quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Qual a maldição do serial killer burguês?

Aquele jovem serial killer está com os nervos a flor da pele. Imaturo demais pra saber a hora certa de agir. Seu sangue ferve em busca de ação. Precisa ver sangue. Quer o prazer de desfrutar do pecado voraz e infame de transgredir as ordens estabelecidas.

“Preciso matar... preciso agir” – pensa deitado em sua cama ao olhar pro teto. Com as pernas esticadas, os braços dobrados pra trás e as mãos na nuca, já não aguenta a mesmice da estagnação. Imóvel como uma caixa e vazio de fazer eco, se questiona o por que? disso tudo.

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“Essa bosta de noticiário. O Hamas não é mais o mesmo. Não consegue um ataque realmente bem sucedido. Israel e sua covardia... também com os EUA a todo vapor por trás. Agora o Obama está na jogada. Vamos ver o que ele vai mudar na história! Esse negócio de posse com mais de 40 mil seguranças! Aí vem com essa de esperança...

Vamos ver até aonde vai a fé dos ianques. A crise já chegou ao Brasil e eu também estou frustrado. Demissão em massa é o que vejo. Vontade de matar é o que sinto. Estão dizendo que o primeiro semestre será de 3 milhões de demissões... bom... já estamos nos 600 mil... então isso é provável. Esta é a esperança...

Um exército de desempregados a vagar por aí, na calada da noite. Espero a minha vez, surgirei como um espectro maligno e saciarei minha vontade de matar. Satisfação em vê-los meros débeis controlados pelas mazelas desse mundo que nada fornece além de morte, destruição e desigualdade”.

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A frieza do seu pensar. Levanta de sua cama e caminha de um lado pro outro. Pensa em sair do seu aposento confortável e bem sucedido. Ele é bem informado, tem boa educação, mas a face da morte não escolhe classe. Deixou suas ferramentas em outro lugar da casa.

As coisas já estavam sendo reprimidas ao seu redor. Então a melhor forma de segurar a barra é deixar a poeira baixar. Porém o vício não o deixa em paz. Precisa de mais e mais... é assim com quem quebra as regras. Pode ser essa a maldição... mas para quem tem várias formas de transgredir, qual é a real maldição do transgressor?

Nem este jovem serial killer sabe responder. Aliás... ele não entende o que se passa em sua mente. Somente segue seus instintos. É como um consumista desenfreado que necessita mais e mais ir a shoppings desfrutar dos prazeres das vitrines. Estão a te esperar.

É como a TV que está a te esperar também. Com muita paciência e de forma demasiada eficaz. Todos são capturados numa luta de assassinatos neurológicos. De certa forma não há como fugir... nem mesmo este nobre serial killer que está a refletir sobre qual será sua próxima ação sanguinária e covarde.

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“Droga... é tempo de matar... agora é tempo de matar. Nada como enfiar os braços num corpo ainda quente e ver o sangue brotar. Essa vermelhidão me deixa pacífico! Posso ser um vampiro. Posso ser um caçador. Posso ser o que bem quiser, sou meu próprio patrão... dito minhas próprias regras.

Enquanto esmago toda inocência de um ser indefeso, posso ter minha trilha sonora. Ataco pelas costas se for preciso. Me escondo nos escombros de uma guerra civil. Posso matar criancinhas que choram por eu já ter matado vossas mães. Não existe limite pra mim...

Perco a linha de raciocínio se não agir logo. O tempo passa e as coisas se alteram. Não dá pra esperar. Sem mérito... não quero mérito em minha vida. Já disse que é tempo de matar. Maldita hora em que experimentei o gostinho disso tudo. Não consigo parar... não dá mais... estou na estrada das sombras... não entendo as placas e não sigo mais sinais... já era”.

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Passam as horas e ele senta. Olha em frente ao espelho. Logo vira-se pra janela e lá fora uma luz dos faróis de um carro refletem no seu quarto. Não há tempo pra mais nada, todas as suas idéias são aniquiladas. O jovem serial killer está mais uma vez sem rumo.

A maldição de um transgressor moderno. A maldição de um transgressor do novo milênio. Se perdeu em seus sonhos esquisitos. Foi afundando em meio a confusão virtual. Ele não tem mais vida. Sem sonhos. Só resta a TV no quarto.

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O jovem de 19 anos é reflexo de uma geração. Abandonou a faculdade. Tinha a grana dos velhos pra gastar. Gastou em pó, crack, êxtase e ácido. No seu quarto nem som. Interditado por seu pai que teve pulso firme depois de tanto fechar os olhos... não há mais clínicas pra enganar, nem amigos pra enrolar.

Este é o imaturo serial killer da nova geração. Seus problemas estão a começar. Seu ódio e rancor de estar trancafiado são ínfimos perto do que tem na cabeça. Só pensa merda e não consegue enxergar esperança, pois o que de mais valor considera está no quarto ao lado. Sim... em mais um quarto trancafiado...

A abstinência o domina e pra ele tudo acabou...

Está sem seu video game...

Game over.