Subjugam-me. Só por que vim com defeito de fabricação.
O contemporâneo está como a arte de Tom Zé: um quebra
cabeça.
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“A gente já mente no gene
A mente do gene da gente” – Tom Zé.
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A manivela continua a rodar. E vai continuar. Já acenderam a
“dinamite na cabeça do século”.
Não temos mais controle, já descentralizaram a informação,
ainda bem! Agora ela tem um valor incalculável. Todos os olhos estão
voltados ao que aparentemente parece ser sério. A gestão do nosso dinheiro!
Porém, os velhos barcos voltaram a ancorar naquele obscuro
cais. Os coelhos voltaram a ser os guardiões das cenouras.
Só de raiva, saí por aí a caçar borboletas e montar esse
quebra cabeça que acabei de me enfiar... e, pelo jeito, enfiei vocês também.
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“A galope
De
Laptop” – Tom Zé.
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Já somos o “pós humano”. Resultado de vários pedaços
desconexos no espaço. Fragmentos da indústria da mídia, da indústria da
justiça.
A verdade é que, ‘de fato’, não é mais possível se animar
com o que, ‘de fato’, acontece ao nosso redor. Ninguém sabe mais se é verdade o
que dizem ser verdade.
Se o filme vespertino é mais ou menos ficção que o Jornal
Nacional. E apesar de todos enxergarem todos, ninguém mais pergunta: “agora eu
quero saber, a quantas anda você?”.
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Hoje, com a espetacularização de tudo, até Orwell ficaria
paranoico. É a era do protagonismo do medo. PM nas ruas = medo. Manifestação
nas ruas = medo.
Medo econômico, medo político e social. Medo da violência,
do fogo nas ruas! Pânico, angústia, vômito, prisão, coleira, medo...
Tudo isso sendo vigiado. E se não é você que acaba mostrando
o ouro pro bandido, o sistema tem ferramentas pra pegar o seu ouro.
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Então aumenta o Tom, Zé... já não acredito naquela arte de
Chico, pois ir ao Senado, Buarque, é uma grande bosta. Foi o papagaio de pirata no dia do “adeus”.
Esses símbolos causam aflição. Ainda mais hoje, em que vivemos
um momento em que nem o povo fala pelo povo.
Essas figuras de sempre... “heróis”... remetem a uma falsa
esperança, pois eles também são culpados.
As pedras ainda são jogadas nas “Genis” todos os dias; e
elas também jogam. Afinal: “quem nunca pecou que atire a primeira pedra!”.
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“Não
existe governo corrupto, numa nação ética. E não existe nação corrupta, com
governo transparente e democrático” – Leandro Karnal.
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Todos esses fragmentos que estão voando sob nossas cabeças,
volto a dizer, tem um valor incalculável. Chegam até a representar o que, na
verdade, não representam. São superestimados.
Por isso, carregados de tanto valor, dignos de celebridades,
punem sem ter convicção e usam da injustiça para promover justiça. Cidadãos
punidos, punindo. Vingança!
Quando se vê tudo acontecer dessa forma, deslocado do que é democrático,
lembro dessa música do Tom Zé: Classe Operária.
Sobe no palco o cantor
engajado Tom Zé,
que vai defender a
classe operária,
salvar a classe
operária
e cantar o que é bom
para a classe operária.
Nenhum operário foi
consultado
não há nenhum operário
no palco
talvez nem mesmo na
plateia,
mas Tom Zé sabe o que
é bom para os operários.
Os operários que se
calem,
que procurem seu
lugar, com sua ignorância,
porque Tom Zé e seus
amigos
estão falando do dia
que virá
e na felicidade dos
operários.
Se continuarem assim,
todos os operários vão
ser demitidos,
talvez até presos,
porque ficam
atrapalhando
Tom Zé e o seu
público, que estão cuidando
do paraíso da classe
operária.
Distante e bondoso,
Deus cuida de suas ovelhas,
mesmo que elas não
entendam seus desígnios.
E assim, depois de
determinar
qual é a política
conveniente para a classe operária,
Tom Zé e o seu público
se sentem reconfortados e felizes
e com o sentimento de
culpa aliviado.
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Voltei da caça as borboletas e percebi que, para a realidade
fragmentada, não existo.