quarta-feira, 10 de junho de 2009

Conspirações em minha casa - CAPÍTULO II

Já havíamos conversado sobre várias coisas, mas ainda não estava claro o por quê? de Olho de Gato ter passado pela Colômbia. “Você disse que coisas estavam acontecendo na Colômbia e depois mudou de assunto! O que rolou por lá?” – “Nossa cara... esse esquema foi uma loucura... eu não viria pra esses lados. Estava indo pra França. Mas desconfiei que algo aconteceria, eu já estava sendo seguido. Então não peguei o vôo pra França!” – “Como é que é? Você quer dizer que o Air France que caiu perto de Fernando de Noronha foi um atentado?” – “Ou você acha que ele foi abduzido?” - “Não brinque com coisa sério cara”...

Depois que disse isso ele ficou puto. “Você acha que eu achei legal o que aconteceu? Era pra eu estar morto porra! Joe Joe não respeita família, etnias... eu já te disse, você deveria saber. O terror é covarde, não é declarado como uma guerra entre dois povos. Não tem como saber a hora que vai acontecer... você pode estar andando por aí... com sua gata, com sua mãe... mas quando menos espera, já era... vira poeira... sacou?”.

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Já era cedo, disse que iria comprar mais vinho e alguma coisa pra deixar na geladeira. Afinal... não esperava “visitas”. Fui ao mercado... demorei um pouco. Meu estado era visivelmente desequilibrado. As pessoas olhavam pra mim e eu me achava um monstro. Só olhava pra baixo. Tinha um lunático na minha casa. Eu estava lunático. As coisas não se encaixavam, mas quando se trata desse lunático, as coisas só se encaixam no final.

Eu sempre começo pra ver o final, mas dessa vez esperava que as coisas parassem já! Gostaria de chegar em casa e vê-la solitária. Apenas eu e meu som. Mas não... está lá um perseguido internacional... perseguido eu sei lá por quem. Não existe mais bom dia e boa tarde no meu vocabulário, a partir de agora estou em estado de alerta.

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“Essa história do Air France é muito cabulosa cara, não pode estar falando sério?” – “É sério, foi por isso que parti pra Colômbia. O Abadia já tinha me dado carta branca há muito tempo. Agora aproveitei meu passe livre por lá e fui” – “Você conhece o Abadia?” – “Pois é... arrumei a maioria dos cirurgiões plásticos pra ele, não só pra ele... pro Joe Joe também!” – “Quer dizer que hoje você não sabe a fisionomia do Joe Joe?” – “Isso é um segredo de conspiração meu amigo... isso não se fala!” – “Mas eu preciso saber!” – “Pode ficar tranquilo que ele não virá pra cá. É mais fácil o papa vir que ele”.

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“Porra uma aranha!” – desci a porrada. “Cara... você está maluco? O que está fazendo?” – “Olha uma aranha ali!” – deu mais umas pancadas e nada do bicho morrer... estava intacto. “Para com isso” – pulou sobre o bicho...

“Você é defensor de aranha agora?” – “Isso não é uma aranha seu idiota, é uma arma” – “O que?” – Olho de Gato pegou o que eu julgava ser uma aranha e me mostrou. Ela era de um material sintético, sei lá o que era aquilo. “Isso aqui eu criei, tem uma micro câmera dentro, tenho o controle remoto, posso monitorar ela através do meu celular. É uma arma de guerra” – “Está gravando nossa conversa?” – “Sorria, você está sendo filmado!” – “Ficou engraçado agora?” – “Já tem grampo por tudo aqui, tem um besouro em cima da sua geladeira com uma micro câmera. Outra aranha maior, em cima do seu armário com várias micro câmeras...

Fiquei chocado com o que Olho de Gato tinha em sua mochila. Algumas armas que não esperava jamais ver. “Isso aqui (me mostrou uma cápsula) é varíola... eu extermino um país só com essa cápsula” – “Não exagera também” – “Com essa não... é verdade, mas com essas... aí eu faço um estrago (me mostrou mais centenas de cápsulas). Tem antrax também” – “E essa história de gripe suína?” – “Tá de brincadeira comigo né? Você acredita nessa gripe?” – “Não sei... vai dizer que você estava no México e lançaram por lá pra te matar?” – “Nem cheguei a pensar nisso... mas é só um alarde pra indústria farmacêutica ganhar uma grana. Consequentemente eu ganho também né... afinal tenho várias patentes por aí”.

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Não raciocinava mais. Estava em overdose de conspirações. Precisa dar uma volta, ir num boteco, sei lá. “Vamos sair cara... tomar algo diferente de vinho... uma cerveja” – “Você está louco... é dia... só podemos sair à noite... está certo?” – “Porra... nem eu?” – “Ninguém” – “Então porque eu fui ao mercado e você não disse nada?” – “Mercado é mercado... boteco é boteco”.

“Essa sua história está muito estranha, você deve ter tomado um chifre sei lá onde e resolveu cair no mundo. É isso não é?” – “Você é mais louco que eu... como eu vou tomar um chifre... não tenho tempo pra casar... namorar... estou sempre sendo perseguido... sempre tem alguém atrás de mim!” – “Que bicha... ‘sempre tem alguém atrás de mim’... acho que você gosta que tenham pessoas atrás de você... hahahaha” – “Cara você quer morrer?” – Olho de Gato levantou e tirou sua 380, apontou pra mim. Fiquei sem saber o que fazer.

“Porra... isso é coisa que se fale? Olha meu estado... estou muito doido... aí você vem com essa maluco?” – “Porra cara... não leva por trás as coisas também né” – “Não me provoque cara... to com sangue no olho já!” – “Ui...”. Me olhou mais uma vez... eu já sabia dos riscos... estava preparado. Mais uma vez eles. Estão por toda parte. Estar com Olho de Gato em casa é risco na certa.

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“Preciso dormir um pouco, não saia da sua casa senão vou atrás de você e acabo com sua merda de vida” – “Qual é cara... me desconsiderou agora ein!”. Ele deitou... não sabia o que fazer... os riscos não saiam da minha cabeça, não queria que um amigo ou alguma conhecida viesse por aqui. “Meu celular! Aonde coloquei!” – comecei a procurar... não encontrava em lugar algum.

“Porra cara... acorda aí... acorda aí... (ele abriu um olho). Cadê meu celular?” – “Está ali atrás do sofá, mas deixe desligado, é uma arma pro inimigo” – “Puta merda... você está me tirando pra otário”. Fui pegar meu celular atrás do sofá. BZZZZZ. “Que porra foi essa caralho!” – Olhei pro Olho de Gato e o filha da puta estava se matando de rir. “O que foi isso?” – “Uma pequena descarga elétrica pra você entender que eu não estou de brincadeira”.

Era o que me faltava, tomar choque do próprio celular. Como ele fez isso? – “Como você fez isso?” – já dormia. Se ele acha que vai ser assim... ele zoando da minha cara e eu tomando porrada... está muito enganado... também aprendi algumas coisinhas por aí... isso não vai ficar assim. Essas câmeras nesses bichos malditos ainda virão muita coisa.