quarta-feira, 21 de setembro de 2011

(Olho de Gato) Capítulo II - Nego Tainha: o pirata de Itapema

Durante um período da minha vida, morei na cidade de Itapema, Santa Catarina. Lá perdi a credibilidade por causa de meu amigo Olho de Gato. Num período em que todos estavam sem referência, tentei ajudar ao indicar meu amigo detetive pra desvendar um mistério que pairou a região. Porém as coisas não saíram como imaginávamos. Mesmo assim... após um tempo... Olho de Gato me explicou tudo isso que vou revelar a todos vocês...

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Tem uma lenda na cidade de Itapema, Santa Catarina, sobre a chegada de navios piratas, há muito tempo atrás, nos arredores da praia da Sepultura. Lá um grande navio pirata ancorou e seus tripulantes desfrutaram do lugar paradisíaco por um bom tempo. Conta-se também que eles eram fugitivos da marinha portuguesa.

Diz à lenda que o comandante do navio, seu papagaio e um pirata de confiança pegaram um bote, saíram pela costa vistoriando o lugar. Eles tinham um baú cheio de preciosidades oriundas de furtos.

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Enfim o trio que navegava em águas rasas avistou uma baía calma, bela e grande. Era o que precisavam! Uma orla em que pudessem demarcar território e esconder seu tesouro.

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Os piratas esconderam o tesouro na areia do que hoje é Meia Praia – Itapema – e voltaram pro navio. Já em alto mar, houve um confronto com a marinha portuguesa e a destruição dos transgressores foi inevitável. Não sobrou ser humano pra contar história.

Porém o papagaio escapou! E foi dele que propagou essa lenda...

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Após anos em que tudo isso aconteceu, o intrigante, em Itapema, é que na década de oitenta, auge da lenda do tesouro, candidatou-se a prefeito da cidade um jovem cujo nome eleitoral era Nego Tainha. Este político tinha uma criatividade impressionante, além de uma grande estratégia política. Seus principais eleitores eram pescadores do costão da cidade, além dos moradores dos bairros que ficam do outro lado da BR-101, estrada que liga o município a capital catarinense.

Nego Tainha usava a lenda do tesouro em sua campanha. “Eu não sou baú pra guardar dinheiro”, gritava ele em seus comícios. “Eu achei o tesouro, eu tenho o dinheiro”. O povo gritava, na esperança que dias melhores estavam por vir.

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É bom deixar claro que essa região do litoral catarinense apresenta grandes índices de desigualdade social. O progresso chegou junto com especulações imobiliárias e grilagens de terra na região.

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“Eu não sou baú pra guardar dinheiro”, gritava Nego Tainha. Esse slogan de campanha deu a vitória ao jovem político e, mesmo após eleger-se prefeito, manteve seu estilo pescador de ser... (se vestia como pescador e falava como pescador), também manteve sua palavra quando disse que não guardaria dinheiro, assim começou uma obra no centro de Meia Praia.

Ergueu, na rua 230, o que era pra ser um grande shopping. Porém o que há lá até hoje são carcaças daquele que também virou lenda, junto com seu tesouro – atualmente demoliram o que havia restado da obra, provavelmente vão erguer outro ostentador financeiro litorâneo.

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O fato é que na campanha do Nego Tainha, ninguém sabia de onde ele tirava dinheiro, pois não fez acordos políticos com empresários, não devia pra ninguém, o município estava sem verbas trazidas por deputados e sua arrecadação, na época, era muito baixa.

Mas a obra estava a todo vapor. O trabalho era 24 horas e as pessoas se excitavam com tudo aquilo.

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Aí vem mais uma lenda que cerca a Costa Esmeralda. Da noite pro dia Nego Tainha e inúmeros pescadores da região sumiram! O barulho parou, a excitação passou a ser desânimo. Ninguém entendeu nada. O que aconteceu? Cadê o prefeito? Os pescadores?

Numa busca a casa de Tainha, a polícia encontrou desenhos de um navio antigo, manuscritos preciosos que provavelmente o prefeito havia esquecido. Com muito espanto foram recolhidas inúmeras provas naquela casa e numa perícia o espanto! Concluíram que Nego Tainha realmente era um pirata.

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Impressionante como ele pôde deixar aquelas provas em sua casa. Será que foi pra sabermos que ele era um pirata? Mais uma lenda estava na cidade. Um mistério ainda maior surgiu quando viram um baú velho e vazio. Será que ele achou realmente o baú? Será que aquele era o legítimo baú?

Só restava uma opção, ir até a obra no centro de meia praia. Quando entraram, o espanto ainda maior. Não havia obra interna, era só a carcaça. Por dentro havia um amontoado de madeira e ferro. Desenhos de navio. Sim! Eles usaram a estrutura pra construir um navio!

Porém como saíram sem despertar a atenção das pessoas?

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Mais um mistério, mais uma lenda na cidade. Ninguém sabia o que havia acontecido. Por isso foram atrás de uma pessoa que pudesse esclarecer os mistérios envoltos em tanta informação duvidosa. Foi aí que eu indiquei uma pessoa. Assim chegaram ao detetive insano Olho de Gato.

Em pouco tempo na cidade, ele logo achou diversas provas que levaram a concluir que Nego Tainha havia viajado em direção ao norte!

Perguntei pra Olho de Gato o “por quê?” da conclusão. Ele só respondeu: “o tempo e o vento irão dizer que estou certo”. Só me faltava essa agora! Com uma conclusão superficial dessa, o detetive foi mandado pra puta que o pariu. Não tinha nada que indicasse essa definição!

As surpresas não param, ainda mais quando falo do meu amigo detetive. Ele continua me mandando algumas cartas surpreendentes, como sempre.

Dessa vez ele quis explicar seu fiasco investigativo em Itapema. Mais uma vez ele surpreende, não sei... as coisas acabam se encaixando no decorrer do tempo...

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Segundo Olho de Gato em sua carta mais minimalista:

“Olha meu nobre amigo, quando estive em Itapema pra resolver um caso como aquele, sabia que só o tempo poderia acalmar a ansiedade de toda uma comunidade. Não adiantaria eu chegar lá naquela época e explicar a situação, ninguém iria entender. Nem você, que foi quem, na época, conseguiu me contatar.

Por isso esperei o tempo passar. Existem idiotas que brincam com a realidade ao achar que qualquer algo estranho é ficção, mas cuidado ao fazer isso, pois o buraco é mais embaixo e se tratando de piratas, aí sim que é bom ficar ligado.

Eles nunca deixaram de existir, simplesmente sabem os atalhos. Te devo justificativas de muitas histórias que deixei inacabadas, mas esta, em especial, não poderia deixar passar em branco.

Meu nobre amigo, quando vi que Nego Tainha havia saído com seu navio, logo conclui que ele havia ido pro Caribe (por isso, na época, disse que ele havia ido pro norte), pois a lenda do ‘Papagaio Caribenho Imortal’ deixou de ser lenda quando o vi em Itapema rondando nossas cabeças.

Pouca gente sabe disso, mas no Caribe existe um papagaio de pirata que sobrevoa nossas cabeças, o tempo todo. E Nego Tainha sabia enrolar muito bem pelo que sei. Isso é só com ajuda de um papagaio de pirata. Quem entra na política e se sai bem como poucos? Recupera um tesouro pirata antigo ali escondido e sai sem deixar vestígios? Precisamos entender que muitas organizações surgiram simplesmente pra desviar o foco... como a Disney, por exemplo!

Os magnatas guardaram na gaveta a história que escrevi, quando a deram vida, usaram da ficção e a levaram pro entretenimento.

Porém tudo tem seu retorno, mesmo que demorado. Entenda meu amigo, vou clarear as coisas pra você... Holywood também é um papagaio de pirata, Costa Esmeralda é uma alusão ao Pérola Negra e Nego Tainha é Jack Sparrow”.

ASS: João Chimbica (O Olho de Gato).