Olha… eu não sei não… as coisas estão
estranhas.
Uns dizem que as manifestações do
último domingo (16/08) comportaram todas as bandeiras, gente de bem e blá blá
blá…
Eu novamente não sei não…
Apesar de concordar que essas
manifestações são legítimas, claro; essa marcha caminha pra uma direção,
obviamente, incerta.
Segundo o Datafolha, na real nem precisava dessa pesquisa,
a esmagadora maioria dos participantes dos protestos recentes em São Paulo eram
da elite branca. Falo da capital paulista, pois parece que foi a de maior
adesão. Dizem que em Curitiba deu 60 mil pessoas… ‘nem fodendo’…
O no meio desse furdunço todo… vimos um
fim de semana com cores e valores distintos.
Quando, ainda na década de 90, os
Racionais MC’s cantaram com maestria… “Vamos passear no
parque?” , ali ficou retratada uma desigualdade às claras,
viu-se uma voz ferrenha e raivosa que não se conformava com aquela situação.
Hoje, para cantar por mudança, os
“defensores do povo” fazem isso? Cadê a revolução? O que realmente simboliza
essa manifestação? Isso? => Repórter Chileno na
manifestação de 16/08/2015 no Rio de Janeiro .
O Brasil vive uma contradição. Jovens
aceitam pacificamente reaças expondo bandeiras fascistas (apoiados pelos velhos
pais viúvos do regime ditatorial brasileiro).
Será que não percebem tamanha estupidez
que é ir pra rua clamar por algo que tire o direito de ir pra rua? ‘Eu ein’…
Mas lógico, que manifestações são
justas e necessárias… ninguém discorda.
Até porque… sim, estamos em crise
econômica, não é inédita e nem a pior da história, mas passamos por um período
complicado, economicamente falando.
Porém o mais importante disso tudo é
que há uma boa parcela dos políticos que não colabora para que passemos desse
momento, e ninguém faz nada! Calma… já chego no Congresso.
O que preocupa é que para alguns
manifestantes o vermelho simboliza a corrupção e o verde e o amarelo o
patriotismo… caracterizando assim um outro e mais realístico problema: a crise
política.
Indo ao extremo, enxergamos o desejo de
uma minoria em ver a presidente do Brasil morta. Até nesse contexto bizarro, o
que está sendo “sugerido” como solução para o país é algo corrupto. Ora… se é
realmente necessário um funeral seletivo, que coloquem nessas tumbas um pouco
mais de coerência e enterrem todos de forma linear. É estranho pedir a morte de
um, quando é todo um sistema que dá as cartas na política.
Por que diabos o Congresso Nacional é
poupado? Seria toda essa “boa intenção” de ir às ruas apenas mais uma massa de
manobra? Seria o desenho da arquitetura de um golpe?
Então chegamos ao fator monetário. Esse
tema foi descrito pelos que acabei de citar – os Racionais MC´s; em seu disco
mais decente: “Cores e Valores”. Nesta obra, o grupo de rap destrinchou,
ainda em 2014, o que realmente importa em nossos dias, a grana!
Se aquele que “vem de baixo” conquista
sua condição… ostenta nobreza… isso gera uma indignação? Algo do tipo:
“precisamos impedir a ascensão do pobre”. Claro! O antigo rico, que é uma
parcela dessa nova “categoria revolucionária” das manifestações verde e
amarela, ainda não se conformou com os novos tempos.
Na balança… os culpados pelas cifras
perdidas são os que de alguma forma ganharam (mesmo que esse ganho seja em
melhores condições sociais).
É a crise econômica, aliada ao que pode
ser definido como uma crise de identidade de classe, que nos proporciona essa
salada ideológica socada num liquidificador e que culmina num suco tóxico
chamado preconceito.
Às vezes o foco parece esse: se estamos
dentro é esquema, se não estamos dentro é maracutaia. No final, quem está
dentro do esquema não quer sair e quem está fora quer entrar.
É a manifestação do olho gordo. Ela
varia conforme a bolsa de valores. Talvez por isso nos deparamos com pérolas
tipo essa: “sonegar é legítima defesa”. Isto explica porque não
protestam por mais investigação no HSBC (Zelotes).
Como disse um amigo nas redes sociais:
“o país onde o palhaço é preso e o professor apanha”; acrescento: “e ninguém
vai pra rua por isso”.
Para os manifestantes de domingo,
Carlos Marighella é bandido, Dilma é bandida… mas tirar selfie com PM de São
Paulo na mesma semana em que aconteceu uma chacina é normal.
Ainda bem que para o Racionais MC´s a
cor da revolução tem outro valor: Mil Faces De Um Homem
Leal (Marighella).
Já fora do Brasil o fascista não tem
vez. Veja como os Neonazis Ingleses Foram ‘Completamente Humilhados’ numa Marcha em
Liverpool no Final de Semana.
Aqui, os reaças têm vez. As cores e os
valores estão às claras. Em Londrina um jovem foi agredido por vestir uma
camiseta vermelha. Em São Paulo aconteceu algo parecido com outro rapaz que
estava com a camiseta do Che Guevara.
Espere aí bonitão, que tipo de
manifestação popular é essa que o contraditório não tem vez? Porém lembre-se,
há resistência, nós temos a dama de vermelho.
E para as pessoas felizes que acham que
tirar um partido do poder vai resolver os problemas do Brasil… fica aqui a
dica. Também para quem é de esquerda ou de direita… Deleuze neles…
Vale ressaltar que: sim… os partidos de
situação têm culpa… os partidos de oposição… também… e a sociedade… está no
mesmo barco. Se o problema é coletivo, não seria corrupção também
individualiza-lo?
Enquanto se individualiza, um coletivo
de bandidos no Congresso Nacional gera o desequilíbrio.
Olhem o grande desequilíbrio
Torturas já foram aplicadas
Violência gera violência
Os mortos que foram violentados?
Plantando e colhendo
Morrendo são esquecidos
Ilustres nunca foram detidos
Congresso gera o desequilíbrio
Torturas já foram aplicadas
Violência gera violência
Os mortos que foram violentados?
Plantando e colhendo
Morrendo são esquecidos
Ilustres nunca foram detidos
Congresso gera o desequilíbrio
Trecho da música Desequilíbrio da banda Hino Mortal,
do ABC Paulista. Depois foi regravada com mais qualidade pelas bandas Restos de Nada e Inocentes (minha
versão preferida…rs).
*Texto originalmente publicado via Terra Sem Males.