauma? Que merda é essa?
...
Então Otávio, com a cara cheia de sangue, começa a chorar
compulsivamente. “Parem com isso” – diz repetidas vezes. Ele implora pra parar
de falar sobre seus segredos. Mas não tem outro jeito. Esperamos ele abrir o
jogo e depois o matamos. O Padrinho chega e o Primo diz que Otávio fugiu...
aliás, podemos dizer qualquer coisa, pois ninguém se importava com esse idiota.
Peguei mais uma vez o tablet, com inúmeras fotos de homens
velhos vestidos de mulher, roupas de couro, roupas de enfermeira, roupas de
garçom, etc. Otávio vai explicar tudo isso, não é algo normal, são fotos
pesadas, em lugares chiques. Quero saber o que exatamente significava
isso.
...
- Pelo jeito, Otávio,
seu negócio é outro. Seu porra depravado. Retardado mental. Sei lá como te
chamar... “sadô”? Uma bichona “sadô”?
- Ei! Se ta maluco?
- Calma Otávio – diz o Primo.
- Esse cara é um bosta... um doido... como ele pegou essa
porra de tablet? Quem ele pensa que é?
- Eu só quero ver quando o Padrinho chegar e ver essas
fotos, só quero ver o que ele vai dizer – digo pra Otávio...
- O Padrinho tá vindo aí?
- Tá – disse o Primo.
...
Só quero ver o que o Padrinho vai falar disso tudo.