sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Futebol sem tempero, mas o país tem gosto

Capítulo III (Final): Sindicato do Crime



Está tudo diferente, meu boteco tem outro aspecto. Antes você olhava o lado de fora e sabia que se tratava de uma espelunca. Alguns não entravam só pela fachada. Nunca fiz questão de melhorar nada nele, aquele ar de desleixo era pra não esquecer onde estava localizado. Aqui nesta Vila não tem como me preocupar com estética, pois é um chamariz aos interessados em ganhar dinheiro fácil.

Mas Agora que estou com as costas quentes...

Então Cat Blake deu algumas opiniões e melhoramos toda questão estética do bar. Procurei me aproximar do futebol, com cores que lembrassem nossa seleção. Na parte interna, Tião investiu uma grana pra aumentar nossa estrutura. Tinha um terreno razoavelmente grande e a parte de trás do lote foi usada. Construímos um depósito maior, com um corredor que leva diretamente pra lá. Também melhoramos o banheiro. Na verdade colocamos mais um, agora há masculino e feminino.

Como nosso objetivo é atrair clientes devido aos jogos de futebol, colocamos um grande telão. Passamos o maior número de jogos. Prioritariamente quem está na cabeça da tabela, depois repetimos a rodada. Tim cuida de tudo nesse sentido, também reveza com Tião a parte da cozinha. Cat Blake se tornou minha garçonete. Servimos pratos de boteco, nada de luxo.

Basicamente essa é a estrutura: Tim na cozinha enquanto Tião e Bigode correm atrás de contatos. Após essas coisas agilizadas, Tião na cozinha e Tim cuida da distribuição – tanto no boteco quanto nas redondezas. As entregas a longa distância ficam por conta do Bigode, devido ao taxi. Normalmente Tim o acompanha.

Eu continuo no balcão, sou a identidade daqui. Pelo menos é isso que Tião diz, então não mudamos. Muitas vezes eu coordeno algumas distribuições, faço agendamentos e a parte da logística, mas só eu, Tim e Tião falamos sobre isso.

...

Meu movimento aumentou significativamente. Mantivemos meu sistema, nada de fiado, sem chave de cadeia. Porém Cat Blake trabalhava e consumia sua farinha. Tim a fornecia de graça. Percebi as regalias, desconfiei de algo quando vi meu amigo dando tapinha na bunda dela lá perto do banheiro. Depois disso ela começou a provocá-lo, até chegar ao ponto de transarem com frequência nos banheiros e no depósito.

...

Tim me confidenciou certa vez: “Zaca essa safada dessa Cat Blake me deixa doido. Porra véio... ela dá uns teco e vem pra cima, nunca vi isso cara!” – “Mas cuidado em Tim, quando você dá uns pega nela, se ela tá cheirada, você não fica a fim de dar uns teco?” – “Porra Zaca, claro que fico! Mas me aguento, porque ela disse que se eu mandar, já era... nós terminamos na hora!” – “Isso é bom né” – “Porra, mas ela manda lenha demais! Aí eu fico instigado! Mas tudo bem... consigo levar!”.

A minha preocupação não é em vão. Se Tim recai a coisa muda, ele acaba com tudo. Na sua época de degradação, era violento ao extremo. Matava sem piedade e tinha muitos inimigos, coisa que só acabou depois que ficou careta. A partir daí ele e Tião arquitetaram o extermínio de seus inimigos.

...

Após alguns meses, as coisas iam bem. Tião mantinha Bigode na rua, longe da cachaça. Tim trabalhava a todo vapor, cada dia mais. Tião costurava as coisas.

Porém Cat Blake com o tempo mostrou o que realmente era: uma filha da puta de uma vagabunda.

...

Certa vez percebi alguns olhares entre Tião e Cat Blake, tentava pescar alguma coisa, mas era tudo muito superficial. Até que Tião me confessou certa vez algo que se encaixou com minha pulga atrás da orelha. “Aí Zaca, não aguento mais guardar esse segredo. Preciso falar pra alguém isso. Depois do meu irmão, confio muito em você cara!” – “O que se passa Tião?” – “Então cara, lembra depois do acidente, quem foi embora no carro fomos eu e a Cat” (só Tião a chamava assim) – “Pois é... eu lembro que você comentou” – “Então cara... porra... não sei se devo contar isso pra alguém!”.

Era bem tarde, já tínhamos fechado tudo, o sol já ia dar as caras. Eu e Tião fazíamos alguns cálculos, como sempre. Nesses dias eu sempre tomava dura da minha mulher. Porém Tião precisava conversar e eu não fazia nada de errado.

Tião continuou: “então Zaca, enquanto eu dirigia aquela noite, Cat estava ao meu lado, me olhava dirigir, eu conseguia perceber, sentia que ela olhava” – “Tá e daí?” – “E daí! E daí! Grande pergunta! Imagine você... dirigir o carro ao lado de uma doida e aos poucos ela começa a passar a mão no seu cabelo, por trás... na nuca... porra... ela é gostosa, você não acha?” – “Todos achamos!” – “Pois é... então... em pouco tempo chegou perto do meu ouvido e sussurrou algo... não lembro... só senti um cheiro de álcool... então ela abaixou e começou a chupar meu pau. Cara ela desceu abriu minha calça e caiu de boca” – “Sério véio! E ela chupa bem?” – “Porra cara... ela é foda! Ela é foda Zaca. Aí eu parei o carro e fui pra cima dela igual um louco! Trepamos sem parar num beco”.

...

Fiquei meio zonzo depois da história de Tião. “O que vai acontecer agora?”. Pensava comigo, estava difícil dormir, estava com uma pressão de saber um problema que poderia acabar com a amizade de dois irmãos. Tião me disse que transava com ela esporadicamente, sem ninguém saber. Após perceber que Tim estava interessado nela, resolveu dar uma segurada. Porém algo me incomodou na conversa. Tião disse: “quando ela quer, sempre consegue. Nada a impede de conseguir. E toda vez eu vou pra cima, ela me deixa doido cara!”.

Isso dificultou meu sono. Os negócios por um fio. Tudo muito recente, poucos meses, grandes negócios. Gira muito dinheiro e sabemos que ela é ambiciosa.

...

Certa vez escutei Cat Blake dizer: “o Bigode vai lá? Então, manda o Tim junto pra garantir!”. Não sabia do que se tratava, mas achei estranho isso, Cat Blake dar ordens! Tião ficar sozinho por aqui, apenas ele, Cat Blake e eu. Bom, o fato é que Tim saiu de taxi, vi na sua cara um ar de estranheza.

Então Cat Blake foi ao banheiro cheirar. Tião estava na cozinha. Com movimento fraco, Cat Blake saiu do banheiro elétrica e olhou pra nós: “Ai... tem umas caixas pra pegar no depósito, preciso fazer uma força, não quer me ajudar Tião, você que é o mais forte?” – “Claro! Zaca, cuide do bar!”.

Os dois saíram, sabia que não tinha porra de caixa, pois quem carregava as caixas éramos eu e o Tim. Esperei um pouco, realmente o movimento estava fraco nesse momento. Fiquei curioso e fui dar uma espiada pelo canto do bar. Vi Cat Blake colocar suas mãos numa pilha de caixas de cerveja, já sem calça. Enquanto Tião enfiava o pau na sua boceta. Ela gemia alto, fiquei louco só de olhar aquilo.

...

O que vi foi suficiente pra entender que a situação ia ficar mais grave. Pensei comigo: “essa mulher vai acabar com tudo” – o pior é que vendo aquilo também quis a comer.

...

Eles voltaram ao trabalho normalmente. Cat Blake me olhou igual uma safada selvagem, parecia que ela tinha me visto espiar aquele momento e agora marcava com olhar que minha hora iria chegar.

O problema é que depois daquilo a situação dos dois ficou rotineira. Então ela namorava o Tim antes e depois do horário comercial e durante o trabalho, quando Tim fazia longas corridas, trepava no depósito com Tião.

Sentia-me incomodado. Percebi que Tim desconfiava. Então comentei com Cat Blake: “porra Cat Blake, dá uma maneirada nas loucuras aqui no bar. Você pode fazer isso?”. Disse isso num fim de expediente. Tim e Tião foram resolver um problema particular. Estávamos nós e Bigode, que dormia em pé.

“Ei Bigode, vai dormir no carro, só vou fazer umas contas e logo você me leva. Certo?” – “Sem probrema!” – e Bigode foi pro carro esperar Cat Blake.

Eu havia fechado a porta do bar, passava pano no balcão e me preparava pra sair. Cat Blake me observava. “O que está olhando?” – “Nada não Zaca!”. E veio em minha direção. Aquele mesmo olhar de safada. Fiquei paralisado. Ela entrou na parte interna do balcão e colocou uma mão em meus olhos, a outra pegou no meu pau. Com muita prática abriu meu zíper. Eu apoiei meus cotovelos no balcão. Ela chupava com muita propriedade, não conseguia pedir pra parar, sentia muito prazer. Olhava pro teto do bar, ela chupava meu pau, nunca tinha olhado o teto do meu bar daquele jeito.

Ela começou a chupar com mais intensidade, olhei pra cara dela, seus olhos fechados, aquilo era o que gostava de fazer, era o que sabia fazer. Uma mulher muito bonita, que não sei de onde veio. Todo esse mistério, essa traição, tudo isso veio de uma vez, comecei a ficar louco. Tirei a boca dela do meu pau, arranquei sua calça e botei na sua bunda. Ela abriu as pernas e me olhou pedindo pra que eu enfiasse com mais força. Comecei! Ela sussurrou no meu ouvido: “mais forte, mais forte”... e eu mandei ver. Ela apoiava suas mãos no balcão, começou a se contorcer e disse: “vou gozar... vou gozar...”.

Tirei meu pau, deitei-a de lado e enchi a boca dela de porra. Tentei olhar pro teto enquanto gozava. Até o teto do meu bar estava mais bonito.

...

Após a trepada Cat Blake vestiu as calças, olhou pra mim e disse: “Vai dar com a língua nos dentes pro Tim agora? Acho que não né! Já pensou se sua ‘nega’ fica sabendo o que aconteceu aqui? Acho que meus amores também te matam se souberem. Né? Boa noite!” – e foi embora.

...

“Que merda que eu fiz?” – já estava deitado em casa, ao lado de minha esposa. Olhava ela dormir. Era meu anjo. Cat Blake queria destruir tudo.

...

Depois desse dia minha consciência não descansou. Não acompanhava mais a situação daquele triângulo amoroso e o futebol cada dia me enchendo mais o saco: é reclamação de arbitragem, é o time não ir bem quando joga fora de casa, é jogador sendo tirado pra cristo e todo esse blá blá blá...

Não aguento mais o bandeirinha, não aguento mais o pênalti perdido, a falta errada, o escanteio, a lateral. Na minha opinião o futebol só vai evoluir após uma reciclagem geral e foda-se.

...

A situação se agravou quando Tião mandou Tim fazer uma correria descabida. O bar estava com movimento, mas Cat Blake me pareceu muito doida, subia pelas paredes e só queria levar uma vara no meio do seu rabo. Tião não aguentou a provocação, acho que eu também não aguentaria.

Tim pegou Bigode, entraram no carro. Enquanto isso Tião disse pra eu segurar as pontas. Foram lá pra trás. Deu cinco minutos Tim entrou sem parar e nem olhou pra mim, foi direto lá pro depósito, Bigode estava atrás. “Fica aqui!” – eu disse, e fui atrás de Tim em direção ao depósito.

Tião e Cat Blake trapavam e Tim viu tudo. Então saiu em disparada. Tentei segurá-lo, mas ele só me olhou e isso foi o suficiente pra deixá-lo ir.

...

No fim do expediente Tim volta ao bar, me entrega um diário e sai. Na cara dele sangue no olho, cheiro de morte. Guardo o diário. Fecho o bar e vou pra casa. Sou recebido pela minha mulher com um sorriso. “O que foi?” – ela perguntou – “estou preocupado com Tim, acho que ele vai recair, me entregou isso, vou ler, pode ir dormir, hoje não estou pra conversa, depois te explico”. Minha mulher ficou com os olhos cheios de lágrima e saiu.

...

Seu diário é a descrição da sua vida. Estava com suas páginas sujas de sangue. Era algo muito assustador e ao mesmo tempo revelador. Estava escrito lá toda sua luta pra se livrar das drogas, respeito ao Tião e as declarações de amor a Cat Blake.

Algumas coisas ficam marcadas:

“Respeito-me agora. Quero pular cercas de arame farpado todos os dias, mesmo que me rasgue. Sigo na luta pra deixar meu lado sombrio em outro lugar”.

“Depois que deixo alguns corpos pelo chão, gosto de olhar meu irmão. Vejo que resolvo um problema pra ele. Meu trabalho é o sujo. Deixo que meu irmão faça o resto”.

“Já senti o cheiro da morte milhares de vezes. Principalmente quando vejo o futuro cadáver. Ele me olha como se eu fosse o demônio e naquele momento é algo que realmente ele pode acreditar que existe”.

“Não tenho piedade, pois se fraquejar pra isso, fraquejarei pra tudo. Então eu mando uma bala na cabeça desses fedidos filhos da puta que exalam o cheiro que os levará pro inferno”.

“Vivo ao lado da escuridão todos os dias, mas ao lado dela tenho também um brilho no fim do túnel. Não é só gozar, agora quero me tornar um homem ao lado de Cat Blake”.

“Posso ser o homem mais temido. O cão mais sanguinário solto nas ruas. Mas ao lado dela, mesmo fazendo o que faço, percebo que também posso amar”.

...

Antes de fechar seu diário vejo o nome do Tião e de Cat Blake escritos com sangue. Foi a última coisa que ele escreveu. Então a porta da minha casa se abre! É Tim! – “Zaca, você leu meu diário?” – fiquei sem saber o que dizer, pois não havia dormido, fiquei lendo tudo aquilo. “Pode falar a verdade cara” – “Li sim Tim”.

Ele então chorou ajoelhado, disse que as coisas iriam piorar e que não era mais pra eu aparecer no bar. Eu neguei, disse que iria lá, não deixaria ele sozinho. Mas ele me pegou pelo pescoço e disse: “Eu vou matar todo mundo lá!”. Virou as costas e saiu.

...

Tim resolveu caçar os dois. Tião me ligou, perguntou o que Tim foi fazer em minha casa. “Como você sabe que ele veio aqui?” – “Botei gente pra seguir ele, já estou sabendo que ele recaiu, está fora de controle, tenho que ver o que vou fazer. Daqui a pouco passo aí!”.

...

Tião chegou. “Bigode e Cat acham que eu devo mandar matar Tim. O que você acha?” – “como é que é? Ele é seu irmão porra!” – “mas vai foder com nosso negócio, o que você quer que eu faça, vá pra cadeia por ele?” – “só acho que ele iria por você” – “não sei... ele voltou a cheirar, está fumando crack também, não posso deixar nada mais na mão dele. É como Cat disse ontem, ‘ou eu mando ele pro inferno ou quem vai sou eu’, não tenho mais saída” – “você tem uma conselheira agora Tião?”. Ele me olhou e disse que estava resolvido.

“Vá ao bar normalmente” – abriu a porta e saiu. Olhei pela janela, ele pegou o celular, provavelmente foi dar a ordem de execução do seu irmão.

Porém a parte suja desse negócio quem sempre fez foi Tim, então, melhor do que ninguém, ele se antecipou.

Quando fui ao bar, Tião disse que seu mensageiro não respondia a suas ligações e que provavelmente Tim ainda estava vivo. Não pude festejar, mas fiquei feliz.

No mesmo dia, mas na hora em que o bar estava pra fechar, aparece Tim, vindo da escuridão.

...

Agora estamos eu, Tião e Cat Blake. Ele estava muito alucinado, com sua arma em punho. “Não tem ninguém Tião, já matei ‘nossos mensageiros’, agora nós vamos pro inferno meu irmão”. Antes de qualquer reação, Tião leva um tiro na cabeça.

Foi uma morte sem tempero pra uma pessoa como Tião. Sempre imaginei que ele fosse mais longe, devido ao seu potencial, mas Tim fez uma limpa nos funcionário daquele Sindicato do Crime.

...

Cat Blake está com os olhos cheios de lágrimas, porém percebo que não comove Tim. Não sei se ele sabe o que aconteceu comigo e ela, mas imagino que não escaparei dessa.

Aí, num piscar de olhos, Tim é atingido pelas costas.

Eis que surge Bigode, que mata Tim.

Bigode sempre ia deitar em seu táxi quando era tarde da noite, Tim não lembrou desse detalhe e esqueceu o velho. Bigode fazia o jogo de Cat Blake, imagino que todo veneno implantado por ela tenha o dedo desse carcará.

...

Gostaria de lembrar algo que disse pra minha mulher antes de ir pro bar neste dia.

Logo que Tião saiu de casa, minha mulher veio perguntar o que estava acontecendo. Havia me preparado pra dizer algo pra ela, mas diante da situação imaginei tanta coisa, porém preparei-a pro pior.

“Olha querida, acho que meus amigos vão se matar por causa de uma mulher!” – “como assim?” – “olha, sabe aquela garçonete que te disse esses dias atrás que estava querendo jogo comigo!” – ela confirmou com a cabeça – “ela anda transando com Tim e com Tião. O pior é que os dois gostam dela e eu não sei exatamente o que ela quer, mas não me cheira bem as atitudes dessa mulher!”.

Minha esposa estava furiosa, queria saber dos detalhes. O meu objetivo é que transportasse toda essa raiva pra Cat Blake.

“Quando ela deu em cima de mim quase me perdi, mas aguentei firme. Juro pra você! Mas ela é linha dura, não desiste. Acredito que ela sabe que eu, Tim e Tião fazemos a logística do negócio juntos, guardamos o dinheiro. Ela deve achar que sou dono do negócio. Sabe amor, eu até sei aonde escondemos as coisas, então acho que é por isso que estou com meus dias contados!”.

Agora meu amor chora, pois deixei claro que as piores coisas estão pra acontecer. “Não sei, mas dessa noite acho que não passo. Hoje deve ser o acerto!” – “então não vai!” – “como? Se nosso dinheiro está lá? Se Tião pediu pra eu ir normalmente? Se eu não for ele também me caça, como está fazendo com seu próprio irmão! Tudo isso por causa dela!" – “essa mulher é o diabo mesmo! Desgraçada!” – “sim... vou me preparar pra ir”.

Deixei minha pistola nas mãos da minha mulher. “Se acontecer alguma coisa comigo, fique com isso, pois se ela me matar virá atrás de você. Ela deve imaginar que você sabe o que está acontecendo!”.

...

Tim e Tião estão mortos, Bigode acabava de entrar no bar após matar Tim pelas costas. Ele mandou Cat Blake fechar meu boteco e disse: “Intão Cats Brake, u quê vamo fazê com quem sobrô” – e olhou pra mim.

Estou com minha hora contada. Agora é hora de pensar em minha mulher, espero que ela tenha sacado o que disse hoje à tarde, que faça alguma coisa com a porra daquela arma.

“Bigode, me dê à arma, vai ali perto do fogão, na cozinha e pega aquela corda, vamos amarrar Zaca” – e Bigode foi. Estou perdido. Cat Blake olha pra mim e vem, com a arma apontada. Passa a arma entre minhas pernas, com cara de alucinada.

Chega Bigode com a corda. Fica atrás de mim, amarra minhas mãos. “Vamos levá-lo lá pro depósito”, diz Cat Blake. Lá vou eu, como se estivesse no corredor da morte. O que antes era um corredor que levava pra cenas de sexo explícito, agora me leva pra forca. “O que vocês estão fazendo?” – perguntei. No mesmo instante tomei uma pancada.

Bigode me levantou gargalhando. “Vixi! Essa dueu im mim!” – disse o filha da puta. “É melhor você calar a sua boca e só responder o que eu quero” – disse Cat Blake. Colocaram-me numa cadeira entre caixas de cerveja no depósito. Eu estava pra morrer e ainda assim pensava em sexo. Olhava pra ela e ainda assim pensava em sexo. Acho que mereço morrer mesmo.

“Aonde está Zaca?” – perguntou-me Cat Blake. “Aonde está o que?” – respondi. Na sequência chute, soco, porrada de tudo quanto é lado. Eles não param de me chutar. Chute no estômago, na cabeça, no rim.

“Você já deve ter percebido que seus amigos morreram não é? Tim me disse que vocês colocavam o dinheiro do fechamento do bar por aqui. Se você não sabe, não vai servir pra nós. Teremos que matar você também, não é Bigode?” – “Acho que esse mardito sabe. Torturação Cats Brake... torturação!” – “Sim Bigode! Boa ideia! Torturar um pouco nosso amigo Zaca! Acho que assim ele fala. Não é?”.

...

Bigode quebra uma garrafa e começa a rasgar bem a sola do meu pé. “Conta filho da mãe” – diz Cat Blake. Eu fecho os olhos e penso em minha esposa. “Será que ela vem! Será que se importa!” – então sinto a sola do meu pé queimar. Grito! Fogo entre meus dedos! Uma dor insuportável.

Vou morrer igual! Não adianta abrir a boca pra falar.

Levo mais umas porradas. Quase desmaio de tanto apanhar. Olho bigode quebrar uns pedaços de vidro das garrafas. “Si num fala, vo curta tua língua. Vai ingulir tudo esse virdu. Num vai nem da tempo pra cagâ. Fia da puta” – e moía os vidros.

Já vi que agora estou na merda mesmo. Vão encher minha boca de vidro. “Porra! Sua vagabunda, por que não manda uma bala na minha cabeça de uma vez?” – Cat Blake passa a arma pra Bigode, pega um punhado de vidro. “Vai engolir isso pra nunca mais falar besteira seu filho da puta!”.

...

Um disparo! Bigode cai. Eu e Cat Blake olhamos pra um vulto que surge. Sim, é minha mulher com a arma e a chave reserva do bar que sempre deixo lá em casa. Cat Blake não sabe o que fazer. Minha mulher me desamarra, pego a arma do Bigode, aí dou mais um tiro de misericórdia no maldito.

Cat Blake tenta falar algo, mas eu encho a boca dela de vidro. Assim não há mais como minha esposa saber do ocorrido. “Ela que tentou voltar você contra mim meu amor?” – “sim, foi ela”. Cat Blake é espancada. Minha esposa chuta a boca dela, cheia de vidro. O sangue cai, seus olhos já não são mais corajosos como antes. Minha esposa está com um olhar diferente, de liberdade, excitante.

...

Vou ao quintal do bar. Lá num pequeno canavial, como o que meus amigos viveram na infância, está escondida nossa fortuna. “Aqui meu amor, vem ver!”. Olhamos naquele saco uma boa quantidade de cocaína, dinheiro e uma agenda que Tião utilizava pra ligar pros patrões. Ele sempre a colocava junto com seu dinheiro, pois dizia que sua agenda valia ouro!

...

Então eu e minha mulher fomos pra casa, pegamos o carro do Bigode. Deixamos o bar fechado, não sabemos o que vai acontecer. Pego a agenda de Tião e tenho tudo o que quero. Clareia o dia, olho pra minha mulher, ela está radiante, selvagem, com olhar ambicioso. Fazemos o melhor amor das nossas vidas, como se fosse o último! Minhas feridas são marcas da vitória.

...

Realmente o jogo não pode parar. A bola rola. Agora viro patrão, minha mulher está no bar, ela é bem mais bonita que Cat Blake.

Como no diário de Tim, vivo cada dia como se fosse o último.

Os jogos continuam com outros dirigentes. É tempo de renovação. Nesta Vila... agora eu sou a lei. O sindicato é meu e exijo respeito.