terça-feira, 25 de novembro de 2008

Vigiar e punir

Ele caiu espumando pela boca, com as mãos no pescoço, deitou no chão e começou a se bater, necessitava de ar e seus olhos começaram a esbugalhar, sua cara começou a ficar vermelha. Até que parou... morreu por volta das quatro da manhã, horário que normalmente chegava do trabalho, era dono de um boteco de jogos. Todos que freqüentavam faziam parte de uma família que dominava a cidade e ditava as regras e as punições.

A família achou estranha a morte daquele homem, seus companheiros de bar, de festas, de jogos, estavam a desconfiar da mulher. Achavam óbvio, estava claro que havia sido a mulher. Eles pensaram: “ela descobriu as putarias do marido e resolveu se vingar”. Quem conhecia o casal sabia que não estava tudo bem. Mesmo ela sendo linda, ele estava sempre nas festas com um monte de puta, torrando uma puta grana.

...

‘Lembro-me com prazer daquele verme espumando pela boca, com os olhos explodindo, me procurando. Senti um poder que é inexplicável, um controle que me realizou por completo. Agora estou aqui, caminhando e recebendo a conseqüência da minha vingança, do meu ódio. Mas senti o poder, o controle de ver aquele que parecia onipotente, intocável, cair depois de chegar de uma noitada’.

...

Ela caminhava pela sala daquela família, com os braços amarrados e os olhos vendados. Estava com uma coleira que se ligava numa corda que lhe dava mobilidade pra andar por um pequeno espaço da sala. Caminhava de um lado pro outro esperando seu castigo. O novo chefe da família chega com um cesto, os membros do grupo assistem tudo. O homem abre o cesto e dele saem várias serpentes. Todos se afastaram a uma distância considerável pra assistir a punição.

...

Primeira picada: ela sente a dor e esboça uma reação, tenta o chute no escuro como defesa. Mas em poucos segundos começa a perder coordenação. Logo recebe vários ataques simultâneos, que a liquidam de forma dolorosa e lenta. O veneno já percorre todo o corpo e começa a corroer o tecido dela. A mulher espuma pela boca e seus olhos quase que saltam e saem pulando como bolas de pingue pongue.

...

Era assim naquela família, da forma que se fazia se recebia. Da mesma forma que a mulher envenenou seu marido, os detentores do poder liquidaram-na de maneira a descontar em forma de punição seu homicídio, sem se importar com quem estava certo ou errado na história.