quinta-feira, 16 de junho de 2011

O Professor (Capítulo I)

“A educação acompanha o cotidiano. Quando as mudanças culturais – isso eu englobo todos os desvios possíveis de uma sociedade – afetam de alguma forma as pessoas ao entrar e sair de qualquer tipo de sala de aula; já houve uma mudança cultural” – Professor Jurubeba.

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Saio de casa com a missão de conversar com uma dais mais respeitadas personalidades da cultura brasileira: Professor Jurubeba – Doutor em Sabor Amargo, fundiu uma ramificação teórica cotidiana, em que há infusão de seus derivados em Álcool de Cana – vertente que direciona e fundamenta praticamente toda Teoria do Cotidiano.

Em casa, antes de sair, abro um livro originariamente da Universidade Álcool de Cana, pois precisava ter embasamento teórico, numa conversa muito restrita e providencial: educação.

No dicionário popular – vamos assim dizer – a teoria que Professor Jurubeba difundiu abrange todos os territórios e classes, é recomendada no Doutorado em Chás, assim como fundamenta a questão da medicina alternativa e o universo religioso.

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“Quando pessoas acabam de alguma forma invadindo o espaço umas das outras através de um determinado período do tempo; capaz de – nesse período – gerar uma relação que ultrapassa o senso comum e invade a individualidade, pode-se dizer que influenciam além do básico e firmam uma relação que é levada para a vida” – Professor Jurubeba.

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Já na rua, meus passos não estão lineares. São muitos livros, me deixam tonto. Procurei Professor Jurubeba pra discutir sobre essa nova apostila do MEC – muito questionada e pouco explicada pela nossa grandiosa mídia. Preferi falar com essa sumidade, pois no Brasil a educação é levada ‘muito’ a sério.

Esses dias mesmo, num dos pronunciamentos do Ministro da Educação, Fernando Haddad, me chamou atenção o ataque do Ministro aos que questionam o novo material do MEC. As críticas a nova cartilha educacional brasileira, segundo Haddad, são elaboradas sem uma leitura completa e minuciosa; o que torna o debate infundado, com finalidade política e de cunho fascista.

Neste momento, quando vi na TV quem estava na discussão, percebi dois personagens quase que folclóricos na política paranaense: Roberto Requião e Álvaro Dias. Bom... pensei com meus botões... “Haddad está fodido mesmo, ao seu lado Requião... sinônimo de ‘respeito e educação’ para com as pessoas... acho que da sua boca já saiu mais merda do que qualquer cu diarréico é capaz de soltar. Sim... ele mesmo... aquele que comeu mamona e larapiou a ferramenta de trabalho de um jornalista. Também, na mesma pancada, lá estava Álvaro Dias, o mesmo que mandou descer a porrada num monte de professores em frente ao quartel general do seu governo. Sim... isso aconteceu no Paraná! Um governador que manda bater nos educadores agora discute educação... é mais ou menos o que Cabral fez no Rio de Janeiro com os Bombeiros e agora está tendo que apagar o incêndio”.

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“O fato da educação – de certa forma – não acompanhar a modernidade em relação à fala e a escrita, reflete o desrespeito para com a evolução de uma civilização. Se os novos nichos escrevem e falam com uma nova roupagem, cabe a educação conseguir adaptar a norma culta e lapidar aberrações gramaticais que são propositalmente – ou não – empregadas” – Professor Jurubeba.

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Cada fragmento que bebo derivado da obra Jurubebiana é como se uma dose cavalar de facadas fosse furar os defensores da norma culta. Agora... após agendar com o Professor Jurubeba, percebo que tenho uma função importante: transmitir às pessoas o que esse mestre da sabedoria – que vai do erudito ao popular – tem a dizer aos detentores da alma das futuras gerações.

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O problema nisso todo, por culpa de ingerir alguns fragmentos não tão didáticos derivados da obra deste estudioso, é que estou com ‘uma certa’ dificuldade em encontrar o local combinado.
Já não sei onde estou. Marquei num boteco, mas esta região – aparentemente – só tem umas bocadas. Esse lugar não é muito parecido com a qualidade dos manuscritos deste transgressor pedagogo – assim o considero.

Passo por um catador de papel, com seu cachorro. Depois avisto jovens a fumar crack embaixo de uma mangueira. Os pássaros não cantam por aqui, não dá saudade desses gorjeios – eles não existem. Um cachorro numa garagem com enormes grades late freneticamente pra mim. No céu... urubus miram o lixo que está na margem de um córrego que divide esta região.

- E aí? – diz um menino com moletão largo que passa por mim rapidamente.

Não respondo, apenas abaixo a cabeça. Se quisesse crack, maconha, cocaína e, por que não, oxi... certamente conseguiria. Lógico, ele não me ofereceria um livro.

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Estou cansado, quero desistir, mas avisto uma espécie de restaurante misturado a uma venda. Deve ser lá! Sim... é lá... o Professor Jurubeba havia dito que tinha um cabeleireiro ao lado do ‘bar’. Meu alvo deve estar certo, minha mira talvez não muito...

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Entro no estabelecimento... além do proprietário, apenas um fedor de suor, misturado ao cheiro de algumas linguiças penduradas num enorme gancho na parede.

- E aí... beleza? Marquei com um amigo meu aqui, estou um pouco atrasado... passou por aqui um...
- Quer falar com o Jurubeba? Ele está ali ao lado, no cabeleireiro.

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Saio do bar e vou ao lado. Olho pra dentro do salão, na cadeira está um senhor com a barba sendo cortada. Entro e não falo nada, pois essa profissão (cabeleireiro/barbeiro... sei lá) – apesar de não entender nada sobre o assunto – deve necessitar de concentração.

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- Você é o jornalista? – uma voz rouca e grave me assusta e sou pego de surpresa.
- Sou sim... – falo isso e já me dirijo aos materiais que deixei cair depois que fui pego desprevenido com a pergunta (tanto o cabeleireiro quanto o Jurubeba gargalham da minha falta de coordenação motora).
- Estou aparando minha barba... este aqui é Djon (e apontou pro cabeleireiro), normalmente ele é rápido, então você pode se sentar e aguardar um pouco não é?
- Claro!
- Então ótimo. Djon... pode continuar por favor!

A barba era podada. Observei também o cabelo raspado. Um chapéu no canto do salão, em cima de um banquinho – provavelmente dele (penso comigo). Sapato comum, calça jeans e uma camisa escura.

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“Carregamos tudo que somos. Podemos nos disfarçar, mas mesmo assim carregamos o que está enraizado. Não é aceitável que um construtor educacional carregue qualquer desrespeito a história de uma nova ordem social. Isso não é apenas evolução. É, acima de tudo, molde para sobreviver” – Professor Jurubeba.

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O cabeleireiro limpa seu cliente. O Professor paga. Depois vai até o canto do salão pega seu chapéu e vem em minha direção.

- Vamos! Estou interessado em saber o que você quer de mim...

“Interesse!” – tanto meu quanto dele...

2 comentários:

  1. tive a impressão que este capítulo terminou num interesse meio gay entre vocês, hein...!! hahahahaha... mano, tá irado o texto!!

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  2. é legal essas interpretações que um texto causa no interesse de cada um... né?.. rs...

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