Certo de que
o cotidiano é uma estufa inchada em que só alguns podem transbordar, se percebe
que isto é um sinal de que algo justifica a ausência de perspectiva. O
horizonte pra alguns não é vislumbrado, então quando houver uma mudança, quando
a estufa for ultrapassada, uma parcela bem grande da realidade permanecerá
intacta. Alguns degraus não servem pra subir ou descer, eles servem pra deixar
uma porcentagem de boas almas paradas; umas sobem até os primeiros outras vão
mais alto, mas após isso... param onde querem que parem.
Porém existe
algo que está a se dilatar. Algumas formas, formais ou não, necessitam
ultrapassar uma barreira que divide o sistema: os que já estão fora da estufa e
os que sonham deixá-la pra trás – e a passos de tartaruga estruturam sua fuga.
Podem ser larvas que saem do casulo, podem ser lagartas que sobrevivem aos
agroquímicos. Simples insetos. Animais que foram trancados e que clamam por
liberdade.
É comum o
sistema atual abrir caminho pra liberdade. Hoje existem os emergentes. Eles
crescem com velocidade; também voracidade. É comum o sistema trocar de dono,
sendo que os antigos medalhões, mesmo perdendo a majestade, permanecerão fora
da estufa. Os que estão fora desça prisão, precisam que todos os outros se
mantenham firmes em seus postos.
Na estufa
existe a terra, que é adubada, que é cuidada, que é tratada, muitas vezes mal
tratada, esquecida e degradada. Na terra existe vida. E pra que isso tudo faça
sentido, toda estrutura depende da raiz, pois elas têm o poder de reprodução –
a luz que mantém a estufa em constante mutação: as mães do sistema.
Os
enraizados não irão a lugar algum. Eles precisam estar nos seus degraus, pregados
a estagnação. Alguns são felizes assim, outros não tem saída, muitos se negam,
existem os que sobem e descem constantemente e conseguem, mesmo sem esperança,
acreditar que podem sair da estufa ao subir degraus. Existe um pessoal fora
dessa estufa que financia ‘explosões’ em locais estratégicos, mudanças
friamente calculadas.
Sempre
deixam pras raízes o papel de ascensão difícil, deslumbrante... isso pra que
saibamos como nossa vida pode ficar ainda mais imóvel e monótona. Os que
ultrapassarão as barreiras serão os mesmos, com uma exceção aqui outra ali.
Enfim... são
os trabalhadores. Unidos ou não, incham as estufas, são as mães do sistema -
trabalham pra que alguns vivam o ‘surrealismo real’. O conto de fadas. O
american dream.
O sistema sabe que depende da terra e do que ela proporciona. Proporcionamos vida a outros,
para que vivam com a energia do nosso suor.
A estufa vai
explodir, alguns fugirão, outros morrerão, haverá os que mudarão. Há o bom,
assim como o desprezível, quem explora e quem valoriza. Podem mudar gerações,
porém as raízes estarão lá e os trabalhadores estarão lá. Essa margem nunca
some. A estrutura não irá sumir... outro período, outros enraizados... outras
ascensões...
No dia
trabalhador – um dia – haverá uma estufa em que todos os enraizados se abraçarão
com suas raízes, falarão uns pros outros: “cavem”, “cavem”, “façam túneis”, “caminhos
alternativos”... “não é só por cima, de degrau em degrau”... “não é desse
jeito! É do nosso jeito!”... “não é só dessa maneira que se pode experimentar o
lado ‘surreal da realidade’!”.
Quando uma
estufa fizer o que todas podem fazer... todas farão... e todos os trabalhadores
esquecerão que um dia eles comemoraram o dia do trabalhador sem perspectiva; ou a lutar por justiça, por
melhoras, por atenção, por água, por mais cuidado com o terra, por mais
igualdade... quando a estufa fizer seu caminho alternativo, o dia do
trabalhador não será mais uma mera data com shows e passeatas... lembranças
nostálgicas, com suas bandeiras e símbolos... será apenas mais um dia... um dia
como todos os outros... o dia dos que cientificaram o ‘incientificável’.
Não se
sabe... “é de baixo pra cima ou de cima pra baixo?”... mas será um dia sem
direção... com vários túneis subterrâneos, alternativas dilatadas pela gosto
que se tem de trabalhar... trabalho por trabalho... trabalho pra família...
trabalho pro amor... justiça por justiça... liberdade por liberdade... e não
trabalhar pra justiça de alguns... liberdade de alguns...
E são esses
alguns... esses que sabem... esses que não querem sair de onde estão... esses
são os que mais sabem... os que mais temem... e é por isso, pra ficar onde estão, que podam os bons pela raiz.
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