terça-feira, 18 de agosto de 2015

Legaliza Já!


Já disse que às vezes paro pra trocar umas ideias com meu camarada Enzo Lino, o famoso Diabolô.
– Ô Maradona… – repito três vezes até meu amigo me olhar e se ligar…
– Ô mano… foi mal… – e passou…
Diabolô foi me encontrar em casa. Após isso, partimos pra casa dele. Fui o convidado ilustre pra um churras com sua família.
Quando chegamos lá, ele me apresentou todo mundo… obviamente não lembro o nome da galera.
Na sala da casa dele encontramos seus irmãos ouvindo na vitrola o vinil “Usuário”, do Planet Hemp.
Em 2012 fui ao show do Planet em Floripa, num lugar chamado Stage.
Foi engraçado! Logo na entrada… o destaque da noite: “não pode entrar de boné” – disse um cara da organização. “Hã?” – não entendi nada. Estava num show do Planet Hemp e não podia entrar de boné? Que coisa, não?
Na verdade, como o show foi numa dessas casas de shows ´chiques´ de Floripa, uma galera já estava ligada nessa “norma”. Após eu insistir alguns minutos, percebi a postura irredutível do cara da organização; então fui ´mocar´ meu boné em algum lugar.
Rodei pelo estacionamento alguns minutos e encontrei um matinho perdido pelos cantos. “É aqui mesmo” – pensei; então joguei meu boné lá e fui pro show.
Década de 90, prisão do Planet em Brasília (1997). Depois do sucesso dos seus dois primeiros álbuns(“Usuário” e “Os cães ladram mas a caravana não para”), a banda passou a sofrer ataques de grupos conservadores, sendo até impedida de tocar em determinadas cidades.
O extremo disso tudo foi o enquadramento dos artistas na capital federal… que contradição!
Mas nada como a vida pra dar aquele velho ‘tapinha na pantera’. E adivinha ‘dotô’ quem apareceu dessa vez nas páginas policiais? Não amigo, não foi o D2 ou o BNegão ou o Black Alien, mas sim o “Juiz que prendeu o Planet Hemp” – o cara foi afastado por receber propina de traficantes.
Hipocrisia? Não! “Quase nada”.
LEGALIZE JÁ! – tá aí uma bandeira pacífica. Ela era e é muito influente na música, tô mentindo? É ou não éPeter Tosh?
E após décadas, as coisas não mudaram muito. Dois meses atrás o vocalista do Cone Crew Diretoria foi preso, o motivo: apologia às drogas.
Porém, mesmo em tempos estranhos como os de hoje – em que vozes “bolsonarianas” ecoam por aí; o STF vai discutir a descriminalização do porte de maconha para consumo próprio na próxima quinta-feira feira (13/08). Será essa uma fumaça no fim do túnel?
Temos que aproveitar esse pequeno momento uruguaio no Brasil… bem pequeno… praticamente uma ponta, uma perninha de grilo.
E não fica só na questão de segurança ou saúde pública. A questão econômica tem lá seus benefícios. O estado do Colorado, nos EUA, que o diga: Após grande arrecadação, Estado americano do Colorado pode ter de devolver dinheiro do imposto da maconha à população.
E o show do Planet foi ‘do caralho’.
Na saída ainda fui buscar meu boné. Em frente ao matinho que eu havia deixado o dito cujo estava estacionada uma Van; ao seu lado três pessoas conversavam. Foi aí que tive que pedir licença e interromper o triálogo. Passei entre eles e adentrei o mato. Em poucos segundos, com a ajuda da lanterna do meu celular, saí feliz da vida com meu boné e o barulho do rap-rock’n’roll-psicodelia-hardcore-e-ragga do Planet na cabeça.
– Ô meu! – escutei uma voz rouca e alta, também um tranco no meu ombro. Quase caí da cadeira. Despertei com Diabolô falando mais rápido e puto que o D2 e o BNegão juntos. “Porra… eu to aqui falando… falando… falando… e você nada? Faz uns cinco minutos que tô te explicando sobre o Planet… a legalização… e você não está nem prestando atenção no que eu digo. Seu lesado”.
E caímos na gargalhada.
– É… depois eu que sou o Maradona, né? – continuou Diabolô.
– Ah cara… nada a ver… uma coisa é uma coisa outra coisa é outra coisa. Você é o Maradona porque é fominha… não passa…
– Aé? E você, é o quê?
– Eu? Sei lá…
Foi aí que um dos irmãos do meu amigo interrompeu nossa conversa e ágil como um “sagaz homem fumaça”, perguntou:
Quem tem seda?”. 

*Texto originalmente publicado via Terra Sem Males