quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Aumenta o Tom, Zé!




Subjugam-me. Só por que vim com defeito de fabricação.

O contemporâneo está como a arte de Tom Zé: um quebra cabeça.

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“A gente já mente no gene
A mente do gene da gente” – Tom Zé.

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A manivela continua a rodar. E vai continuar. Já acenderam a “dinamite na cabeça do século”.

Não temos mais controle, já descentralizaram a informação, ainda bem! Agora ela tem um valor incalculável. Todos os olhos estão voltados ao que aparentemente parece ser sério. A gestão do nosso dinheiro!

Porém, os velhos barcos voltaram a ancorar naquele obscuro cais. Os coelhos voltaram a ser os guardiões das cenouras.

Só de raiva, saí por aí a caçar borboletas e montar esse quebra cabeça que acabei de me enfiar... e, pelo jeito, enfiei vocês também.

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“A galope
 De
 Laptop” – Tom Zé.

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Já somos o “pós humano”. Resultado de vários pedaços desconexos no espaço. Fragmentos da indústria da mídia, da indústria da justiça.

A verdade é que, ‘de fato’, não é mais possível se animar com o que, ‘de fato’, acontece ao nosso redor. Ninguém sabe mais se é verdade o que dizem ser verdade.

Se o filme vespertino é mais ou menos ficção que o Jornal Nacional. E apesar de todos enxergarem todos, ninguém mais pergunta: “agora eu quero saber, a quantas anda você?”.

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Hoje, com a espetacularização de tudo, até Orwell ficaria paranoico. É a era do protagonismo do medo. PM nas ruas = medo. Manifestação nas ruas = medo.

Medo econômico, medo político e social. Medo da violência, do fogo nas ruas! Pânico, angústia, vômito, prisão, coleira, medo...

Tudo isso sendo vigiado. E se não é você que acaba mostrando o ouro pro bandido, o sistema tem ferramentas pra pegar o seu ouro.

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Então aumenta o Tom, Zé... já não acredito naquela arte de Chico, pois ir ao Senado, Buarque, é uma grande bosta.  Foi o papagaio de pirata no dia do “adeus”.

Esses símbolos causam aflição. Ainda mais hoje, em que vivemos um momento em que nem o povo fala pelo povo.

Essas figuras de sempre... “heróis”... remetem a uma falsa esperança, pois eles também são culpados.

As pedras ainda são jogadas nas “Genis” todos os dias; e elas também jogam. Afinal: “quem nunca pecou que atire a primeira pedra!”.  

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Todos esses fragmentos que estão voando sob nossas cabeças, volto a dizer, tem um valor incalculável. Chegam até a representar o que, na verdade, não representam. São superestimados.

Por isso, carregados de tanto valor, dignos de celebridades, punem sem ter convicção e usam da injustiça para promover justiça. Cidadãos punidos, punindo. Vingança!

Quando se vê tudo acontecer dessa forma, deslocado do que é democrático, lembro dessa música do Tom Zé: Classe Operária.

Sobe no palco o cantor engajado Tom Zé,
que vai defender a classe operária,
salvar a classe operária
e cantar o que é bom para a classe operária.

Nenhum operário foi consultado
não há nenhum operário no palco
talvez nem mesmo na plateia,
mas Tom Zé sabe o que é bom para os operários.

Os operários que se calem,
que procurem seu lugar, com sua ignorância,
porque Tom Zé e seus amigos
estão falando do dia que virá
e na felicidade dos operários.

Se continuarem assim,
todos os operários vão ser demitidos,
talvez até presos,
porque ficam atrapalhando
Tom Zé e o seu público, que estão cuidando
do paraíso da classe operária.

Distante e bondoso, Deus cuida de suas ovelhas,
mesmo que elas não entendam seus desígnios.
E assim, depois de determinar
qual é a política conveniente para a classe operária,
Tom Zé e o seu público se sentem reconfortados e felizes
e com o sentimento de culpa aliviado.

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Voltei da caça as borboletas e percebi que, para a realidade fragmentada, não existo.




Texto originalmente publicado no portal Terra Sem Males (*foto: Reinaldo Moraes).