terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Idiotices de um kamikaze

Ferrado como nunca, me olho no espelho e não vejo solução. O jeito é ir pro inferno de uma vez. Depois de tudo que já fiz, as mentiras pesam toneladas. Preciso manter a mesma linha refinada do dia a dia na minha morte. Então decido como vou morrer.

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Lembrei do último atentado que me envolvi, as notícias de inocentes que foram pelos ares. “Vou preparar uma bomba! Vou explodir! É uma bela forma de suicídio!” – pensei ao entrar na minha sala secreta em casa.

Também veio a mente algumas recordações das torturas que fiz. Dos métodos que deixaram as pessoas agonizando. Sofriam de uma forma que chego a ficar arrepiado. “Vou passar essa cola especial aqui no encaixe do cinto de segurança, assim não terei como fugir e minha agonia será tamanha que sofrerei indescritivelmente”.

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Entro no carro. O dia está quase aí. Um belo dia pra morrer! Está tudo armado, coloco minha caranga pra funcionar, carregada de explosivos, com uma contagem regressiva no som. “A hora que eu colocar a merda desse cd do Fresno a bomba ativa! Vou sofrer demais! Não era pra pegar leve mesmo!”.

Vou pelo bairro onde moro. As ruas não são mais as mesmas, por isso não fazem mais sentido pra mim. A última vez que consegui falar de existencialismo e anarquia foi em outra língua. É muita confusão pra mim, preciso de algo que esteja num plano paralelo, diferente...

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Já na estrada vejo lá na frente, sei lá quantos quilômetros, fumaça. O trânsito está parado! Logo fica ao meu lado um carro e atrás encostam mais dois. “Estou trancado? Não consigo fazer a volta? Sem retorno?” – dou uma porrada no volante. Não trouxe armas, cigarros, bebidas, nada... absolutamente nada...

Olho pros lados... estou próximo do submundo, na saída da cidade, onde não há esperança. Onde uma situação como esta é motivo pra alguns se darem bem.

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Fico agoniado, me sinto como se pulasse numa piscina. Mergulho até o fundo pra encostar no ralo, mas ele parece estar mais profundo, cada vez mais! Quando chego nele, estou praticamente sem fôlego pra voltar. Então vejo a superfície. Eu no fundo entro em desespero e tento voltar desesperadamente, como se mil litros de água invadisse meu corpo. Remo e remo, mas não consigo chegar.

Quando recupero a sanidade estou todo suado. Seguro o volante do carro com toda minha força, aperto meus dentes, meu maxilar doe pra caralho. Meus nervos tensos. Eu totalmente desequilibrado. “Já chega!” – falo pra mim. Passo cola no encaixe do cinto. Está na hora de começar o esquema todo.

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“Ei você! Sai do carro filha da puta!” – “O que?” – “Sai do carro porra!” – “O que você tá falando cara?” – “É um assalto porra!” – “O que? Que tipo de ladrão assalta alguém num engarrafamento?” – “Eu” – “A polícia tá logo ali na frente meu!” – “Quer tomar um pipoco na cabeça filha da puta?” – “Quero!”.

Percebi o espanto do ladrão com minha resposta. Na verdade podia ter levado uma bala na cabeça, mas o cara amarelou. Isso aumentou meu desespero.

“Não vou sair do carro” – fui pro banco do carona. O idiota entrou e me mandou fechar os vidros. “Levanta a porra dos vidros. Eu to mandando” – “Levanto cara! Mas é o seguinte malandro, quer levar a porra do meu carro? Pode levar... quer atirar em mim? Pode atirar. Aliás... pra onde você vai seu idiota?” – “Pro inferno”.

Era a resposta que eu queria ouvir. Uma ótima carona eu consegui. Ele continuou no engarrafamento. Olhei o cara totalmente descontrolado, na fissura pra fumar pedra. Eu ali, confuso e um pouco frustrado.

“A polícia tá chegando, põe o cinto!” – disse ele! Puxando e encaixando. Quando eu vi aquilo fiquei puto. Gastei minha cola ali pra eu ficar preso, eu sofrer como nunca. “Você é um idiota mesmo” – eu disse pra ele e coloquei meu cinto. Tinha certeza que a cola estava úmida e que aquele filha da puta tinha tomado meu lugar. Fiquei com muita raiva.

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Passamos uma barreira policial. Ele estava com uma arma apontada discretamente pra mim. Não tinha como alguém perceber o que acontecia. “Você é um gênio! O melhor assaltante que já vi!” – “Cala a boca” – “Acho que ainda temos alguns quilômetros por fazer... isso a vinte por hora!” – “Vai tomar no cú! Acho que te mato no próximo quilômetro”.

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O sol está dando a cara, o calor também. “Tem ar nessa merda de carro?” – “Tem” – liguei pra ele. “Tem som aqui nessa merda?” – “Tem” – “Bota um som aí porra” – “Eu não!” – “O que?” – não queria ligar o rádio, o cd estava lá dentro e ao ligar acionaria a bomba, mas o idiota mandou ver. “Aonde que liga? Aqui? Aqui?” – e foi apertando os botões até que ligou a porra do Fresno. O som que escolhi pra morrer...

“Olha que sonzera” – disse o ladrão pra mim. “Você tá de brincadeira né?” – “Qual é! Bandido também chora mano” – “Porra! Achei que você iria mandar uma bala na minha cabeça por causa dessa merda e você me diz que gosta?”.

Não acreditei quando vi aquele verme cantar o lixo musical que entrava em meus tímpanos. Eu só queria morrer em paz, esse débil tinha que aparecer? A bomba está ativada, nada pode parar a contagem regressiva agora.

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“Não acredito!” – disse ele pra mim. Olhava no espelho retrovisor. “A mina no carro atrás ta pagando uma toca pro motora mano!” – olhei pra trás e vi a cabeça da mulher subir e descer. O trânsito parado e o casal mandando ver.

“Caralho, ela vai subir no pau do cara!” – “Vai! Vai safada... sobe mesmo” – “Cavalga bandida! Vai! Vai! – a mulher subiu e começou a trepar com o cara. “Que cavala gostosa” – gritava o maluco ao meu lado. Ele começou a buzinar e uivar. Eu não consegui segurar... dei risada depois de muito tempo!

“Ela vai virar pra nós!” – “Eu não acredito!” – olhei pro lado e ela mudou de posição. Agora de costas pro seu acompanhante e de frente pra nós.

Eu olhava na cara dura mesmo. Nos olhos daquela gostosa que cavalgava a poucos metros de mim. “Porra! Não consigo virar mano! O cinto ta apertado demais. Tô preso aqui cara! Tô preso aqui porra!” – escutei o que ele disse, mas nem dei bola.

Vi ela gozar. Aquilo foi um orgasmo pra mim também. Toda essa situação parece um sinal de que ainda existe vida em algumas pessoas. “Ei cara! Solta meu sinto antes que eu meta uma bala na sua cabeça!” – “Mete nada seu emo de merda!” – “O que?”.

Tirei a arma do idiota e dei uma porrada na cara dele. Me olhou com desespero! Dei uma gargalhada gigante, durou muito tempo. Confesso que foi como uma gozada rir daquele jeito. Por um momento percebi a felicidade, fiquei com um ciúme positivo daquele casal do carro atrás da gente.

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“O que eu estou fazendo aqui?” – disse ao olhar aquele estúpido emo de merda. Eu tinha de sair antes do carro explodir. Já estava a fim de curtir minha vida novamente. Então o primeiro passo desta vez não me parecia difícil. Olhei o ladrãozinho ao lado. Senti que podia fazer algo, mas ao mesmo tempo precisava manter firme minhas convicções.

“O que você quer fazer?” – perguntei a ele. “Pô cara... só quero seu carro pra ir numa boca mano. Ia deixar ele lá e ficar por lá mesmo, com os camaradas!” – “É longe daqui? Vai demorar quanto tempo até lá?” – “Com esse trânsito mais uma meia hora” – “É isso que você quer?” – “Sim” – “Estou dando seu direito de escolher!” – “É isso mesmo. Curtir um som aí. Tá tudo na boa mesmo!”.

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Aquilo me irritou. Saí do carro armado e com esperança de que ainda há revolução por fazer. O trânsito lento me fez olhar pra trás e ficar vendo o idiota chegar à boca. “Se o idiota chegar a tempo, vai levar uns filhos da puta com ele. Senão... vai chorar sozinho mesmo. Emo escroto” – falei com meus botões.

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Ainda avistava o carro quando foi tudo pelos ares. Tinha muito explosivo ali. O estrago era certo. Provavelmente foi a última gozada daquele casal.

Por isso hoje tenho certeza de que cada gozada tem que ser caprichada, pois pode ser a última.

4 comentários:

  1. Sempre pode ser a última vez e ainda pensamos que podemos ser eternos...!

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  2. pois é
    o negócio é gozar...
    hahahaha

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  3. Indiquei seu blog para receber o selo "beautiful blogger". Meio tosco, mas serve para disseminar idéias e blogs. Veja lá na minha página, Abraços!

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  4. ma ta loko...usando meu apelido de colegio em vao...tsc tsc tsc

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