Como se já não bastasse
estar ao lado de um lunático, os noticiários não ajudavam muito. Crime por todo
lado, uma mulher mata o marido e foge com a filha, fotógrafo retrata os
fumadores de crack nas ruas das cidades. Parece que a tendência é tudo estar
cada dia pior. Não que eu esteja pessimista, mas como que pode tudo ficar
estampado bem na nossa cara. Ainda por cima a sensação de impotência torna-se
maior quando sabemos que tudo fica nas mãos da lei e essa, muitas vezes, só tem
olhos voltados pra alguns.
Meu inferno astral piora quando vejo Olho de Gato e seus produtos derivados da Colômbia.
Meu inferno astral piora quando vejo Olho de Gato e seus produtos derivados da Colômbia.
- Você não tem fim
mesmo... porra... há quanto tempo não dorme?
- É da sua conta? Não
posso dormir, as coisas estão cada vez piores!
- Mas como você pode
saber, está trancado aqui e não deixa nem eu comprar jornal!
- Você deveria ter
assinatura de um jornal ao invés de ficar reclamando.
...
Questão de tempo pra alguém bater na minha porta. Não estava indo ao trabalho, não dava as caras em lugar algum.
Questão de tempo pra alguém bater na minha porta. Não estava indo ao trabalho, não dava as caras em lugar algum.
- Daqui a pouco vem
alguém aqui atrás de mim, e aí? Como vamos agir?
- É fácil, é só não
abrir a porra da porta.
Não tinha mais conversa.
Pior era estar vigiado por insetos, já ter levado choque do meu próprio
celular. “Esse cara pensa que é quem, preciso fazer alguma coisa”, penso com
meus botões.
- Aí Olho de Gato, vou sair um pouco, não aguento mais.
- Aí Olho de Gato, vou sair um pouco, não aguento mais.
- Se pisar fora daqui,
te mato.
Ele estava muito chapado
pra eu duvidar. Sentei numa poltrona e me embalei. Mesmo com ânsia, mandava pra
dentro o que meu corpo já repudiava.
- Porra cara, essas
paredes tão me massacrando!
- Calma cara, calma,
deixa a poeira baixar – tudo que ele falava era uma facada na barriga.
...
Toc Toc Toc...
Toc Toc Toc...
- Ei irmão! Está aí?
Sabia que isso iria
acontecer. Olho de Gato fez sinal pra eu não dizer nada, mas foda-se.
- Quem é?
- Porra... abre essa
porta... é o Fábio.
- Espera um pouco
cara... já estou saindo!
Peguei uma jaqueta e
saí... Olho de Gato estava com sangue no olho, mas arrisquei...
...
- Por onde você anda cara?
- Por onde você anda cara?
- Vamos nessa, depois te
explico.
Saímos e eu sugeri um
boteco, era disso que precisava. Andamos umas quadras, eu acelerado e meu
camarada só de canto de olho querendo me perguntar algo que eu sabia o que era.
- Tá tá cara... estou
desse jeito mesmo, não está vendo?
- Porra... tá festando e
nem chama os camarada... é assim?
- Qual é cara... o que
está pensando... acha que eu to numa boa?
- E não está?
- Eu to na merda cara...
na merda.
Sentamos no boteco e começamos a beber.
Sentamos no boteco e começamos a beber.
- Então... tua gata não
para de me encher o saco, não sei mais a desculpa que dou!
- Pois é... to sem
comunicação por uns dias.
- Você tá é sem noção,
como isso aconteceu? Se fincar desse jeito?
- Não posso te falar
nada meu chapa, o buraco é mais embaixo!
Continuamos a beber
nossa cerveja. Esse breve momento com meu camarada aliviou um pouco minha
paranóia.
...
O boteco estava lotado, pessoas indo e vindo. Muita gente estranha.
...
O boteco estava lotado, pessoas indo e vindo. Muita gente estranha.
- Então, vamos nessa? –
perguntou Fábio.
- Não cara... está cedo
ainda.
- Cara... eu ainda não
larguei meu trabalho.
- Eu sei, mas está cedo
porra! - falei nervoso demais, Fábio se assustou, mas consentiu e ficou pra
mais algumas cervejas.
Depois de uns minutos
Fábio disse:
- Aí... tem um cara muito estranho nos olhando.
- Aí... tem um cara muito estranho nos olhando.
Eu tremi na hora.
- Porra... esse cara não
me dá sossego!
- Que cara meu?
- Nada nada... quem é
que está nos olhando?
- Lá no fundo, perto das
mesas de sinuca.
Esperei um pouco e
olhei. Era um cara meio estranho, acho que não era Olho de Gato, parece que
este disfarce ele não teria a capacidade de fazer. Cabeça raspada, barba por
fazer, magro e pelo que percebi chapado de maconha... não era o caso daquele
lunático.
Mas uma pulga começou a me coçar. Se Joe Joe Jabadu Junior era angolano, pode ser que aquele careca seja um espião dele.
Mas uma pulga começou a me coçar. Se Joe Joe Jabadu Junior era angolano, pode ser que aquele careca seja um espião dele.
- Acho melhor irmos
embora mesmo né!
- É, está na nossa hora.
- Então vamos nessa.
Saímos fora. Fomos em
direção a minha casa, paramos em frente ao prédio, Fábio foi e eu entrava, mas
resolvi dar um tempo ali mesmo.
O cara magro passou e seguiu a rua. Fui atrás dele, o segui um pouco. Estava na direção da casa de meu amigo, achei meio estranho... mas seguiem frente. Como um
ninja, aquele cara pulou o portão da casa de Fábio, eu parei do outro lado da
rua. “Que porra é essa!”, pensei ao ver o cara bater na porta.
O cara magro passou e seguiu a rua. Fui atrás dele, o segui um pouco. Estava na direção da casa de meu amigo, achei meio estranho... mas segui
Quando Fábio abriu, só
vi os golpes de facada, uma sequencia rápida e profissional, sem chances.
Não sabia o que fazer, minhas pernas começaram a tremer. “Que merda... o que é isso” – pensei em chamar a polícia, mas meu destino já estava traçado, voltar ao apartamento e me encontrar com um lunático com mania de perseguição. Aquele maldito que matou meu amigo empurrou o corpo pra dentro da casa. “Agora é hora de fugir, um jornalista a menos! Um amigo a menos” – corri.
Não sabia o que fazer, minhas pernas começaram a tremer. “Que merda... o que é isso” – pensei em chamar a polícia, mas meu destino já estava traçado, voltar ao apartamento e me encontrar com um lunático com mania de perseguição. Aquele maldito que matou meu amigo empurrou o corpo pra dentro da casa. “Agora é hora de fugir, um jornalista a menos! Um amigo a menos” – corri.
Após duas quadras já não
tinha mais pernas e meu coração saía pela boca. Percebi o que realmente
aconteceu, um grande amigo foi assassinado e eu não fiz nada! Vomitei! Aí
vieram as vertigens e tontura. Estava na hora de voltar.
...
Abri a porta. Levei um susto. Olhei pra Olho de Gato e ele estava sentado vendo o noticiário.
...
Abri a porta. Levei um susto. Olhei pra Olho de Gato e ele estava sentado vendo o noticiário.
- Resolveu ligar a TV
então? – ele me olhou com raiva, ódio... queria me matar! Eu continuei...
- Calma cara, só fui
tomar uma gelada com o meu camarada.
- Sinceramente meu nobre amigo – Olho de Gato levanta e começava a falar pausadamente...
- Sinceramente meu nobre amigo – Olho de Gato levanta e começava a falar pausadamente...
- Estava analisando a
situação, vi o noticiário. Sabe que nunca me fez tão bem assistir essa bosta...
ou melhor... não a bosta da TV. Vi na net algumas coisas, algumas notícias,
depois sim... coloquei num canal de televisão... mas não vi nada que me
agradasse, isso em relação ao assunto que está diretamente ligado a você.
- Vixi... você está ruim
ein camarada.
- Não sou seu camarada,
até pensei em colocar você na história do jornalismo, afinal, é credibilidade
pra um detetive como eu ter uma biografia escrita por um jornalista, não é?
- Pois é... mas onde
você está querendo chegar?
- Na verdade eu chego
aonde eu quero, já você... bom... seus minutos estão prestes a acabar.
- Do que está falando?
- Olhe a sua volta, não
percebeu nenhuma mudança?
Olhei meu apartamento. Meu celular estava em cima da mesa, encostei e não dava mais choque. Olhei em cima dos cômodos e não vi os insetos de guerra, com suas câmeras escondidas.
Olhei meu apartamento. Meu celular estava em cima da mesa, encostei e não dava mais choque. Olhei em cima dos cômodos e não vi os insetos de guerra, com suas câmeras escondidas.
- Está de partida?
- “Sim... estou.
- Ótimo.
- Pra quem?
- Pra todos.
Olho de Gato estava com
uma cara muito serena, me preocupou aquele jeito frio que ele não havia
demonstrado até então.
- O que está
acontecendo? – perguntei.
- Olha, já disse,
gostaria de ajudar, tornar você famoso, escrevendo a minha biografia, fazendo
um trabalho jornalístico. O fato de você ser um jornalista e eu estar sempre em
contato contigo, de certa forma, era importante pra mim, mas agora não é
mais...
- Ué... o que aconteceu?
Só por que saí pra tomar uma cerveja?
- Não cara... não é por
isso... já matei gente por menos.
- Então qual é a pira?
- Você já fez algo fora
do jornalismo na sua vida?
- Não, só sei fazer isso
mesmo.
- Então acho melhor eu
te matar de vez...
- Qual é cara?
...
Olho de Gato ficou me enrolando até finalmente dizer:
...
Olho de Gato ficou me enrolando até finalmente dizer:
- Você sabe que sua
profissão já era né, jornalista não existe mais... seu diploma não vale pra
nada.
- Isso vai se reverter, eu
tenho certeza.
- Acho que dessa vez não
vai não.
- Cala boca... claro que
vai, minha profissão é importante, nós somos o reflexo da realidade, a tradução
de toda essa porra, só nós sabemos traduzir isso pra vocês.
- Mas não é o que pensam
os juízes, a lei não pensa assim.
- Não seja irônico, onde
está querendo chegar?
- Quero dizer que vou
pra outro país levar minha biografia pra alguém que seja realmente
profissional, um jornalista, aqui não existe mais isso.
- Você está de
brincadeira não é?
- Não.
...
Aquele insano conspirador filho da puta, aspirador de pó, assassino, espião, terrorista, lentamente tirou sua arma, uma 380, com silenciador, apontou pra mim e mandou uma bala na minha cabeça.
...
Aquele insano conspirador filho da puta, aspirador de pó, assassino, espião, terrorista, lentamente tirou sua arma, uma 380, com silenciador, apontou pra mim e mandou uma bala na minha cabeça.