quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Vai pra ...

Já perdi a conta de quantas doses de absinto tomei. Lá vai mais uma bituca pro chão. Olhava pro vazio, na parede bege da minha casa. Não estou pensando direito. A alucinação da bebida parece percorrer minhas entranhas. Meu rádio está tocando notícias e como não poderia ser diferente, crise política.

Não me preocupo mais com um monte de bosta amontoada esperando por uma bomba que um dia será lançada, mas não explodirá... e ninguém ficará sabendo. Será arquivada, entrará para os arquivos obscuros que serão assinados por seguidores sarnentos dos sarnentos que se mantem firmes no poder, envoltos de lobbies e mais lobbies que só comprovam a eficiência de mais um sistemas paralelo no Brasil: o sistema político.

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Percebo que o absinto faz efeito em mim. O jogo contra a parede... aquilo quebra, cacos de vidro por todos os lados... o líquido escorre e se espalha pelo chão. Estou no fim do cigarro, jogo a bituca no gole e vejo aquele fogo subir. O fogo domina e nele está todo o repúdio ao inalcançável. O circo pega fogo. As bandeiras já foram jogadas no lixo em busca de poder.

Este fogo não vai acabar em mim. Estou perturbado, olho as chamas, sentado em minha casa. Ela é pequena, sem cômodos, só o banheiro. Apenas as chamas, o rádio e eu. A consciência já me pesa, pois me vejo fútil através do calor. Percebo a necessidade bater na minha janela, enxergo a futilidade numa demonstração de status.

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Tudo isso é como um tormento pra mim. Não há mais saída e as chamas me cercam. Está tudo indo pro inferno. Cinzas! E o rádio toca notícia!

"Então Sarney cita Euclides da Cunha!", aonde ele quer chegar. Não sou fã do Euclides, mas esse sarnento insiste em puxar o saco desses republicanos do tempo de Canudos. Se fosse sério, ele respeitaria o já morto escritor, pois foi ele que escreveu pro Estado de São Paulo sobre o fim da Guerra de Canudos. Uma guerra, a descrição de um período histórico brasileiro, uma das primeiras atividades jornalísticas por aqui.

Mas não me importo com eles, o meu desconforto é que os sarnentos são coronéis, eles mandam nas notícias. Elas chegam como eles querem. Por isso Suplicy suplicou! Indignou-se. Quer a cabeça do bigodudo de qualquer forma. Pois sabe que no território eleitoral do velho cacique, as coisas estão diferentes, lá a opinião não é tão pública assim.

Na verdade não tenho mais que me preocupar com isso tudo. O que eu penso também será arquivado, como os dossiês secretos do senado, ninguém ficará sabendo. A culpa não é só minha, por lá também não culpo um canalha, até porque não andam sozinhos.

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O fogo vem, nos domina, é tudo que precisamos num momento em que olhamos pro vazio. Porém ele se apaga e as coisas já não são como sonhamos. Então sobram as cinzas e milhares de degraus em busca do inalcançável.