segunda-feira, 8 de setembro de 2008

CAPÍTULO IV

A eterna luta...

CONFRONTO FINAL

- Mãe! Apareça... mãe! – grita Barbosa.
- Vai morrer... – uma voz na escuridão surgiu, voz rouca junto com um ranger de dentes.
- Apareça mãe... – com tom de desespero – traga meu irmão!
- Vai morrer... vou matar você – a voz se aproxima.
- Apareça sua bruxa velha maldita...


Barbosa vê um vulto em meio aos trilhos, na escuridão, caminhando em sua direção. Diminui o passo, está na defensiva. O vulto continua vindo. Um sorriso? A silhueta mostrava sua fisionomia. Um brilho em volta da face.

- Está com medo Soldado Barbosa? – ironiza aquele vulto – quer conhecer seu irmão?
- Por que você está fazendo isso?
- Não estou fazendo nada! Ainda – soltou uma gargalhada e num salto surreal atingiu Barbosa com os dois pés no peito.

Barbosa voou uns quatro metros pra trás, caiu de costas. Quando abriu os olhos se viu em forma de monstro, sua face flagelada, sangue escorrendo entre os dentes, sangue nos olhos, viu a morte em pessoa e ela tinha sua face. O sangue brilhava no escuro.

Como auto defesa deu uma cabeçada contra aquela coisa que estava face a face com ele. Levantou e foi pra cima. Soco na cara do seu irmão, mas era como se batesse num boneco de sangue. Num determinado momento levou um contragolpe. Um soco que quase arrancou sua cabeça. Caiu sentindo muita dor. O sangue escorre.

Novamente face a face com seu irmão. Um cheiro horrível... sangue, podridão, sujeira.

- Vai morrer... vou acabar com você – cuspindo sangue, babando sangue.
- O que você quer? Quer riqueza? – soltou o que seu coração mandou – Eu sou rico! Me leve. Já fiz o que deveria ser feito neste mundo. O que está ao meu alcance. Quero brigar contigo em outro lugar...
- Quer? É isso que você quer Soldado? – ironizou... a face era de Barbosa, mas quando falava lembrava muito o jeito da sua mãe... uma mistura, uma posse diabólica.
- Sim... é isso que eu quero – e cuspiu na cara do irmão.
Após essa atitude Barbosa levou um soco no estômago, cuspiu sangue com o golpe. Se arrastou pra longe daquele monstro. Tosse, dor, sangue. Com dificuldade conseguiu levantar e num ato rápido e inesperado sacou uma faca no seu coturno e cortou o próprio pescoço.
- Não! – gritou seu irmão – Não! Não!

O corpo possuído começou a se contorcer. Deitou no chão e com gritos e urros deitou de costas pros trilhos. Foi se arrastando até seu irmão que estava agonizando. Vendo sangue jorrar, pegou a faca... naquele momento duas forças brigavam em outro lugar. O irmão de Barbosa, o filho de Peixoto contra a mãe bruxa.

Duas personalidades em luta. A bruxa não queria a aproximação dos irmãos. Barbosa usou suas últimas forças e se arrastou até seu irmão, imaginou sua própria morte. Quem o matará? O motivo, a razão, o covardia do suicídio: sua mãe, a bruxa.

A força do pensamento de Barbosa levou seu irmão a ver sua morte como um assassinato. Quem matara havia sido sua mãe, o possuindo. A briga entre as consciências foi tamanha que o irmão do policial acreditou no assassinato do irmão, levando a bruxa pro corpo já morto do Soldado Barbosa.

Peixoto havia preparado seu filho seqüestrado. Num corpo morto, quando o espírito ruim é encaminhado, há o descanso diabólico. Dessa forma, apenas assim, é possível, não vencer, mas dominar aquilo que é chamado de força maligna. Quando há o conflito entre a mentira covarde e a mentira gananciosa, há uma estagnação da maldade.

Naquele momento, a face de Barbosa levantou e olhou pra seu irmão que estava com o mal dentro de si, estagnado pelas forças malignas que vossa mãe dominava em vida e em morte, se ajoelhou, pegou a faca que estava em seu coturno e arrancou os olhos da ganância, depois a língua da covardia e por fim o coração da maldade.

Após o ritual, o corpo do Soldado Barbosa pegou fogo, seu vulto foi pego pelos braços dos espíritos e foi levado pra outro plano. Não perdeu a audição, pois como dizia Peixoto: “temos mais pra ouvir do que pra falar”. Essa seqüência tinha uma conclusão: aquele homem precisava eliminar os restos da mãe bruxa. Ela enxergaria as chamas de suas maldades, se afogaria em suas mentiras e seria, como reversão de todo mal, fonte de energia carnal.

O ritual final deveria se passar aonde há predominância do bem. Assim, o irmão de Barbosa foi até a nascente do Rio Morretes, na Serra do Mar. Lá acampou. Meditando em plena natureza, envolto do esplendor da mata e por águas cristalinas.

Seguiu os mandamentos, fez fogo e junto com o nascer das chamas queimou os olhos da ganância. Amarrou a língua numa pesada pedra e afogou a covardia. Enfiou o coração da maldade numa lança afiada e o deixou no fogo até a hora certa de se alimentar. Após a fonte de energia estar revertida, tornar-se alimento, comeu e adormeceu.

O pesadelo que antecipa o sacrifício é a etapa mais difícil. Após esse processo, cabe ao ser humano decidir o caminho a seguir. Assim, ao acordar, ou aquele homem elimina tudo aquilo que foi cultivado pela bruxa ou corre o risco de se inserir novamente entre nós mortais seres humanos, passíveis de erros.

Ao levantar, sentiu o sol da manhã, ouviu a natureza cantar, a nascente brilhar. O cuidado é nesse momento, a decisão é agora. Ao se abaixar pra lavar o rosto, aquele homem viu seu reflexo na água, na nascente do rio.

O momento é esse. O primeiro plano não é humano, porém se ele enxergar seu reflexo e sorrir, é possível que o narcisismo implícito nos seres humanos sobreponha o caminho a triunfar. E ele sorriu. Assim, aquele homem decidiu voltar como Soldado Barbosa e correr o risco. Podendo nascer novamente como ser humano ou se colocar em primeiro plano, alimentando a ganância...
...

Cuidado com seus segredos, pois num simples toque, a morte pode mostrar o caminho. Você irá a seguir.