sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A Pós e o Hiper Modernos

A conversa entre intelectuais nem sempre é levada a sério, até porque sexos opostos têm mais coisas pra fazer do que ficar filosofando o tempo inteiro.

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Cléo estava no seu quarto livro publicado, tinha uma tendência pós-moderna, o que hoje já soa meio que ultrapassada. Ao seu lado estava Carlos, talvez um hipermodernista... o que hoje soa um pouco estranho.

Carlos se dedicava aos trabalhos de audiovisual. Fã de cinema queria ser Oliver Stone... mas faltava um pouco ainda. Glauber Rocha era algo a se espelhar também... e mandava ver na literatura.
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- Aiai... vou pra lá vou pra cá, agora tenho um destino incerto! Passo uma imagem pra alguém, ele olha, não valoriza e continua não dando credibilidade. Mas com o tempo isso muda, as coisas se adaptam – lê Cléo pra Carlos.
- Do que você está falando Cléo?
- Posso ler uma coisinha pra você?
- É longa?
- Mais ou menos...
- Manda...

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“Quando ouço um sabiá cantarolando em meio a fumaça dos ônibus, dos carros, dos cigarros, tenho uma vontade de voar. Quando vejo algumas árvores em meio aos prédios, casas, trânsito, construções, da uma vontade de ficar imóvel.

Vontade, a força da vontade e a força de vontade. Tenho força de vontade numa vontade fraca. Um fogo brando que queima só quando tenho ódio do que vejo. Um monte de escassos capitais de conhecimento dirigindo um bonde que anda há séculos.

Motoristas desatualizados, com peças novas e dinâmicas. A tendência é andar, mas não da forma que se espera uma cabeça pensante, mas sim como andaria uma carroça de boi castrado ou uma carroça de éguas estéreis e mal amadas.

Sendo assim, como não haveria de estar desconfortável dentro do sistema. Se quando tento sair dele, já sinto as pessoas não sabendo compatibilizar o imaginário que está dentro das cabeças.

Uma cabeça paranóica dentro de um sistema consolidado, estruturado e maduro. É difícil não se contaminar, acho que é impossível não se contaminar.

Contaminar-me-ei com todo lixo do sistema e assim como meu apodrecimento biológico vai processando a morte, minha cabeça vai processando a morte do sistema.

Letal como o veneno nas veias, o machado afiado e brilhante no pescoço. O cérebro não vai mais pegar no tranco.

Quero ver quem consegue...”.

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- E aí... o que achou?
- Gostei Cléo, achei muito bom... você e sua vontade de corroer o sistema né gatona...
- Não sei... mas a pós-modernidade...
- Nem vem... deixa ela quieta... fica no campo da literatura que está bem melhor... tenho uma coisinha aqui pra você – e Carlos foi até seu notebook, o abriu no Word e começou a olhar uns arquivos pra ler.

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“Sociedade! Cadê vosso espírito humanitário? Há tanta degradação burocrática que não vejo necessidade de mantermos chefes de estados, líderes políticos, partidários e presidentes de associações sindicais.

Já fui favorável, num tempo esperançoso, a toda estrutura estatal, dos planos políticos pra melhorar a condição do povo. No entanto as coisas mais sem fundamento acontecem justamente onde não gostaria que acontecessem.

Entupindo os dutos condutores burocráticos, assim me vejo. Uma pedra filosofal imóvel, raivosa, calorosa, cheia de amor e ódio e outras coisitas más.

Derrubo a facilidade que é ficar parado, aí minhas mãos vencem e me levam às linhas infinitas que aqui estou.

Superficial é o início. Com o passar do tempo às coisas se aprofundam, vão para vários pontos, muitos destinos, até se perderem no crepúsculo multilateral eterno do início do conhecimento.

Aliás, as pessoas têm pouco a declarar. Não que não exista discussões, mas é que uma superficial auto-suficiência acaba dando efeito vazio. Quero dizer que devido ao baixo nível de profundidade argumentativa das instituições, vejo que também sou supérfluo”.

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- E aí gata... o que achou?
- Gostei viu...
- Pega pra você, leia, mude, adapte pra sua forma. Certo?
- Certo.

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Aqui a pós-modernidade aceita algo pronto, até porque pro pós-moderno dificilmente se cria novas perspectivas além de copiar e modificar. Isso já é uma nova perspectiva pós-moderna.

Porém, o hipermoderno não está nem aí pra isso tudo... se criou algo novo, não se importa em passar pra outro. Que outro assine, que outro faça... não importa.

E o pós-moderno... mesmo que outro assine eu copio eu adapto... ou seja... um casal quase perfeito.

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Cléo estava a fim de divagar e Carlos... bom... sabe como é...

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- Carlinhos... tenho mais uma coisa pra te dizer.
- Então diga gata... manda ver – botando mais um cigarro na boca.
- É sobre o materialismo... sobre a honestidade sabe...
- Profundo... – bocejou, tragou e soltou a fumaça pro alto – faz assim, sobe na cadeira e clama... clama por liberdade meu armor...
- Hahaha... tá bom... não vai tirar sarro tá..

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Cléo ficou eufórica... a pós-modernidade é assim... uma necessidade de mostrar sua estrutura... sua postura...

E ela incorporou um sarau – gesticulando... uma bela linguagem corporal e mandou ver.

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“Não me sinto bem sem meu material
Pessoal sentimental e totalmente honesto
Quanto mais procuro me libertar mais me sinto presa
Estratégias pra uma melhor condição de vida
Ela gosta tanto de mim e eu gosto tanto dela
A vida continua me dando sinais
Nem tudo é obscuro
Porém a luz se apaga a todo momento!
Aí vem a saudade, um aperto no peito
Aquela vontade de gritar
Em meio a confusão
Bom mesmo pra mim é viajar
Desafios me alegram
O risco me alegra
Sou medrosa e por isso tentadora
Estou sempre querendo vencer algumas barreiras
Na loucura da estrada
As coisas não param!
O mundo a natureza o homem eu
A deterioração é tão visível
A natureza tão honesta
Não rebaixarei... JAMAIS
A natureza ao patamar que nós
Seres humanos cada dia mais
Buscamos”

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- Yeahhh.... – gritou Carlos, aplaudindo-a
- Hahaha
- Você me deixou excitado em cima dessa cadeira
- Então vou descer
- Qual é gata... então tá... deixa pra mim agora – e Carlos subiu

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“A solução é ter tentação
Nada absurdo e tão ganancioso
E navegando eu percorro
Entranhas do poder ocioso
Tentação
Sonho libertação
Preso na realidade
Imagine a felicidade
E preparem-se
Ouvirão falar de mim
Com minha influência
Atrapalharei vossa existência
Net site sistema e computador
Estratégia interesse minha dor
Preocupem-se
Como já me preocupei?
Nunca são honestos
Também não serei”

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- Hahaha... adorei... – e Cléo dá mais um gole de vinho a Carlos
- Estamos aí pra isso não é... a pira não pode parar...
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Os motoristas do sistema jamais poderão controlar Cléo e Carlos... juntos são uma bomba relógio. O vinho do casal parece que jamais vai acabar.

Mas fiquem atentos, pois a estrutura caminha assim, eles contam com essa porcentagem de viajantes.

Porém não contam ou não esperam que eles tenham um bom disfarce. E lá está Cléo na cadeira...

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“Vou me travestir de vocês
Falsa, engomada, estrategista, oculta
Ainda é cedo pra fazer premonição
Mesmo essa sendo clara e tola
Qualquer um vê os traços
E eu vejo as traças
Vou ser ácida
E ácido caro
Vou comer e vomitar essa fatia
Desejada por milhões
Esses que se dizem revolucionários
E quando entram na estrutura
Perdem as estribeiras
Já falei
Vai se desparafusar
Esse bonde de hipocrisia
Só essa esperança me conforta
Eu sei que esperar é normal
Mas sei também que não sou igual
E vão perceber um dia
O quanto sou letal
Fazem-me esperar por descaso
Por esquecimento
Porém eu faço meu prazo
E que ainda está longe
Então!
Sorriam enquanto há tempo
As voltas do globo
O giro natural
O sorriso da hiena
Vai chorar no final”

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Carlos estava olhando pra Cléo de baixo pra cima... ela em cima da cadeira, ele na cama com a garrafa de vinho na mão e um cigarro aceso na boca. Ela o olhou, esperava sua opinião, mas ele estava imóvel, só observando.

Cléo estava a fim de divagar... esperava a opinião do seu namorado. A pós-modernidade é assim mesmo, quer tudo do jeito dela. E o hipermodernismo também é assim, quer tudo do seu jeito.

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- Ei gata, vem aqui pra cama... vamos fazer um sexo... acabar esse vinho... e transar mais ainda... e fumar um cigarro e dar mais uma trepada antes de dormir... sacou?
- Hum... – e desceu da cadeira tirando a roupa.

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Voltaram à maravilhosa realidade.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O POGO


Este é o Doc... meu amigo Hunter S. Thompson,
as vezes fico blasfemando comigo e lendo
algumas coisas desse cara... é importante sabe.
Um gonzo beat que meteu uma bala na cabeça.
Amigo do Bob Dylan, este é o Mr. Tambourine Man.
Hoje mesmo estava escutando Rancid
e vendo a montagem que fizeram de uma
música chamada Clockwork Orange,
inseriram partes do filme com o fundo
punk rock... ficou bom...
Ontem também vi uma montagem do Scarface
e no fundo Cocaine Blues do Johnny Cash...
bom também... esses dias também vi
Somebody put something in my drink
do Ramones... mas...
mas isso acho que aconteceu comigo...
estou meio confuso... não sei se vi...
acho que vi e senti algo diferente
no meu gole...
parece que as pessoas estão assim...
pegando algo pronto... e colocando
mais alguma coisa pronta em cima...
e muitas vezes nem lembramos
a raiz de tudo isso...
Acho que se for uma junção de algo
bom com algo melhor ainda... rs...
é válido... e de certa forma eu gosto,
principalmente com muita cerveja...