sábado, 31 de dezembro de 2011

Ano novo e os cadernos

“Cadê meu caderno?” me pergunto numa busca em casa. Reviro tudo e é como se não encontrasse parte de mim! “Como não sei onde ele está? Como posso tê-lo perdido?”. Parece que é algo besta, mas deposito nessas folhas muito do que sou. “O que está acontecendo? O que a porra desse caderno fez comigo? Por que essa agonia?”. Após ‘autoquestionamentos’ surgem teorias conspiratórias: “será que alguém roubou meu caderno?”.

É engraçado, mesmo num espaço tão pequeno, o caos reina. E isso também é interessante, pois nessas buscas inesperadas é que surgem surpresas.

Ao revirar minhas coisas lá estava um caderno bem antigo, mais antigo do que o ‘sequestrado’. Eles carregam traços de uma época, retratos de fases. São obras de arte? Não sei. Também não sei porque esse caderno mais pré-histórico que o outro está aqui... mas o outro, que é o que eu realmente quero, não está!

A surpresa do caos é mais ou menos isso: você busca algo importante dentro de uma desorganização (no caso minhas coisas), aí eis que surge um caderno com mais de vinte anos, folhas amareladas (isso causa uma euforia momentânea que logo é ofuscada pelo foco: “eu preciso do outro caderno” - que deve ter mais de uma década).

O mergulho em bugigangas é algo que remete a esperança: “será que vou encontrar algo que não lembro! Uma foto! Sei lá...”, então acho várias coisas. Por exemplo: um microfone enfiado numa mala, esse que deve ter uns vinte anos também; e a mala! Que fica num canto sozinha e esquecida. Vou até ela e abro, lá estão alguns “livros?”! O que é pior! Dou de cara com um xérox! Hoje odeio xérox, mesmo esse sendo um fragmento do Bakunin. Porém é o que havia dito anteriormente, nessas buscas surgem surpresas de todos os tipos, que retratam momentos, neste caso uma época em que xerocava textos pra ler.

E a desorganização continua a me trazer surpresas. “Olha só! Outro dos meus cadernos! Esse deve ter uns quinzes anos... é o intermediário entre o de vinte anos e o de dez”.

Mas volto ao foco: meu caderno com ‘aqueles’ manuscritos! Não sei o motivo dessa dor no coração! Ela faz sentido, pois não lembro, por exemplo, como perdi um vinil duplo do The Clash e outro do Nirvana (Nevermind).

Vejo que não saberia responder como esse caderno sumiu...

Abro umas portas do armário... numa das caixas de sapato um monte de documento... também um k7 do Loco Live do Ramones... “esse eu não perco”. Quando vejo a fita, vem minha mãe na memória, pois ela recentemente jogou fora todos os meus k7s guardados em outro depósito caótico que se encontra na casa dela. Não vou esquecer essa fala: “mas eu testei as fitas e elas não tocavam!” – disse minha mãe, com um olhar de ternura! Bom... não precisei explicar que elas já não são pra tocar, mas apenas besteiras que levamos conosco pra lembrar ‘daqueles tempos’!

Como esse caderno é diferente, pego o celular e ligo: “mãe... amanhã pode dar uma olhada naquelas caixas que arrumamos esses tempos atrás com as minhas velharias? É que desconfio ter deixado um caderno aí nas minhas caixas (então descrevi pra ela como era o dito cujo).

Ou está lá ou realmente perdi uma parte da minha massa cerebral.

“Logo agora esse caderno tinha que sumir?”. No momento estou hipnotizado por ‘Under The Sun Every Day Comes & Goes’ do Black Sabbath Volume IV. Me remôo: “preciso pegar uma caneta e mandar ver!”. Não é a mesma coisa escrever direto pro computador. Olhar pras folhas em branco... começar a escrever... sei lá... pode passar ano após ano e novas tecnologias aparecerem por aí, mas esse prazer permanece.

Bom... agora mais calmo, reflito que é mais provável ter levado meu caderno pra minha caixa de velharias na casa dos meus pais, já que ele estava praticamente preenchido! Fica uma sensação de que, mesmo quase todo preenchido, falta algo!

É igual aos 365 dias (ano completo), eles passam e percebemos que algumas coisas não foram preenchidas.

No cotidiano somos parte de um todo, com tantas diferenças que necessitaríamos muitos cadernos pra receber o que dia a dia retrata.

O ano acaba e lembro os dizeres de um amigo: “você tem o costume de ficar guardando coisas?”. “Que tipo de coisa?”. “Sei lá... 2ª via de cartão... qualquer tipo de papel... essas coisas... contas... qualquer coisa?”. “Sim... tenho”. “Pois é... eu também faço isso”. “É... e daí?”. “Seus pais também fazem?”. “Fazem”. “Os meus também”. “Porra cara... onde você quer chegar com esse papo?”. “Eu quero dizer que quanto mais velho você fica... mais essas coisas tendem a piorar!”.

Por isso, não importa se é ano novo ou qualquer data, quem gosta de folhas em branco, continuará a abrir novas páginas e sentir o desafio de preencher todas. Pra alguns, isso é algo que vale a pena guardar.

Feliz caderno novo a todos! Um brinde as páginas impressas em branco. Elas aceitam "nossas qualidades e defeitos, que não são poucos, mas que poucos reconhecem”, como sempre diz meu pai ao brindar a virada de ano. Após isso os fogos estouram e enchemos nossos copos.

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