terça-feira, 30 de dezembro de 2008

A virada de ano: uma orquestra de prazer

A pensão em que morávamos não era pra qualquer um. Apartamento com dois quartos, um banheiro, sala e cozinha, transformado numa comunidade de guerreiros prontos pro que der e vier. Ninguém aqui conta com a sorte. Tudo pode acontecer e não há forma de evitar, muitas vezes, a loucura.

Noite de festa na cidade. Os nove moradores do apartamento vão a luta pelas ruas. O movimento se concentrava numa praça. Era dia 30 de dezembro, véspera da virada de ano. Pessoas excitadas nas ruas. Não deixemos de ter esperança no próximo ano, como se fosse mudar alguma porra...

De qualquer forma o óbvio entre nós moradores da pensão mais fulera da cidade era partir pro combate. Encher a cara é o inicio, está em primeiro lugar na ordem do dia. Assim vai e os fracos vão embora com o passar do tempo. Isso é bom...

Eu e meu amigo ficamos até sentir o cheiro de sexo. Passam em nossa frente duas menininhas risonhas, pareciam já ter tomado algo. Nós também. Então já tínhamos algo em comum pra iniciar uma conversa.

As paramos na rua e fizemos o convite pra bebermos mais num bar que tinha numa galeria próxima de onde estávamos. Aceitaram. Fomos pra lá e bebemos, conversamos, trocamos beijos. É hora de ir embora, elas não podiam ficar até tarde, até porque eram menininhas.

Meu amigo acompanhou a sua e eu, logicamente, a minha. Saímos em direção ao terminal já que a gatinha precisava pegar ônibus pra casa. O horário estava em cima, porém nós estávamos à flor da pele. No banheiro do terminal quase fizemos sexo... o ônibus chegou, ela correu pra dentro do terminal e eu mijei no banheiro feminino.

Saí e dei de frente com uma mulher que entra no banheiro, uma coroa com cara de viciada em crack, ela me olhou e quando diria algo... antes mesmo dela abrir a boca eu saí fora... foda-se...

...

Dia da virada e eu ali com um puta tesão. Liguei pra menininha e chamei pra pensão. Sabia que não seria fácil convencer a gata, até porque a chamaria pra um cortiço, cheio de homens famintos por sexo e a privacidade não era garantida.

Meus amigos não estavam sendo bem sucedidos na guerra diária pelo fazer sexo. Porém algo estava no ar. Combinei com minha gata de irmos numa festa. Estávamos todos lá. Fiquei com ela a maior parte da noite e meus amigos estavam no combate. Saiam de um lado pra outro, como tarados pervertidos atrás de mulher.

Não esperei pra ver o resultado da procura, pois levei a menininha pra pensão. As comemorações da virada foram legais, mas o que estava por vir me interessava muito mais. Nós e um outro casal voltamos pro nosso apartamento.

...

O habitat em que vivemos não é dos mais propícios pra conversar sobre a vida ou querer nos conhecer. Entrar lá é um caminho sem volta. Não tem luz no fim do túnel. A gatinha sabia, estava curiosa, percebi isso.

Com sua estatura relativamente baixa, cabelos naturalmente castanhos claros e olhos verdes, com um corpinho jovial, todo durinho... não tinha como deixá-la sem prazer no primeiro dia do ano.

No primeiro beijo que dei nela na pensão já senti que também não estava pra brincadeira. Na cama de um amigo, nos fundos do apartamento, perto do banheiro, é que iniciávamos nosso acasalamento... rs...

Tirei sua roupa bem devagar, chupei cada pedaço do seu corpo... botei a camisinha e começamos... ela sussurrava no meu ouvido, toda inteirinha... sabia que eu não era o primeiro... mas ela não era rodada.

Ouvi a porta do apartamento se abrir e conversa. Acelerei e gozei rápido. Ela não havia percebido os movimentos ao redor, mas tirei e a mandei rápido pro banheiro botar a roupa. Não podia deixá-la daquele jeito em frente aos meus famintos e bêbados amigos de moradia.

...

Não chegaram todos, apenas mais um casal. Então estávamos em três casais dentro daquele lixo. A gatinha saiu do banheiro meio que sem entender.

Agora todos estavam lá dentro. Mudei de cama, pois a anterior já fora ocupada. Deitamos numa cama na sala (nossa sala era quarto), ao lado havia um beliche que a cama inferior estava ocupada também.

Então os movimentos sincronizados dos três casais pareciam ginástica rítmica. Ao som dos mais belos sussurros e gemidos. Uma orquestra feminina de prazer.

...

Mais uma vez a porta se abre. Chega o resto da turma. Todos bêbados e sem mulher. Ninguém parou o que estava fazendo. Eles entraram e se depararam com sexo. Achei que iriam fazer algo, interferir. Não houve isso.

Eu no lugar deles tentaria algo. Eles não tentaram. Foram pras camas que sobraram. Dormiram ao som da orquestra feminina do prazer.

...

A minha gatinha estava afim mesmo. Nem se deu conta que hora estava sendo observada por bêbados insanos... é bom pegar uma coisinha nova pra reanimar nossa vida. Nada melhor que no primeiro dia do ano.

Depois de horas paramos. Agora sabia que tinha um esquema garantido pra outras ocasiões. Uma gatinha tarada que estava frequentemente afim de sexo.

A orquestra se calou e o silêncio prevaleceu. Todos exaustos. O sol clareava o primeiro dia do ano e nós na cama.

Meus amigos bêbados soltavam roncos solitários. Minha gatinha gostosa pediu pra ir embora. Caminhamos até o ponto de ônibus e ela se foi. Parei numa praça e sentei num banco, pra ver o sol... o primeiro dia do ano já havia começado.

Ao olhar de fora pra pensão quase não acreditava que era possível tanta gente morar num apartamento daquele. Conclui que somos guerreiros que vencem com pouco. Não sei o que faríamos se tivéssemos muito. Deus não dá asa à cobra não é...

A orquestra da vida é essa... nos viramos com o que temos... fazemos o que podemos... foda-se o resto. O primeiro dia do ano pode ser uma orquestra do prazer ou da solidão. O resto do ano também...

Feliz ano novo foi o que disse ao me despedir.

Um comentário: