terça-feira, 3 de março de 2009

As fotos da alma

CAPÍTULO I

“Que fotos são essas? Vamos ver o que tem aqui”... quando olho me vejo junto com alguns amigos. Parecem antigas as imagens. Não consigo lembrar quando estivemos juntos da última vez. Estranho tudo isso. “Quando será que foi isso? Que lugar é esse, parece que estive aqui, mas não consigo lembrar!”.

Vou até o banheiro e lavo a cara. Olho-me no espelho e tenho uma sensação estranha, fria, que chega a dar arrepio. Visualizo um rosto sombrio e com um sorriso sarcástico. “Droga! Que porra é essa!”. Corro até as fotos e observo com mais atenção. Lá está ele... aquele rosto no fundo da imagem, perto das sombras das árvores, olha pra nós com deboche.

Após parar de tremer um pouco, penso com mais racionalidade, mas não tem como ser racional num momento insano como esse. Continuo a observar as imagens. Momento de felicidade junto aos amigos e porque aquela coisa vinda das sombras a observar-nos. O que está por trás dessas fotos? Como elas apareceram aqui?

...

Está na hora de ir trabalhar. Troco de roupa e vou até o banheiro. É uma manhã nublada, com cheiro de chuva. No espelho vejo as marcas do passado. Lembranças de dias melhores. E agora me preparo pra forca. São poucos passos até o começo do fim. Condenado pela realidade.

“Que fotos são essas? Quem as trouxe pra cá? Já estou cheio de problemas e mais esse? Fotos sombrias e aterrorizantes... isso é coisa de algum amigo, só pode”. Apesar de tentar esquecer, sinto que algo está mais pesado em torno de mim. Parece que estou sendo vigiado dentro do meu apartamento. E isso não é brincadeira.

“Droga. O que está acontecendo por aqui? Acho que preciso tomar uns goles! Não não... melhor ir trabalhar”.

...

Sim... aqui estou eu... trabalho... pelo menos um trabalho. O dia continua nebuloso, com cheiro de chuva, mas não chove. Por que não cai logo um temporal pra acabar com essa agonia?

Minhas preces são atendidas. Maior chuva lá fora. Olho pela janela e vejo que o vento leva toda aquela rajada de água pro lado em que deixei as janelas do apartamento abertas. Lá vou eu... corro pela rua, embaixo das marquises, pulo poças, molho o calçado, as meias.

Chego ao apartamento e está tudo molhado. Nada melhor depois de um banho de chuva que limpar o apartamento (um auto sarcasmo em meus pensamentos). A chuva não para e mesmo com as janelas fechadas a água continua a entrar. Com pano e rodo vou combatendo a chuva. E num momento súbito vejo entre o vidro embaçado uma pessoa a sorrir escorada numa árvore a me observar.

“O que? Quem é esse cara!”. Abro a janela e encaro. Ele fica a me encarar também. A água bate na minha cara e cada pingo parece um tapa pesado que me coloca num lugar impotente contra aquela imagem. Volto do transe. Olho novamente e lá está ele.

Lá vou eu. São passos largos e apressados, são reflexos do dia a dia. A velocidade do relógio. Atravesso a rua e vejo que de nada adiantou correr. Ele não está mais lá. Já devia imaginar que isso é coisa da minha cabeça. O que estou fazendo. Agora estou todo molhado em meio a pessoas que me observam.

...

Após a palhaçada estou de volta. Termino de arrumar a bagunça no apartamento. Tomo um banho. A chuva já parou, mas o tempo continua nublado. As coisas estão sombrias por aqui. Bom... já era o trabalho hoje. Vou ler alguma coisa. Fazer algo produtivo.

Os jornais continuam a dizer que tudo está do jeito que sempre foi. A filosofia continua a deixar-me com dúvidas. A TV está bem... bem desligada. A música me traz alento, os velhos tempos. Novamente as lembranças. As fotos me chamam e as olho com medo. Não devia ter medo. Talvez seja porque não lembro do que isso representa. O que realmente quer dizer essas pessoas que tanto gosto e esse vulto a me perseguir.

...

Cansado apago. Então acordo e vejo a imagem sentada numa cadeira. Tento levantar, mas ela é desumanamente veloz. Agarra meu pescoço e simplesmente faz sinal de silêncio com o dedo na boca.

Olheiras grandes, pele gelo. “O que você quer?”. Ele olha pro lado e me mostra uma arma. Sorri e desaparece. Por momentos não consigo me mexer. O medo apronta dessas.

Levo as mãos à cabeça. Olho pro teto. “O que aconteceu comigo?”. Fico sentado na cama, olho aquela arma. Vou até ela, mas não consigo pegar. O medo faz dessas coisas não é? Dessa vez a sombra me observa sentada na sala. Novamente faz sinal de silêncio com o dedo na boca. Desaparece.

...

Batidas na porta. Droga que horas são? Vou até o buraco na porta pra ver quem é, parece que tem mais pessoas. O que estão pensando? Acham que é assim... chegar e bater. Antes mesmo de decidir se abro, uma porrada leva a porta abaixo.

Então finalmente vejo as pessoas que estavam na foto correndo em minha direção. Todos parecem desapontados ao olhar pro meu quarto. Aí me vejo deitado com uma bala na cabeça. Uns choram, outros se abraçam. Esse é meu fim.

4 comentários:

  1. Sinistro Mano, sinistro!!!!!rsrsrs
    Mas muito loko...
    No aguardo das cnas dospróximos capítulos..

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  2. sim..
    logo mais.. cenas do próximo capítulo...
    rs...

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  3. sinceramente espero que isso tudo tenha sido fruto dessa cabeça fértil..Caso contrário vou começar a achar que o autor anda bebendo demais e vendo coisas demais..

    de qualquer forma sempre me encanto com o que escreve, ao ponto de conseguir sempre enxergar o belo no tosco..

    Greta

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  4. o próximo está aí...
    o próximo que terá próximo...
    rs...

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