quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Liberdade 2013! – levante da cadeira e deixe ela afundar




Agora é tempo de levantar   
Você há tempos quis isto (esquisito)  
E de tonelada em tonelada  
Tudo que na cadeira deixou
Esquecerá pela estrada  

Minutos eram horas
Horas não passavam ali (como aqui)
Sua cadeira se tornara um abrigo  
Você preso em bolas e correntes
E sua mente afundava contigo

E vejo que veio um lampejo
Na veia do ‘véio’ desejo (devagar)
Em passos que idiotas desdenham
Ignoram sementes plantadas
Que só os mestres colheitas mapeiam

Sentado com o tempo dá dor
E dói com tempo de inércia (para todos)
Mas de tempos em tempos se crê  
Como todos de tempos em tempos
Vislumbram o que não se vê

E só assim é que se vai
Quando da cadeira se subtrai (o seu peso)
O peso da âncora que amarra
Seu pé sua perna sua alma
E ao perceber se levanta com garra

Para brindar um íntimo sentimento  
Os mesmos de ontem (e do futuro talvez)
Dos atos de levantar
São atos que queremos todos
Como um sonho liberdade alcançar...   

Jornalismo investigativo, medo e ameaça invisível: Gutenberg não se cria nos dias de hoje

  

Guto Berg abre mais uma vez o jornal Gazeta do Povo, coloca o diário em cima da mesa. Uma mão coça a cabeça e a outra se ergue para chamar a garçonete. Ele está num café, são 7 da manhã. Visivelmente inquieto, pede um café puro. Reflete: “os bons pagam pela sua competência” – faz um sinal de negativo com a cabeça e acende um cigarro.  

O Paraná é o estado mais perigoso para os jornalistas no Brasil. Dos oito assassinatos no país, três foram em território paranaense. O último mês de 2012 marcou um fato de repercussão nacional: quatro jornalistas da Gazeta do Povo foram ameaçados após matéria investigativa em que policiais estão envolvidos.  

Algumas informações na mídia mostram jornalista sendo processado até por texto ficcional, como caso ocorrido no Sergipe.

“Morreram mais jornalistas no Brasil em 2012 que no Iraque, Gaza e Afeganistão” – chamada no Portal Imprensa que explica o risco de ser jornalista em território nacional. O Brasil é quarto no ranking mundial de insegurança para a categoria.

Também um estudo divulgado este mês pela Campanha Emblema para a Imprensa (PEC, sigla em inglês), mostra que este ano foi o mais sangrento para os jornalistas desde a Segunda Guerra Mundial.  

Enfim Guto Berg recebe seu convidado:

- Bom dia filho!
- Bom dia pai!

Berg é jornalista, conhecido mundialmente. Profissional atualmente muito visado, pois tem um blog pessoal que faz análises da imprensa. Também é palestrante e viaja todo o mundo. Quem chega para a conversa é seu filho mais novo, 30 anos, policial militar. A relação dos dois sempre foi tensa: o caçula da família sempre bateu de frente com o pai. Se o jornalista é libertário, seu filho é conservador.

- Você tem acompanhado o que vem acontecendo com alguns jornalistas aqui no Paraná meu filho?
- Não! Ando numa correria danada, não dá tempo pra ler nada...
- Pois é, sei como é...
- Sim... E como sabe – respondeu irônico.
- Quer alguma coisa: um café? Um doce? Um cigarro? – sorriu irônico Berg, pois sabia que seu filho odiava tabaco.
- Não. Na verdade estou com muita pressa. O que você quer afinal?
- Queria apenas conversar sobre essa situação, entender o que está acontecendo. Matérias investigativas denunciam corrupção na polícia. Não é nenhuma novidade. Sei que você sabe se cuidar e que isso não tem ligação contigo. Mas me preocupo.  Achei também que você soubesse de algo...
- Não. Não sei. Já disse.
- Tudo bem.
- É só isso?
- Sim. Ah... Outra coisa. Não comente com ninguém que conversamos sobre isso. Ok?
- Só isso mesmo?
- Sim.
- Ok.

Guto Berg não entende o caminho oposto escolhido por seu filho. “Parece que ele sempre quer me irritar com essa arrogância e esse conservadorismo!”. O jornalista muitas vezes esteve ausente e não acompanhou o crescimento dos seus filhos. Porém o mais novo não trata Berg com respeito. “Esse cara respeita mais a hierarquia policial, as ordens de superiores ou de políticos, do que um café com seu próprio pai” – abaixou a cabeça e apagou seu cigarro no cinzeiro.    

- O que seu pai queria? – perguntou o parceiro de trabalho do PM.
- Besteira dele.
- Tipo o que?
- Aquelas histórias dos jornalistas lá...

Os dois seguiram na viatura rodando por Curitiba.

“Me parece que a comunicação não pode atingir alguns pontos dentro das camadas hierárquicas do poder. Há um vespeiro de escravos do crime prontos para agir. Vão contra a própria sociedade” – rascunhou Guto Berg. Em seguida levantou e foi em direção ao caixa pagar a conta. Estava pensativo: “como pode! A polícia sendo investigada, o GAECO no caso, a opinião pública falando sobre isso e meu filho não sabe de nada?” – fez um sinal de desaprovação, pagou sua conta e foi pra casa.
                                                                               
O outro PM, parceiro do caçula do jornalista, enquanto rondavam pela cidade, parou na tradicional ‘padoca’, ponto em que sempre fazem uma pausa. O filho de Berg foi até o balcão e seu companheiro foi ao banheiro. Lá fez uma ligação:

- Seguinte: o Berg anda sondando.
- Qual dos dois?
- O velho.
- Certo. Deixa comigo. E o soldado?
- Esse é sossegado. É dos nossos.
- Positivo.

Guto Berg prepara sua palestra quando o telefone toca:

- Alô.
- É o Berg?
- Sim... Quem é?
- É o Berg, aquele jornalistazinho de merda?
- Quem está falando?
- Não interessa. O negócio é o seguinte, cuidado com o que anda procurando por aí...
- Quem é que está falando? – quase gritando e nervoso.
- Cuidado com tua família!
- Como é que é?... – linha cortada.

Não foi a primeira ameaça que o jornalista recebeu na vida. O que incomodou foi que o atual contexto o deixou ainda mais assustado!

“Hoje vivemos em um período, na comunicação, que me assusta! Vocês podem achar estranho eu falar isto. Mas quando os “justiceiros” (fez o gesto de aspas com as mãos) protegem os coronéis do novo milênio, significa que o sistema autoritário que vigora em nossas vidas está cada vez mais legitimado. E isso através da imposição do medo, do abuso do poder econômico. Se antes havia bandidos contratados, hoje alguns deles são concursados e abrem as portas para que a sociedade se torne refém de si mesma!” – introdução de Guto Berg para sua última palestra antes de ser assassinado misteriosamente na porta da sua casa.