quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Capítulo II

Helicóptero Apache, Lady Gaga, hacker 171 e jornalismo de verdade

As coisas crescem e tomam proporções inusitadas. Participamos de reuniões de negócios com grandes generais. São ‘aviões’ do mercado mundial que se voltam aos nossos pés. Ficamos com cara de otário, como se não soubéssemos o que está em jogo. Faz parte da situação se inserir no lixo.

Mas a explicação pra isso tem nome: corrosão. Como o ambiente hoje é sustentável e a moeda de troca virou o meio ambiente, também fazemos parte desse ecossistema itinerante.

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No dia 25 de julho deste ano o Guardian, jornal britânico, publicou o chamado “The Afghan War Logs”. São relatórios secretos de ações militares dos EUA entre janeiro de 2004 até dezembro de 2009. Isso vazou da agência de inteligência americana. São descrições de ataques inimigos e explosões em acostamentos de estradas. Atas de reuniões com políticos. Pra resumir: são documentos ultra secretos.

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A fonte do Guardian é um website especializado em publicar material não rastreável. O site chama-se Wikileaks.

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Uma situação interessante: Washington perdeu uma grande quantidade de material secreto. São arquivos de telegramas enviados pelas embaixadas dos EUA em todo o mundo. Está lá todo comércio de armas, encontros secretos e opiniões não censuradas de outros governos.

O fundador do Wikileaks – Julian Assange – foi pressionado por receber nos últimos meses uma enorme quantidade de material militar de fontes do departamento de investigação criminal do Pentágono. Os mesmos que o convidaram pra encontro em lugar neutro recentemente.

Washington pede ajuda pra descobrir onde foi o furo dos vazamentos de informações tão importantes. Julian não topou o encontro, claro.

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Quando li essa notícia, logo lembrei do meu amigo Jack. Então liguei pro “Mestre dos Ciberpunks”. A primeira impressão: ele está descontrolado e com muita raiva. Porém não queria me aprofundar no assunto pessoal de Jack, somente enviar esta matéria. Ele já atuou na Europa e uma vez aceitou um encontro deste tipo... depois disso nunca mais foi o mesmo.

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Há versões diferentes das histórias sobre o vazamento de informações sigilosas.

Primeira: o Pentágono tenta determinar a sequência de vazamentos – resultado foi trágico pra um jovem soldado.

Segunda: um raro trabalho de investigação jornalística do Guardian, do New York Times e do Der Spiegel (Alemanha), pra verificar os dados e divulgar globalmente esses relatos secretos do maior exército de guerra do mundo.

Guardian:

“O Pentágono movimentou-se muito devagar. Alguém trabalhava numa instalação de alta segurança dentro de uma base militar dos EUA no Iraque, onde começou a copiar material secreto. No dia 18 de fevereiro deste ano a Wikileaks postou um telegrama secreto da embaixada dos EUA em Reykjavik, dirigido a Washington. Se trata de protestos de políticos islandeses que se sentiam perseguidos por britânicos e holandeses. Motivo: colapso do banco Icesave. Resultado: empregados de Wikileaks na Islândia denunciaram que foram seguidos, depois dessa publicação”.

E pra quem acha que perseguições e conspirações são coisas de cinema!

Os americanos até então estavam sossegados, deixavam o pau pegar, até porque não havia nada ‘tão’ grave e eles ainda não haviam sumido com algum ‘traidor’ do american dream.

5 de abril de 2010:

“Assange organizou conferência de imprensa em Washington na qual exibiu um vídeo militar dos EUA em que se via um grupo de civis em Bagdá, inclusive dois jornalistas da Reuters, sendo atacados a tiros na rua, em 2007, por Helicópteros Apache: no video ouviam-se os soldados autoelogiando a própria boa pontaria, antes de destruir uma ambulância que lá estava para resgatar um homem ferido e que, como depois se viu, conduzia duas crianças no assento dianteiro”.

A partir daí as coisas começaram a mudar:

Dia 21 de maio um hacker californiano, Adrian Lamo, foi procurado online por um tal de Bradass87. “Oi... como vai? Sou analista de inteligência do exército, servindo Bagdá. Se você tivesse livre acesso a redes secretas sete dias por semana durante mais de oito meses, o que você faria?”.

Com acesso a duas redes secretas: Secret Internet Protocol Router Network – SIPRNET – por onde circulam documentos de inteligência militar e diplomática dos EUA classificados como confidenciais; e o Joint Worldwide Intelligence Communications Sytem que transporta material classificado como ultra secreto, durante cinco dias, Bradass87 muniu Lamo.

A fonte disse que conseguia descobrir “coisas inacreditáveis, muito feias (...) que deveriam ser de conhecimento público, em vez de mofarem num servidor escondido numa sala escura em Washington DC (...) negócios de bastidor da política, quase criminosos (...) a versão não – Relações Públicas de eventos e crises mundiais”.

Bradass87 foi além: “alguém que conheço intimamente” baixa, compacta e codifica todos esses dados e transmite pra alguém que identifica-se como Julian Assange.

Afirmou que vazara o material através de CDs com etiqueta de musicas da Lady Gaga. Fazia simulação que baixava música, mas armazenava os dados em seu laptop de alta segurança: “quero que as pessoas vejam a verdade” – Bradass87.

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- Hei Jack! Como vai?
- E aí cara, tudo mais ou menos...
- Como assim Jack?
- Algumas coisas estão acontecendo nessa porra de país que me deixam muito putos da cara meu irmão...
- Sério... mas você ainda não sabe da maior!
- Olha... não vem com papo escroto... estou meio puto hoje... aliás... faz algum tempo. Não sei não cara... acho que vou fazer umas merdas por aí!
- Olha só... será que estamos pensando mais ou menos nas mesmas coisas?
- Do que você está falando?
- Vou te passar um texto por e-mail... depois você me liga e diz o que achou. Pode ser Jack?
- Pode cara... manda aí...
- Beleza... até mais.
- Até.

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“É diplomacia às claras (…) é um Climategate de alcance global e incrivelmente profundo (…) é lindo e horrível (…). São dados públicos, têm de ser de domínio público. Nem acredito no que estou ‘abrindo’ para você” – Bradass87 abria informações de utilidade pública pra Lamo, mas esse entrou em contato com militares norte-americanos.

No dia 25 de maio se encontrou com investigadores numa loja Starbucks e deu uma de 171: entregou cópia impressa das mensagens que recebeu.

Dia 26 de maio, na Base Hammer (US Forward Operating Base Hammer), a cerca de 30 km de Bagdá, um analista de inteligência de 22 anos, de nome Bradley Manning, foi preso, transferido por barco pro Kwait e trancafiado numa prisão militar.

A notícia da prisão vazou pelo site Wired News... o editor é Kevin Poulsen, amigo de Lamo, que publicou algumas mensagens de Bradass87.

Agora o Pentágono declarou que está atrás de Assange.

Daniel Ellsberg, responsável pelo vazamento do “Pentagons Paper” da guerra do Vietnã, junto com outras duas fontes, disse que Assange correria risco físico, pois ele seria uma espécie de exemplo punitivo. Então Assange cancelou uma viagem prevista pra Las Vegas e desapareceu.

Finalmente o Guardian conseguiu conversar com Assange em Bruxelas. Na conversa com o meio de comunicação ele contou que a Wikileaks recebera vários milhões de arquivos, praticamente uma história não-contada da atividade do governo dos EUA em todo o mundo. Os dados estavam sendo editados pra publicação sem censura e de maneira mais compreensível.

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Intromissão:

Esta pausa é pra que comparemos a atuação da imprensa neste caso. Não precisa ser explicado, apenas prestem atenção na proposta do Guardian, além da integração de outros meios de comunicação. O objetivo? Informar.

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Assange não queria que importantes informações acabassem num nicho esquecido na web. Então concordou com a proposta de que uma equipe de repórteres especialistas do Guardian trabalhasse o material durante semanas, antes da publicação no Wikileaks.

Pra terem certeza que o material não seria confiscado pelas autoridades, o banco de dados também foi aberto pro New Youk Times e pra revista semanal alemã Der Spiegel. Dessa forma publicaram simultaneamente em três meios de comunicação de massa diferentes.

Assange deu acesso, num website secreto, ao Guardian. Com nome de usuário e senha inventados a partir do logotipo de um bar café, que havia num guardanapo.

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Acho justo reproduzir isto:

“Desde a divulgação do vídeo do Helicóptero Apache, houve algumas tentativas de baixo nível de infiltração na página de Wikileaks. Histórias online acusam Assange de gastar dinheiro da Wikileaks em hotéis caros (numa de nossas reuniões de acompanhamento em Estocolmo, ele dormiu no chão do escritório); de vender dados para a mídia de jornalões (nos contatos com o Guardian jamais se falou de dinheiro); ou de cobrar por entrevistas à grande mídia.

No início desse ano, Wikileaks publicou documento militar dos EUA que revelou um plano para ‘destruir o centro de gravidade’ de Wikileaks, atacando a credibilidade do website.

Enquanto isso, em local ignorado, mas em território do Kuwait, Manning foi acusado em tribunal militar de ter baixado de forma irregular e de ter divulgado informação, inclusive o telegrama sobre a Islândia e o vídeo em que se viam helicópteros Apache atirando sobre civis em Bagdá. Enfrentará corte marcial, sob ameaça, desde já de longa sentença de prisão.

Para Ellsberg, ‘Manning é meu mais novo herói’. Em mensagem pessoal e em chat online, Bradass87 perscrutou o futuro: “sabe deus o que acontecerá agora (…). Espero que aconteça discussão em todo o mundo, debates e reformas. Se não… estamos ferrados.”

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Final do e-mail pra Jack:

“Jack! Estas são as fontes, caso queira conferir:

Afghanistan war logs: Story behind biggest leak in intelligence history

Afeganistão: quadro sem retoques, 25/7/2010, Guardian, UK (editorial – traduzido no blog redecastorphoto)

Os dados, o mapa, o tutorial para navegar nos dados e um glossário (indispensável), início em http://www.guardian.co.uk , com links para outras páginas.

Fonte: The Guardian, Traduzido por Vila Vudu para o blog redecastorphoto.

Espero que ligue pra conversarmos a respeito. Você também é um herói!

Até mais...".

2 comentários:

  1. Que merda heim?

    "E pra quem acha que perseguições e conspirações são coisas de cinema"

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