segunda-feira, 3 de agosto de 2009

AS CORTINAS SE FECHAM

Este é o último relato que se tem da vida de Olho de Gato.

Logo será compilado todos os contos relacionados a ele
neste blog.

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se alguém quiser a compilação
passo por e-mail...

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LITERATURA... e é tudo.
Caminho na escuridão e logo vejo um ponto luminoso. Chego perto e lá está um buraco de fechadura. Ele é um pouco mais baixo que minha altura, mas fica flutuando e parece ser grande. Paro em frente e vejo um filme. São pessoas mortas, seus cadáveres estão protegidos e o coveiro usa uma roupa semelhante à de um astronauta.

Logo este filme parece mudar de capítulo. Aí levo um susto, pois avisto Olho de Gato. Reconheço na hora, mas desta vez numa rua. Ele caminha e logo para numa esquina. O semáforo se fecha pra pedestres. Vejo do outro lado da rua um bar com um banner grande e escrito “El Bigodon”.

Associo este nome ao atual disfarce de Olho de Gato, pois ele está uns 15 kg mais gordo do que quando me matou, usa um bigode grande, parece um mariachi. Olhos esbugalhados como sempre, monoselhas e um chapéu mexicano tamanho médio.

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BAR EL BIGODON

As coisas pareciam estar difíceis pra um comerciante “mexicano” na época da gripe suína, mas o bar normalmente tinha alguns fregueses. El Bigodon, ou melhor, Olho de Gato, dizia ter parentes no México e que alguns estavam morrendo de gripe. Mesmo assim ele mantinha uma “estória” de que este vírus era derivado da África, pois lá tem até anúncio pra ser cobaia da indústria farmacêutica.

Ele diz acreditar que essa nova gripe foi mais um experimento que fugiu do controle dos patrões farmacológicos. Assim, segundo El Bigodon, houve uma mutação genética num indivíduo que aparentemente estava bem, mas acabou morrendo e espalhando o vírus inicialmente no México.

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Agora Olho de Gato fala pra alguns bêbados que estão sentados em frente ao balcão do seu bar: “Tudo isso começou quando um africano chamado Joe Joe Jabadu Junior – este é um nome comum na Angola – estava desesperado pra conseguir um emprego. Não tinha mais saída, achava que iria morrer numa sarjeta.

O que vocês precisam entender é que na África, muitos não tem mais saída e aceitam qualquer emprego. Então o jovem africano aceitou uma proposta de um homem branco que aparentemente queria ajuda-lo – ele é dono de uma indústria de máscaras hospitalares e de antibióticos. Mas também tem uma fábrica de armamento biológico clandestina”.

Um dos fregueses questiona: “Mas será que isso pode ter acontecido mesmo?” – e El Bigodon prossegue: “Claro que sim! Se você não tivesse mais saída nessa vida... o que faria? Joe Joe simplesmente aceitou a proposta do cientista. Fez a experiência, ganhou uns trocados e foi viajar.

Seu sonho era visitar Cancun, pois havia visto belas fotos de mulheres gostosas, muita bebida e diversão. Estava atrás da felicidade, mesmo que por um curto espaço de tempo! – “Pode até ser”, diz outro freguês.

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Estou ficando meio confuso. Vejo Olho de Gato de El Bigodon, ele mentindo na cara dura. Será que mentiu pra mim o tempo todo? Ele está usando Joe Joe pra outra finalidade agora! Antes ele era um terrorista! Agora é cobaia. Será que enquanto ele mentia pra mim, havia outro aqui vendo tudo acontecer, mas estava morto e não podia fazer nada? Assim como eu estou agora?

Não há como detê-lo. Ele me usou e está usando outros também. Não consigo matá-lo! Consigo visualizar seu quarto, ele dorme no bar mesmo. Lá está aquela bolsa cheia de armas biológicas. O desgraçado está usando essa pandemia da gripe suína como bonde. Imagino que ele solte antraz e varíola por aerosol! Só pode!

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“Mas você está dizendo que esse africano aí trouxe a gripe? Como?” – questionou um freguês. “Quando Joe Joe chegou no México foi direto pra noite. Queria gastar sua grana por lá, curtir, se divertir. Então tomou um puta porre de tequila numa de suas noitadas. Sua resistência baixou, sofreu uma mutação devido aos experimentos, misturados a mais pura tequila do mundo.

Como ele teve contato com diversas pessoas nos hotéis por onde ficou, bordéis em que freqüentou, pessoas que se relacionou, espalhou este problema lá na minha terra. As pessoas tiveram uma virose não conhecida e morreram. Essas foram às primeiras mortes do que chamam de gripe suína. Ele morreu e todos que tiveram contato também.

Pelo menos ele se divertiu lá na minha terra e infelizmente Joe Joe não voltará pra contar a história, porém durante sua estadia revelou que foi cobaia pra algumas pessoas, mas pouca gente acreditou. Eu acredito”.

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Olhava o desgraçado mentir e queria matá-lo. Mas não posso fazer mais nada. Ele acabou comigo, agora está lá. Observo seus atos e vejo que ele matou uma mosca que voava pelo bar. Usou seu mata mosca, mas após a batida soltou um veneno por aerosol – nesse momento todos no bar estavam com seus dias contados. “Essas malditas moscas que ficam por aqui, lá no México não tem isso!” – disse ele após matar o inseto.

Seus clientes gostavam do bar. E após horas de bebedeira o último freguês se foi. El Bigodon ficou sozinho no bar. Foi até a mosca que havia matado, recolheu sua arma de guerra... sim! Igual a aranha e aos besouros que me mostrara algum tempo atrás. O desgraçado está usando seu arsenal pra acabar com o mundo.

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A morte está presente nas redondezas do bar “El Bigodon”. Os fregueses que antes frequentavam agora estão no IML. Olho de Gato usa a gripe suína, a onda da mídia. As pessoas estão morrendo de verdade. Observo o desgraçado em seu bar. Ele toma mais uma dose de tequila, apaga seu cigarro.

Então tira a mochila preta que estava no seu quarto e vai até o banheiro. O sigo em minha TV Fechadura. Olho de Gato entra, fecha a porta e abre a mochila. Tira uma seringa, arma o pico e manda na veia. Ele está cada dia mais louco.

El Bigodon está com a cabeça abaixada, a seringa balança na sua veia. Acabara de injetar seu antivírus. E agora sentado na privada, extermina os que estão ao seu alcance.

E na porta do banheiro os dizeres: “somos a morte anunciada”.